David Ben Gurion, figura central na história do Estado de Israel e reconhecido como pai-fundador do país, visitou o Brasil em 1963. A viagem, que representou uma importante oportunidade para estreitar laços entre os dois países, passou a ser marcada por um episódio curioso, que até hoje é lembrado em relatos históricos sobre o líder israelense.
Ao voltar para Israel, Ben Gurion, contemplando, pela janela do avião, a vasta e verdejante paisagem brasileira, teria se virado para a esposa e, com semblante pensativo, teria comentado: “Não dá para entender como é possível que um país com tanta água tenha tantos problemas!”. Esse comentário, aparentemente simples, convida a uma reflexão profunda sobre as disparidades entre a abundância natural e os desafios econômicos e sociais que o Brasil enfrentava à época.
A frase de Ben Gurion pode ser lida como metáfora sobre a complexa relação entre os recursos naturais e o desenvolvimento de um país. O Brasil, com suas vastas reservas hídricas — que incluem a Amazônia e as serras brasileiras, com rios que encerram o maior potencial hídrico do planeta — revelam cobiçado tesouro em recursos naturais.
No entanto, ao longo das décadas, nosso país tem-se mostrado incapaz de resolver o desafio da distribuição iníqua da riqueza, a maior barreira ao pleno desenvolvimento da sociedade. A gestão aleatória dos recursos naturais e as distorções na representação parlamentar completam o círculo de correntes que agrilhoam o país e não lhe permitem deixar para trás uma estrutura social que vem dos tempos coloniais.
Em 1963, o Brasil atravessava um período conturbado de instabilidade política, que, aliás, culminaria no golpe militar do ano seguinte. A observação de Ben Gurion, ao admirar as vastas florestas e rios, terá sido uma reflexão sobre como a abundância de recursos naturais não garante, por si só, a prosperidade de um país. A forma como esses recursos são geridos e distribuídos é que é o fator fundamental para o desenvolvimento.
O comentário também levanta questões ambientais, hoje mais relevantes que sessenta anos atrás. De fato, vivemos numa época em que a humanidade aos poucos desperta para o fato de que a natureza depende das pessoas assim como as pessoas dependem dela. É uma via de mão dupla, que assume importância primordial num país como o nosso, cujo imenso território abriga diversidade de frágeis ecossistemas.
O Brasil, com sua sortida biodiversidade e seus vastos reservatórios de água doce, tem papel crucial no equilíbrio ecológico global. No entanto, a exploração desses recursos, muitas vezes sem a devida consideração ambiental, tem gerado problemas sérios de desmatamento, poluição e mudanças climáticas.
A observação de Ben Gurion, feita há mais de seis décadas, permanece relevante até hoje, oferecendo uma reflexão sobre a complexa interdependência entre recursos naturais, gestão política e o bem-estar de uma nação.
O Brasil, apesar de ser um dos países com maior potencial natural do planeta, continua enfrentando desafios significativos para transformar essa abundância em qualidade de vida para todos os seus cidadãos.





