Conservadorismo e defesa da família

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Eu estagiava num hospital psiquiátrico, como parte obrigatória da graduação em psicologia clínica. Uma de minhas pacientes era uma jovem franzina, tímida, na casa dos vinte e poucos anos, que pouquíssimo falava sobre sua vida pregressa. Dado seu mutismo quando questionada sobre as emoções que se agitavam em seu universo interior, era difícil para mim obter informações confiáveis sobre os motivos que a haviam levado a ser internada e que alimentavam delírios religiosos frequentes.

Decidi então submetê-la ao teste de Rorschach para colher subsídios que pudessem determinar a melhor forma de abordar o caso. Esse teste, também chamado de “teste dos borrões de tinta”, consiste na apresentação, em uma sequência padrão, de 10 pranchas com manchas aleatórias, em branco e preto ou coloridas, e a solicitação de interpretação simbólica das figuras formadas – mais ou menos como acontece na brincadeira de identificar formatos nas nuvens em movimento no céu que se pareçam com pessoas, animais ou objetos.

A cada prancha apresentada, ela respondia com uma evidente mistura de curiosidade e medo. Depois de se deter por alguns minutos escaneando visualmente mas em silêncio os detalhes com total interesse, ela se retraía súbita e inexplicavelmente, dizendo: “Não estou vendo nada… só meu pai consegue ver”. O comportamento e a frase esdrúxulos se repetiram ao longo de todo o teste. Cada vez mais intrigada com aquela clara proibição interna de revelar conteúdos profundos, resolvi então reapresentar as 10 pranchas, uma a uma, perguntando: “O que seu pai vê aqui?”

Naquele instante, o psiquiatra que supervisionava o estágio entrou na sala e me lançou um olhar furioso. Como eu ousava alterar as regras do jogo irresponsavelmente, confundindo ainda mais a cabeça da garota? Fiz um intervalo, saí da sala e contei a ele o que estava acontecendo. Expliquei que, como o teste é projetivo, isto é, depende da projeção de percepções, emoções e sentimentos pré-existentes no psiquismo do paciente e que só são liberados quando há autorização da censura interna, eu precisava apostar que ela estaria driblando a própria censura ao assumir as percepções do pai como suas e trazendo à tona os elementos necessários para compreender as razões de sua falta de autonomia. Ele consentiu.

Minha estratégia foi um sucesso. Ela produziu um farto material para investigação, na maior parte das vezes com conteúdo de violência sexual. Entrou num frenesi verborrágico ao entrar em contato com uma prancha em que há uma mancha vermelha, com respingos espalhados sobre um fundo preto, que interpretou em meio a muita angústia como vagina sangrando, penetração violenta, sensação de fragmentação do corpo.

Comecei a escarafunchar o histórico familiar da paciente, na tentativa de descobrir as raízes dessas percepções. Sabia que o pai da garota era pastor de uma igreja fundamentalista cristã e era tido na comunidade como modelo de moralidade exemplar. No entanto, ninguém sabia informar como eram as relações dele no interior da família, com a esposa e com a filha.

Contrastando o material colhido no teste com esses fatos, foi-se revelando aos poucos que a garota não só era vítima aterrorizada de um pai autoritário, que se pretendia também possuidor de moralidade religiosa inatacável, mas havia sido estuprada seguidas vezes por ele e dele havia engravidado aos 14 anos. Forçada a abortar para não manchar a reputação do pai na comunidade, com o silêncio cúmplice da mãe, ela colapsou sob o fardo da opressão sexual e enlouqueceu.

Diagnosticada como esquizofrênica, ela passou a ter delírios religiosos, durante os quais se via como a Virgem Maria, a única pessoa isenta de pecado que poderia aceitar a missão de conceber o filho de Deus, representado pelo pai pastor. A morte forçada do filho também se encaixava à perfeição nesse contexto de autoridade divina inquestionável. Só ele sabia o que era melhor para ela e ela não podia duvidar das intenções e desígnios “sagrados” dele.

