Dá um desânimo

José Horta Manzano

Doutora Marina Silva penitenciou-se por ter recomendado a seu eleitorado votar em Aécio Neves no segundo turno das últimas eleições presidenciais. Convenhamos, é o mínimo que poderia fazer. Disse ainda que, fosse hoje, «com certeza não o apoiaria». Ainda bem.

Declarou ainda que a eleição de 2014 foi fraudada pelo uso de fundos oriundos do esquema de corrupção instalado na Petrobrás. A doutora levou quatro anos pra descobrir o que já estamos carecas de saber. É que Madame, tal qual um cometa, só reaparece em datas fixas. A cada quatro anos, ressuscita, profere platitudes e depois se eclipsa até a eleição seguinte.

Deixando de lado os truísmos da eterna candidata, é forçoso constatar que a eleição de 2014 foi realmente fraudada. Marina Silva foi massacrada pela propaganda enganosa e desleal espetada pelos marqueteiros Santana & esposa. Doutor Aécio era uma fraude personificada ‒ embora a maioria dos eleitores ignorasse. E doutora Dilma era tão ruim que não aguentou o tranco e acabou defenestrada com apoio de parlamentares da própria base.

Lula da Silva está na cadeia, condenado. Por mais que seus defensores esperneiem, por mais que o marketing tosco do Partido dos Trabalhadores organize acampamentos e queima de pneus, por mais que ministros do STF tentem livrá-lo, os crimes foram desmascarados e o ex-presidente foi por isso condenado. Ainda que escape ao cárcere, sua biografia está, para todo o sempre, marcada com o carimbo da infâmia.

Aécio, Serra, Alckmin estão enrolados com a Justiça. Um em maior grau, outro em menor, mas nenhum escapa. No PT, não sobrou um, meu irmão. Nos partidos tradicionais ‒ se é que se os pode chamar assim ‒, tampouco sobraram candidatos viáveis.

Nossa escolha será entre o câncer e a aids. Poderemos eleger um magistrado colérico, destemperado, abespinhadiço e imprevisível de quem não se conhecem as ideias. Poderemos ainda dar o voto a um deputado profissional que, apesar do permanente sorriso, traz na canastra um punhado de ideias arrevezadas, chucras, no limite da decência. E vamos parando por aí, que o resto é o resto.

Que falta faz um candidado honesto, equilibrado e bem-intencionado. Dá um desânimo, não dá?

Tutti buona gente

José Horta Manzano

Carnaval não tem o mesmo significado para todos. Há quem veja nestes dias a festa maior, o sinal aberto para a folia e para a evacuação do estresse acumulado desde o ano passado. Há quem opte por dar uma parada e viajar pelo interior de si mesmo, deambulando numa estação de águas ou até meditando num retiro espiritual.

Há ainda uma certa classe de indivíduos que tem outros problemas pela cabeça. Esses não têm tempo para sair no cordão nem disposição para a introspecção. Aproveitam estes dias para afinar estratégias. Falo de certos figurões, em especial aqueles que, de um modo ou de outro, têm contas penduradas com a justiça.

Como se sabe, em nossa terra os eleitos pelo povo têm acesso a uma enxurrada de isenções, imunidades, distinções, regalias, garantias e privilégios. Para os que se envolveram ‒ ou pretendem se envolver ‒ com negociatas nebulosas, garantir direito a foro especial por prerrogativa de função é o objetivo maior. Procuram alcançar esse estatuto com o afinco com que os templários buscavam o Santo Graal.

Do jeito que vão as coisas, a eleição deste ano promete disputas acirradas. O número de candidatos deve situar-se bem acima da média histórica. Há postulantes de baciada. Aos que se apresentam pela primeira vez, somam-se os antigos que, não querendo de jeito nenhum largar o osso, buscam reeleger-se. Há ainda os que atualmente não têm mandato mas que, temerosos de que seus trambiques possam vir à tona, procuram assegurar acesso ao Supremo, tribunal notoriamente lento, acolhedor e camarada.

Entre os que dão sinais de que se candidatarão ‒ numa boa ou arrombando a porta, se necessário ‒ estão figuras de valioso quilate e elevada estatura moral. Aqui está um apanhado da seleta confraria de candidatos a representar o povo brasileiro:

    • Lula da Silva quer porque quer candidatar-se à presidência da República. Não deixa por menos.
    • Dilma Rousseff já está decidida a disputar uma vaga no Senado. Será representante dos mineiros.
    • Eike Batista cogita candidatar-se ao Senado pelo Estado do Rio de Janeiro.
    • Collor de Mello já declarou com todas as letras que pleiteia a presidência da República.

