Terremoto – 2

José Horta Manzano

Em nosso país, os terremotos mais frequentes são de natureza política – esses estouram dia sim, outro também. Tremores de terra no sentido original, daqueles que derrubam gentes e prédios, são fenômeno bem mais raro. Ocorrem, às vezes, mas em geral em zonas de escassa habitação, o que suaviza o problema. A gente só fica sabendo quando algum sismógrafo ultrassensível, montado a milhares de quilômetros dali, registra e publica o acontecido. Já nossos hermanos do Peru, do Chile, do Equador, da Colômbia estão muito mais expostos a esse tipo de ocorrência. Quando violentos, os terremotos podem causar perda de muitas vidas além de grande estrago material.

Terremoto de 26 maio 2019

No domingo 26 de maio, forte sismo de magnitude estimada em 7,5 graus na Escala Richter sacudiu a região do Alto Amazonas, no Peru. Foi sentido no país inteiro e até nos vizinhos Equador e Colômbia. É mais que provável que pudesse ter sido sentido também no Brasil, no oeste do Amazonas e no Acre, se essas regiões fossem mais densamente povoadas. Como há pouca gente por ali, só ficamos sabendo porque os sismógrafos peruanos registraram.

Em nota discreta, a notícia foi dada pela mídia brasileira. Como acontece a cada vez, escorregaram na hora de dar os detalhes. O Estadão, por exemplo, escreveu que o epicentro do tremor foi registrado a uma profundidade de 141km. Bobeou. Já falei nisso antes mas, como o erro se repete, repito eu também.

Estadão, 26 maio 2019

Epicentro é o ponto da superfície (da terra ou do mar) situado exatamente acima do lugar onde teve origem a ruptura que causou o terremoto. Portanto, é incorreto dizer que o epicentro está situado a tal profundidade. Está sempre na superfície. A palavra epicentro utiliza o prefixo grego epi = acima, na superfície. O hipocentro é o ponto onde se produziu a ruptura. Esse, sim, está sempre na profundidade.

O escorregão se explica. