Pedaladas

José Horta Manzano

Este blogueiro é do tempo em que o termo pedalada lembrava passeio de bicicleta. Pra girar as rodas, a gente dava pedaladas na Monark ou na Caloi. Hoje em dia, pedalada não se dá, se faz. E o significado mudou.

Lula boné 1Nestes tempos estranhos, o sentido da palavra tem evoluído. Não evoca mais as rodas da magrelinha. A imagem que vem é de barbeiragens financeiras cometidas conscientemente por dona Dilma. Parece que é crime. Se for, mais dia menos dia a presidente terá de responder por ele. Quem viver, verá.

Dirigindo-se a plateia amestrada, um Lula que, apesar de viver vida abastada, continua se esforçando para parecer igual aos excluídos, enfiou mais uma vez no cocuruto o boné do MST. Expedientes malandros como esse eram conhecidos já nos tempos do velho Jânio Quadros, mas ainda tem gente que se deixa embalar.

Em 2003, ao fazer o gesto pela primeira vez, nosso guia desencadeou um bafafá. Cidadãos mais conscientes consideraram a atitude imprópria para presidente de país sério. De lá pra cá, o figurão perpetrou impropriedades bem maiores que aquela. Tantas fez que hoje os brasileiros, blasés, não prestam mais atenção.

Estes últimos meses, com o desenrolar veloz e imprevisível dos acontecimentos, o Lula anda mais desnorteado que cego em tiroteio. Perdeu os anéis, quis salvar os dedos. Perdeu os dedos, está tentando salvar as mãos. Seu horizonte anda um bocado nevoento para quem já sonhou abocanhar um Nobel da Paz para, em seguida, terminar presidente do Banco Mundial.

Bicicleta 8Na cerimônia de ontem, sem muito que dizer, o demiurgo aventurou-se por terreno minado. Falou das «pedaladas» que dona Dilma «fez». Contou não ter lido o processo, fato que não surpreendeu ninguém. Assim mesmo, garantiu que a afilhada cometeu esses «malfeitos» para poder continuar pagando programas de distribuição de dinheiro que ele mesmo havia instituído.

Ora, analisemos. Nos tempos em que o Lula era presidente, não foi preciso «pedalar» pra distribuir aos mais necessitados. A partir do momento em que o cumprimento de programas passou a exigir que leis fiscais fossem infringidas, das duas uma: que se mudassem as leis ou que se extinguissem os programas. Nenhum dos dois foi feito.

Blabla 2Qual é o resumo da opereta? Duas considerações se impõem. A primeira é a confissão – involuntária mas evidente – de que a pupila realmente «fez» pedaladas, ou seja, infringiu a lei.

A segunda consideração remete a meu post de ontem – A lei? Ora, a lei… A fala do Lula reforça a ideia de que leis e regras valem para os outros, não para si mesmo. O demiurgo pode falar mais que outros, se agitar mais que outros, ousar mais que outros, ser mais vaidoso que outros, ser menos culto que outros, ser mais ingênuo que outros mas, no fundo… é um político do mesmo padrão que todos os outros. A lei? Ora, a lei…