     

    Que penca de gente fina, né não?

    Estamos em fevereiro. O prazo de desincompatibilização. (Que palavra horrorosa, com duas negações. Por que não dizer simplesmente «compatibilização», «desbloqueio» ou «liberação»?) O prazo de desincompatibilização, dizia eu, vence daqui a dois meses. Daqui até lá, uma batelada de ministros & assemelhados ainda vão se declarar. O eleitor terá abundantes possibilidades de escolha em outubro. Valei-nos, São Benedito!

Operação desmonte

José Horta Manzano

Na Europa, assim como em outros países do Hemisfério Norte, férias escolares de verão são concedidas em julho e agosto. Quem tem criança pequena dá preferência a esses meses para espichar as pernas e tomar uma cor. Com poucas exceções, quem não tem criança se deixa contaminar e acaba fazendo a mesma coisa. O resultado é que estradas, autoestradas, ferrovias, aeroportos ficam seriamente congestionados nesta época.

Na França, tradicionalmente, o governo aproveita o torpor do verão, quando todos estão mais preocupados com praia e pastis(*), para implementar medidas antipáticas. Aumento de tarifas, proibição disto ou daquilo, «revalorização» de alíquotas de imposto, reajuste de pedágio e outras maldades entram em vigor neste período. Passam com maior facilidade.

Praia do Cap d’Ail, Côte d’Azur, França

No Brasil, não consta que o fenômeno seja tão marcado. Talvez pelo habitual alienamento da população, despejam-se baldes de ruindade o tempo todo. E tudo bem. No entanto, especificamente neste julho, que é mês de férias no Brasil também, parece que o movimento se tem acelerado. Não sei se o distinto leitor tem ressentido a mesma coisa. Tenho a forte impressão de que os do andar de cima, acuados há mais de dois anos pela Lava a Jato & congêneres, resolveram dar as mãos e agir no intuito de salvar a pele.

Em horas assim, vale tudo. O inimigo de ontem vira amigo de infância. Encontra-se, ora vejam só!, qualidades no adversário da semana passada. Partidos antagônicos se unem visando ao «bem comum». Criminosos condenados a dezenas de anos de privação de liberdade são mandados para casa. Um ministro do STF desdiz o que outro ministro do mesmo STF havia afirmado na véspera. Partidos da dita “oposição” se aliam a partidos da dita “situação”. O contingente de procuradores encarregados da Lava a Jato é amputado de metade dos membros.

Pastis, aperitivo com gosto de férias

Fica cada dia mais clara a operação de desmonte das investigações. E pensar que todo esse pessoal que lá está foi eleito pelo voto popular… É de se lamentar, mas fica a incômoda sensação de cansaço popular, de desânimo e de apatia. Não espantaria se congressistas hoje execrados fossem tranquilamente reeleitos em 2018. Do jeito que as coisas vão, os parlamentares da próxima legislatura perigam ser cópia carbono dos atuais. Se não forem os próprios.

(*) Pastis é aperitivo anisado típico do sul da França. Para os franceses ‒ que vivem, em maioria, no populoso norte do país ‒, pastis, perfume de lavanda e chiado de cigarra são indissociáveis do bom tempo de férias e de dolce far niente.

Pesquisa eleitoral

José Horta Manzano

O Instituto Datafolha publicou estes dias o resultado de recente sondagem das intenções de voto para as eleições presidenciais previstas para 2018. Foi proposto aos entrevistados que escolhessem um nome entre os diferentes candidatos que se haviam apresentado às eleições de 2014.

Apesar dos escândalos trazidos à tona pela Operação Lava a Jato, nosso guia ainda aparece entre os bem cotados. É resultado surpreendente. Quem vem acompanhando o descalabro revelado de um ano para cá tem direito a ficar boquiaberto, sem entender o que possa estar se passando na cabeça dos eleitores.

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

No entanto, um exame mais acurado pode explicar a incongruência. O distinto leitor, que está certamente indignado e enojado com a ladroagem e com a rapina, há de imaginar que todos os conterrâneos estejam a par dos acontecimentos. Pois não é assim. Nem todos os brasileiros estão antenados.

A prova é que 1/3 dos pesquisados (um em cada três!) sequer sabe quem é o presidente da República em exercício. A pergunta não foi feita, mas não é impossível que muitos cidadãos acreditem que o Lula ainda ocupa o posto máximo.