Sem o saber, eu havia encostado num fio desencapado em que entravam em curto o horror sexual real e a fantasia da pureza espiritual. Ela se refugiava nas alucinações místicas para escapar da loucura de sua realidade familiar. A partir dali, percorremos juntas toda uma Via Crucis de reinterpretações, avanços, quedas e retrocessos, até que ela se abrisse para a possibilidade de ajuda terapêutica. Esse caso me ajudou a entender não só o papel da cisão esquizofrênica na tentativa de restaurar a coesão do Eu mas também a aprofundar minha compreensão da violência contida na estrutura patriarcal de nossa sociedade.

Agora, com a campanha eleitoral de 2022 já em andamento, constato estarrecida que um grande número de candidatos insiste em apresentar-se ao público como “conservador”, repisando orgulhosamente o tema da “defesa da família” como trunfo eleitoral. Inevitavelmente, o caso dessa jovem esquizofrênica volta à minha cabeça e me força a perguntar: A qual família eles se referem, afinal? À família patriarcal, branca, de classe média/alta, heteronormativa? Àquela mesma família em cujo seio se instala a imensa maioria dos casos de pedofilia, estupro, abuso sexual, perversões e violência doméstica? Àquele tipo de família em que deve haver um abafamento compulsório de casos de homossexualidade e transgeneridade, mesmo que isso termine em suicídio de crianças e jovens?

Se é a esse tipo de família que precisamos voltar para reestruturar nossa sociedade, estamos de fato perdidos. Se ele fosse realmente tão poderoso para gerar harmonia social, convivência democrática e progresso, por que vivemos tempos tão sombrios de ódio e intolerância radical? Quando a esse modelo patriarcal se junta a noção de um Deus Pai todo-poderoso, guardião dos costumes para o alcance de elevação espiritual, não há como vislumbrar um futuro de mínima sanidade psíquica, de respeito às diferenças e de reafirmação da cidadania para o avanço das pautas das minorias.

O foco central da família patriarcal cristã sempre esteve na exigência de pastoreio rigoroso da sexualidade… feminina apenas, é bom lembrar. Segure suas cabras que meu bode vai sair para pastar. O duplo padrão de moralidade sexual do patriarcado continua a se vender como salvação da lavoura nacional ‘against all odds’ e, no atual contexto de direito à “liberdade de expressão” sem limites, deriva muitas vezes para um padrão de masculinidade tóxica que ainda seduz politicamente muitas cabeças jovens.

Claro que há famílias saudáveis, bem-estruturadas e funcionais em todos os estratos sociais, raciais e religiosos, mas ninguém se atreve a questionar de que forma esse modelo fantasiado de família de comercial de margarina se encaixa com a realidade da imensa maioria das famílias brasileiras em que as mulheres são as chefes, as provedoras e os modelos inspiracionais, em meio a muita carência, fome, desemprego e violência sexual/social.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

“Terapias de conversão”

José Horta Manzano

Talvez eu esteja enganado, mas acredito que, no Brasil, o Código Penal ainda não prevê artigo específico para o crime de forçar um indivíduo a mudar sua orientação sexual. Estou me referindo a supostos “terapeutas”, que agem geralmente no universo neopentecostal – mas não só.

Em primeira leitura, a Assembleia Nacional da França adotou nesta terça-feira 5 de outubro um projeto de lei que oficializa a proibição de pseudoterapias “de conversão”, esse tipo de prática que visa a impor a heterosexualidade a pessoas lésbicas, gays, bi e trans (LGBT).

Os parlamentares franceses aprovaram o texto por unanimidade, mostrando que a questão está acima de toda política partidária ou eleitoreira. Foi um desses raros momentos em que uma proposta conseguiu a façanha de unir todo o tabuleiro político, todos integralmente de acordo. É admirável.

Votado em primeira leitura na Assembleia, o texto está sendo agora encaminhado ao Senado. O Código Penal passará a contar com uma infração específica para o crime cometido por autodenominados “terapeutas” que pretendem “curar” os homossexuais e trazê-los de volta ao bom caminho. A pena para os contraventores será de dois anos de prisão, cumulados com multa 30 mil euros (cerca de 200 mil reais).

