O despreparado e seu filho

José Horta Manzano

O despreparado
Dia sim, outro também, alguém diz que Bolsonaro é mau presidente por ser despreparado para ocupar o cargo. Bobagem. Despreparados, estamos todos. Só os que já exerceram a função estão preparados exercê-la de novo. Ainda não inventaram escola para presidente. A prática vem com o exercício do cargo.

O problema do capitão não é estar despreparado – é ser incapaz. Com ele, não tem jeito: não aprenderá nunca, porque é empacado. Falta-lhe o mínimo de inteligência. Deve até estar achando que é excelente presidente, visto não ter discernimento para entender que não o é. É caso perdido.

Chamada do Estadão – 8 março 2021

Seu filho
O brasileiro endinheirado já se deu conta de que comprar imóvel no país – seja pra investir ou pra morar – é uma furada. Apesar da pandemia (ou talvez por causa dela), tem aumentado a busca por imóveis no estrangeiro. Certamente por razões de afinidade cultural, a Florida (com a Disneylândia) e Portugal (com uma língua que se parece com a nossa) são os lugares mais procurados.

Nadando contra a corrente, está o senador Bolsonarinho, aquele da mansão de 6 milhões. Não gostou da ideia de ter de torcer a língua pra ‘falar gringo’. Numa boa, preferiu investir sua suada poupança no Brasil mesmo. E escolheu Brasília, a curta distância do palácio de papai.

Será excesso de confiança na impunidade ou puro alheamento da realidade? Um pouco dos dois, sem dúvida. O futuro dirá se acertou.

Loucura?

José Horta Manzano

Cafonice não dá cadeia. Burrice não dá impeachment. Mas os dois pecados juntos dão mistura explosiva. Ostentação dá inveja. Sinais exteriores de riqueza incompatível com as posses podem render processo.

O senador Bolsonarinho deveria ter pensado nisso antes de cometer a imprudência que talvez fique na história como o Fiat Elba do clã – aquela gota d’água que faltava pra fazer transbordar um pote até aqui de mágoa.

O distinto leitor já deve estar a par da enormidade que veio a público hoje: a mansão de 6 milhões comprada pelo primogênito do presidente. Tudo já foi dito sobre o caso. Sabe-se que, com o salário que recebe, não tem como aguentar a prestação mensal do empréstimo. Sabe-se que a casa fica no bairro mais caro de Brasília e tem 1.100m2 construídos num terreno de 2.400m2. Sabe-se que, embora o imóvel esteja em Brasília, a escritura não foi passada lá, mas em Brazlândia, uma cidadezinha do cinturão agrícola da capital. Sabe-se que colegas do senador, quando informados, mostraram-se incrédulos; não podiam acreditar que o Bolsonarinho tivesse cometido aquela ‘loucura’ justo na hora em que ele tenta reverter sua situação na Justiça.

O caso dá margem a algumas reflexões.

  • Comprova a inesgotável capacidade do clã Bolsonaro de criar armadilhas para si mesmo.
  • Demonstra que, assim como o pai, o senador também vive numa bolha, desconectado da realidade, insensível à insatisfação que fermenta no país real.
  • Deixa claro que debaixo desse angu tem carne. Quando se compra um imóvel de 6 milhões sem ter dinheiro declarado é porque há dinheiro escondido.
  • O fato de o caríssimo imóvel estar em Brasília informa que o senador, que não tem raízes na capital do país, conta com a permanência do pai na presidência por longo tempo.
  • O fato de os investimentos do clã se limitarem a compra de imóveis no Brasil é indicação da falta de imaginação dessa gente.
  • Há hipótese mais dramática. Os membros do clã parecem resignados a passar o resto da existência em território nacional. De fato, todos eles – mas principalmente o pai – terão de tomar muitíssimo cuidado ao pisar solo estrangeiro. Pode(m) ter de aparecer enjaulado(s) num tribunal de Haia, a enfrentar processo por crime contra a humanidade.

Vistas essas considerações, não dá pra entender por que o Bolsonarinho escolheu Brasília pra empatar sua fortuna.

ou também

Vistas essas considerações, pra entender por que o Bolsonarinho escolheu Brasília pra empatar sua fortuna.

Seja qual for a hipótese verdadeira, a conclusão final é sempre a mesma: a família Bolsonaro dá a prova definitiva de que todos eles padecem profundo déficit de inteligência.

Quem pode, pode

José Horta Manzano

Você sabia?

Desde que o passe do jogador Neymar foi comprado pelo clube de futebol de Paris, os franceses se sentem muito orgulhosos. Até certo ponto, a razão da euforia me escapa, mas franceses em geral e parisienses em particular se mostram pra lá de honrados com a presença «de la star brésilienne» ‒ do astro brasileiro, como o esportista é chamado na França. O jovem traz grande prestígio à equipe local. Os torcedores já se sentem vencedores, por antecipação, do campeonato nacional que acaba de começar.

Muita gente se escandaliza com a dinheirama que o rapaz recebe. É verdade que, só pra efeito de comparação, o salário de 30 milhões de euros anuais equivale ao dobro do que foi encontrado estes dias dentro de malas num apartamento baiano. É dinheiro pra ex-ministro nenhum botar defeito! E atenção: isso não inclui ganhos com publicidade, marketing, direitos de imagem & outros mimos.

Entrada do Hotel Royal Monceau, Paris

Pois a mim, não escandaliza. Se as malas do político estavam recheadas de notas de origem duvidosa, as posses do jogador têm origem lícita e notória. Ao fim e ao cabo, o moço foi contratado por um clube que, por seu lado, é propriedade do emir do Catar. Francamente, quem é que recusaria tamanha dádiva? Acho que os que reclamam o fazem mais por inveja do que por outro motivo.

A grande notícia desta semana é que, depois de passar algumas semanas numa suíte do Royal Monceau, luxuoso hotel parisiense, Neymar está de mudança. Está se instalando numa residência dos arredores da capital, num pequenino município de nove mil habitantes chamado Bougival, situado às margens do Rio Sena e famoso por já ter abrigado outros figurões, entre os quais Ronaldinho Gaúcho.

Fachada da nova residência futurista de Neymar. Bonita não é, mas espaço não falta.

Alugou modesta mansão de cinco andares, com área construída equivalente à de um supermercado. Situada no meio de um gramado de 5000 m2, a casinha conta ainda com piscina no subsolo. Embora seja constituída de gente abonada, a vizinhança anda alvoroçada. Um dos vizinhos, entrevistado por jornalistas, contou que, por enquanto, reina a calma nas paragens. Mas Neymar tem fama de festeiro. O entrevistado, meio brincalhão, revelou que, caso se sinta incomodado, não hesitará em bater à porta do novo habitante para pedir silêncio.

Quanto ao prefeito da localidade, está animado. Espera que a presença do novo munícipe faça boa propaganda da cidadezinha e, quem sabe?, contribua para atrair outros endinheirados. Isso seria excelente para as finanças locais. Só o salário do jogador equivale ao triplo do orçamento anual do município. Os comerciantes torcem para o lugarejo se tornar ponto de peregrinação turística. Todos terão a ganhar.