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

Por mais que procuremos disfarçar e fazer de conta que não enxergamos, a realidade, teimosa, deixa clara a perniciosa estratificação ‒ econômica, social e cultural ‒ da população de nosso país. Um terço dos brasileiros não faz a menor ideia do que está ocorrendo. E por que é assim?

A resposta me parece evidente: porque sempre foi, ué! A preocupação com o social, declarada e louvada por nossos mandatários, embora prometesse mundos e fundos, não mostrou os efeitos apregoados.

Variados programas de inserção, bolsas diversas, estabelecimento de quotas para desvalidos, auxílio financeiro a famílias, acesso à casa própria, intercâmbio universitário, facilitação de crédito & companhia estão longe de ter sido eficientes. Se trouxeram geladeira e automóvel a numerosos cidadãos, não lhes incutiram o sentimento de pertencimento à nação. De cada três brasileiros, pelo menos um vive fora da realidade. Não estão nem aí ou, pior, não estão em condições de «estar aí».

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

Pesquisa DataFolha, jul° 2016

Más línguas diriam que o objetivo dos que nos governaram por 13 anos era exatamente esse: manter o povo, de propósito, na ignorância. Recuso-me a acreditar que fosse essa a intenção do lulopetismo. O resultado, desgraçadamente, é esse. Está aí a pesquisa a escancarar o alheamento de parte importante da população.

Que caminho seguir para integrar todos no mundo pensante? Não tenho a resposta. Nem que a tivesse, não teria meios de agir sozinho. A pergunta vai continuar no ar à espera do dia em que mandatários bem-intencionados confiem a especialistas a missão de debruçar-se sobre o problema e encontrar solução.

Falam de nós – 8

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Maracana hotelNo Maracanã
«Une nuit à Maracana»Uma noite no Maracanã. O site francês de informação 20 Minutes traz notícia de concurso realizado por uma agência de turismo. O prêmio é uma noite no Estádio do Maracanã. Uma suite de luxo será instalada para abrigar o vencedor.

As Olimpíadas vêm aí
«Violencia en Brasil: peligrosa antesala para los Juegos Olímpicos 2016»Violência no Brasil: perigosa antessala para as Olimpíadas de 2016. Foi manchete do portal informativo chileno T13. Mostra a preocupação que aflige atletas e dirigentes do mundo inteiro à vista da criminalidade enraizada em nosso País.

China imperadorBrasil colônia
«Chinese ‘economic colonisation’ of Brazil continues»Continua a ‘colonização econômica’ chinesa do Brasil. É com esse título que o jornal britânico The Independent relata o investimento de 50 bilhões de dólares que a China prevê fazer dentro em breve em nosso País.

Criança 1Fertilidade
«Brasilianische Mutter bekommt mit 51 Jahren ihr 21. Kind»Mãe brasileira dá à luz, com 51 anos, seu 21° filho. Manchete do portal alemão RP-Online sobre a extraordinária notícia da mulher sergipana que põe no mundo mais um brasileirinho.

Dilma 9Rivalidade
«Rousseff’s main ally eyes Brazil’s presidency in 2018»O principal aliado de Dilma de olho na presidência do Brasil em 2018. Com esse título, o portal noticioso Arab News, da Arábia Saudita, informa que o PMDB já não disfarça suas pretensões ao trono presidencial.

Criminalidade
«Despite firearm restrictions, gun violence kills five people every hour in Brazil»Apesar de restrição de armas de fogo, violência armada mata cinco pessoas por hora no Brasil. O portal Vice News relata o aumento alarmante da criminalidade em terras de Pindorama.

Crédito: Kopelnitsky, EUA

Crédito: Kopelnitsky, EUA

Imodéstia
«Conmigo y com Neymar juntos, Brasil habría ganado el Mundial»Comigo e Neymar juntos, o Brasil teria ganhado a Copa. É com essa tirada pouco modesta que Pep Guardiola se manifestou estes dias. Guardiola, que já foi técnico do Barça, comanda atualmente o Bayern Munique. Saiu no portal espanhol Mundo Deportivo.

Onibus 5Assalto por engano
«Asaltan bus que transportaba a hinchas de Guaraní en Brasil»No Brasil, assaltado ônibus que levava torcedores do Guarani. O jornal paraguaio Ultima Hora dá assim a notícia de assalto sofrido por torcedores nas cercanias de Maringá (PR). Os bandidos, imaginando que o coletivo trazia sacoleiros, estavam mais era de olho na mercadoria.