A classe política francesa se dá as mãos quando percebe alguma ameaça de o país deslizar para o terreno pantanoso em que política e crenças religiosas se misturam. Não pretendem deixar que o país se torne uma teocracia. Nem mesmo uma quase-teocracia, como há tantas pelo mundo.

No Brasil, nem o povo nem os políticos parecem se dar conta desse tremendo perigo. A existência de uma “bancada evangélica” no Parlamento não assusta ninguém. No entanto, deveria assustar. É um primeiro passo para a transformação de nossa República laica em Estado religioso.

Com o capitão que ocupa a Presidência, nossa mistura de política com crenças religiosas está sendo potencializada com fortes doses de ignorância. Neste momento, o risco de escorregarmos para uma semiteocracia está elevado ao quadrado.

Casamento para todos – 2

José Horta Manzano

Contei ontem a saga suíça do Casamento para Todos, uma maratona que levou décadas pra ver a linha de chegada. Em reação, uma antiga e fiel leitora fez um comentário e uma pergunta. Eis o que ela escreveu:


Coincidentemente, tenho pensado muito no como a proposta de conservadorismo de costumes de Bolsonaro pôde ser absorvida por boa parte da população, sendo que a liberalidade no comportamento público e na esfera sexual sempre nos caracterizou. Claro que a orientação religiosa pesou muito na aderência ao conceito de defesa da família para criticar os movimentos LGBT, mas acho que isso não explica tudo. Intuo que o ressentimento dos estratos populacionais mais carentes contra a elite endinheirada que se permite todo tipo de prazer desempenhe um papel importante para o nascimento desse fenômeno. O que você acha?


Pensei que o assunto há de interessar a muita gente. Nos tempos de antigamente, homossexual(*) era artigo raro. Pelo menos, era o que nos parecia, pois quase não se via nenhum. A lógica ensina que não surgiram todos com a virada do milênio, como se estivessem escondidos atrás do último mês da folhinha de 1999. Ao terminar o ano, despencaram todos.

Se temos a impressão de que hoje são muito mais numerosos, a responsável é a internet. É ela que tem trazido ao grande público conceitos que antes só eram discutidos em círculos pra lá de restritos. E o resultado tem sido surpreendente – uma boa surpresa, quero dizer. Como um novelo do qual se vai puxando o fio, uma realidade consistente e desconhecida vai surgindo. Desconhecida ou abafada, tanto faz.

De repente, cada um se dá conta de que tem um amigo homossexual, uma vizinha, um irmão, uma colega, um parente, um professor, e por aí vai. O bicho vai se tornando menos feio do que parecia. Quando se observa bem, são gente normal como o resto da humanidade. A imensa maioria não dá escândalo em público. Não conheço nenhum que tenha o costume de devorar criancinhas. Votam no Lula ou no Bolsonaro. Ou se abstêm. Ou gostariam de ver surgir um candidato de terceira via. Uns são ricos; outros, pobres. Uns são letrados; outros, de pouco estudo. Uns são cirurgiães; outros, operários. Há de tudo. No fundo, são gente normal, com as qualidades e os defeitos do resto da população.

Hoje em dia, dizer o que acabo de dizer não leva à cadeia nem ao fogo da Inquisição. Nem causa escândalo. Mas, que os mais novos acreditem: faz ainda pouco tempo, não era assim. Falar em homossexualidade era tabu. Há gente estacionada nos anos 1970, como nosso capitão, que não consegue captar essa mudança na sociedade. Ninguém me fará acreditar que, entre os adeptos de seitas evangélicas, não há nenhum homossexual. Estatisticamente, não é possível.

Os afagos que o presidente dirige aos evangélicos são mal dirigidos. A meu ver, não pode haver oposição entre orientação sexual (que ninguém escolhe) e adesão a uma religião (que cada um é livre de escolher). Não pode haver incompatibilidade entre uma coisa e outra.

