Nos tempos em que escola ensinava e aluno aprendia, aulas começavam pontualmente. Se um aluno chegasse atrasado, tinha de bater à porta e pedir licença ao professor. O mais das vezes, o mestre consentia em deixar entrar o aluno. Logo em seguida, pedia justificativa para o atraso.
«Desculpa, professora, eu cheguei atrasado por causo que…»
Nesse ponto, o discurso era interrompido de chofre.
«Não se diz ‘por causo que’, menino! O certo é ‘por causa de’».
Meu distinto leitor já há de ter percebido que, nos dias atuais, esse diálogo está fora de moda . De fato, a expressão ‘por causa de’, em via de extinção, foi substituída pela estranha ‘por conta de’.
Não sei quem terá sido o primeiro a abandonar a locução tradicional. Suponho que o modismo tenha logo sido integrado às novelas, que são o meio mais rápido e eficaz de esparramar cacoetes (não só linguísticos) no Brasil.
Na língua falada, é difícil escapar a modismos. Dado que a rapidez da elocução não deixa tempo para refletir, as palavras se encadeiam num semiautomatismo. Na língua escrita, a história é outra. O ritmo mais lento da redação permite ao escriba ser mais cuidadoso na escolha de vocábulos e expressões.
No entanto, mesmo na mídia escrita, ‘por conta de’ tem suplantado a locução tradicional por ampla margem. É surpreendente que locutores e articulistas não se preocupem em apurar o vocabulário, que é, no fundo, seu instrumento de trabalho.
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Casos em que ‘por conta de’ se encaixa perfeitamente:
Aos trinta anos, ainda vive por conta dos pais.
Patrão, quero pedir um vale por conta do salário do mês.
Ela assa os bolos. A venda fica por conta do marido.
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Expressões que, conforme o contexto, podem substituir ‘por causa de’ e evitar o uso do modismo ‘por conta de’:
em virtude de
por efeito de
visto que
por obra de
uma vez que
graças a
dado que
em consequência de
devido a
já que
em razão de
porque
por motivo de
pois que
por ação de
por mérito de
em função de
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Viram como língua é rica? Falar bem custa a mesma coisa e rende mais.











