José Horta Manzano
Desde que o mundo é mundo, os que têm acesso a uma posição de mando não costumam desgostar da situação. Alguns poucos, mais desprendidos, não oferecem grande resistência quando soa a hora de descer do trono. A maioria, no entanto, não desencarna tão facilmente.
Jogadas limpas, jogadas sujas, jogadas de bastidores, tudo vale para se segurar. «É dando que se recebe», máxima reservada até faz pouco tempo aos pios frades franciscanos, vem-se impondo como princípio basilar e desabrido da política nacional.
Ainda recentemente nossa presidente deixou de lado todo pudor para afirmar-se capaz de «fazer o diabo» a fim de reeleger-se. Que ninguém duvide. Discursos antecipados, casuísmos, dossiês, tudo vale. Ganhará a guerra aquele que tiver maior habilidade na hora de puxar o tapete e derrubar, assim, o adversário.
Tudo isso faz parte da natureza humana, não é invenção recente. O que tem mudado de uns dez anos para cá não é o fundo, mas a forma. As lutas que, dado seu caráter nebuloso, se chamavam justamente intestinas tornaram-se verdadeiras batalhas campais. Tudo é feito às claras, à vista de todos, desavergonhadamente. Já que ninguém parece se ofuscar, por que esconder, não é mesmo? E alguns ainda ousam chamar esse esparramo de transparência…

O senador Aécio Neves, dado como candidato à candidatura à presidência da República, acaba de lançar uma ideia requentada. Propõe a extinção da possibilidade de reeleição de ocupantes de cargos executivos. Para compensar, o mandato atual de 4 anos seria espichado. Presidente, governadores e prefeitos passariam a ser eleitos para um período de 5 anos.
Não é propriamente uma ideia revolucionária. O instituto da reeleição é recente no Brasil. Cento e vinte anos atrás, os pais da República, num rasgo de visão, já tinham intuído o que se confirmaria mais de um século depois. Temiam que os futuros eleitos se valessem, para reeleger-se, do poder que lhes conferia a máquina pública. Daí terem optado por não permitir a reeleição.
Ressuscitar a visão antiga não me parece, em princípio, má ideia. Estes últimos anos, nosso País tem pendido perigosamente para esquemas populistas. Não nos ajuda, tampouco, a proximidade geográfica e ideológica com nações sul-americanas cujos mandachuvas não pedem outra coisa senão agarrar-se indefinidamente a seus cargos.
A experiência destes últimos tempos tende a provar que o tempo de permanência no governo não melhora a qualidade de seus titulares. O bom-senso manda trocar de chefe com maior frequência. No entanto, visto o balcão de negócios em que se transformou o Congresso, a ideia do senador não tem lá muita chance de prosperar. É pena.
Não acredito que a proibição da reeleição resolvesse, como por encanto, todos os problemas nacionais. Mas já seria um bom começo. Pelo menos, presidentes estariam dispensados de «fazer o diabo» para garantir permanência no cargo.