Quanto à pergunta da leitora, respondo que não, não me parece que as propostas de um suposto “conservadorismo” bolsonariano tenham sido absorvidas por parte da população. O capitão é homofóbico. (Se é recalque ou desejo reprimido, deixo a conclusão para quem entende da alma humana.) Orientação sexual escapa às normas de toda convenção, justamente por não ser uma.

Ser conservador é ser contrário às modernidades convencionadas pela sociedade: divórcio (o presidente já se casou pelo menos três vezes), adesão a uma religião (nosso capitão já se fez batizar em diferentes “denominações”, além da Igreja). Enfim, ser conservador é levantar-se contra toda mudança em estatutos entre os quais se pode escolher. Orientação sexual não se escolhe, portanto não entra nos moldes apertados de um hipotético “conservadorismo” presidencial.

Será difícil provar, mas acredito que nenhum devoto aderiu ao desbaratino bolsonariano, a menos que o próprio devoto já não fosse desbaratinado antes. Se são agora mais visíveis, a razão é a câmara de eco da internet.

Tampouco acredito que classes menos favorecidas olhem para os abastados como quem aponta um dedo reprovador a “essa gente que escapou de Sodoma ou Gomorra”. Orientação sexual independe de classe social – perpassa toda a sociedade. Com exceção de algum desatinado, como o presidente, ninguém costuma atirar pedras no próprio telhado.

Para fechar, gostaria de dizer duas palavras sobre os desfiles do tipo Gay Pride, nome que foi estranhamente traduzido para “Orgulho Gay”. Orgulho de quê? Na minha opinião, essas manifestações, justamente por reforçar a caricatura que se quer eliminar (ou pelo menos suavizar), são contraproducentes. Levam ao resultado contrário do que se queria obter. Os menos informados acabam acreditando que todo homossexual anda seminu pela rua, com maquiagem pesada no rosto e plumas na cabeça. Rebolando e desmunhecando como vedete de teatro de revista (será que ainda existe teatro de revista?).

Gente com a mente estreita de Bolsonaro só vê isso. Por mim, usaria tempo e esforço pra vulgarizar essa realidade de maneira mais eficiente. Essas ações que sublinham diferenças (como política de cotas, linguagem politicamente correta, desfiles de “orgulho gay”) dão resultado oposto ao que se buscava, pois acabam enfatizando diferenças que se gostaria de aplainar. Por mim, eliminaria todos esses paetês e implementaria uma política de esclarecimento da população. Dá mais futuro.

(*) Meus leitores habituais sabem que não me enrosco nesse falar “politicamente correto”. Escapar da vulgaridade e da escrita rasteira é uma coisa; referir-se a “brasileiros e brasileiras” ou a “os e as homossexuais” é outra, bem diferente, que frisa o ridículo.

Meus leitores, que são todos gente fina, sabem que palavras não têm sexo: têm gênero gramatical. Gente e bicho têm sexo; palavras, não. É sempre bom evitar associar regras gramaticais à sexualidade humana. Não dá certo.

Neste texto – como em todos os outros – a expressão “os homossexuais” inclui eles e elas. Evidentemente.

Beijo gay

José Horta Manzano

Às vezes parece que nossas autoridades estão cada vez menos inteligentes. A gente fica com a impressão de que a ignorância é um mal contagioso. (Ou até hereditário, como se vê em determinadas famílias.)

Semana passada, teve lugar no Rio de Janeiro a Bienal do Livro. É evento importante, embora não se possa dizer que, num país que pouco lê, arrebate multidões. Em princípio, o que lá ocorresse não teria passado de nota de rodapé.

Eis senão quando, o prefeito da cidade toma decisão pouco inteligente: manda censurar um gibi que, a seus olhos, enaltecia a homossexualidade. É que a HQ mostrava a imagem de um beijo entre dois rapazes – que apareciam vestidos, frise-se.

Com a decisão, armou-se um fuzuê. A feira foi visitada por patrulhas ideológicas que caçavam livros a cassar. Acionada, a Justiça deu ordem e contraordem. Todos os jornais do país deram a notícia. Em sinal de protesto, a Folha de São Paulo estampou a imagem do beijo incriminado na primeira página, ocupando o espaço de alto a baixo, do cabeçalho ao rodapé. As redes sociais se assanharam comentando o assunto.

Como resultado, em vez de tirar de circulação o que lhe parecia impuro, o prefeito bobão provocou efeito contrário: o país inteiro ficou a par da querela e viu as imagens proibidas. As vendas do álbum incriminado hão de ter explodido.

Moral da história
Não se deve cutucar onça adormecida. Nem com vara curta, nem com vara longa.

Moral complementar
Não se deve votar em político ignorante. Isso vale pra todos, de vereador a presidente da República.

Lasca de bacalhau

José Horta Manzano

Sabe aquela lasca de bacalhau que se enfia entre dois dentes e não sai de jeito nenhum? Você chupa, cospe, bochecha, e nada. Discretamente, mete os dedos dentro da boca e tenta puxar fora. Nada. Nem de um lado, nem de outro.

Vai perturbar durante toda a festa, a tal ponto que você não acha mais graça em nada. Você não vê a hora de chegar em casa e finalmente passar aquele abençoado fio dental. Ah, que alívio!

Tenho lido sobre um tal de Feliciano, deputado federal cujo nome não combina com a infelicidade que espalha em redor. Me fez pensar no fiapo de bacalhau. Só que este é do tipo que nem fio dental resolve. Onde ele se enfia, não há santo que o faça sair. Nem Santa Felicidade. (Não nos esqueçamos que, segundo a hagiografia, Santa Felicidade era irmã de Santa Perpétua. Ai, ai, ai.)

Li também que é dono (sic) de uma Igreja. Em virtude disso, autodenomina-se pastor. Como o dono é ele, não espanta se chegar amanhã a bispo ou até mesmo a papa. De sua própria confraria, entende-se. Outros já fizeram isso. O povo, crédulo, não liga.

O personagem é dado a um discursozinho assaz depreciativo para com os afrodescendentes, como se usa dizer hoje. Considera que pertencem todos a uma raça amaldiçoada. É esquisito, dado que várias fontes afirmam que o próprio deputado, filho de mãe mulata, também se enquadra na categoria.

Não pára por aí. Nosso deputado-pastor também tem fixação na sexualidade. Como em outros espíritos radicais, constata-se também nesse senhor uma obsessão por assuntos ligados ao sexo. Entre iluminados, gurus, ditadores e outros poderosos, não é incomum.

Crédito: SandroCastelli. com

Crédito: SandroCastelli. com

Dizem que Mao, aquele que mandou na China durante decênios, tinha libido exacerbada. Mesmo estando já com certa idade, suas pulsões continuavam vívidas. Só se acalmavam ― até o dia seguinte ― quando lhe traziam uma jovem voluntária para passarem juntos a noite.

Eclesiásticos pedófilos, gurus libidinosos, milionários sadomasoquistas já não espantam mais ninguém. Nosso pastor-deputado é obsedado pela homossexualidade, que diz detestar e combater. Freud certamente explicaria.

Além das disfunções já descritas, o homem é dado a carteiradas. Outro dia, em plena Câmara Federal, mandou prender um cidadão que manifestamente não enxergava o mundo pelos mesmos óculos do pregador.

Apesar de suas excelsas qualidades ― ou, quem sabe, exatamente por causa delas ―, seus pares o elegeram para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. O povo caiu matando. «Tirem esse homem daí!» foi a invectiva mais gentil que se ouviu pelos lados de Brasília.

Agora, cá entre nós, quem errou? O pastor-deputado? Não me parece. Ele não foi eleito deputado na semana passada. Seus pares, principalmente aqueles que votaram nele, estão a par de sua linha de pensamento. Se o escolheram, foi em conhecimento de causa.

Portanto, errados estão os deputados que lhe deram seu voto. E mais errados ainda estão os eleitores que deram seu voto a esses deputados irresponsáveis.

Vamos, brava gente! Um pouco mais de discernimento na hora de apertar aqueles botões da urna não há de fazer mal ao Brasil.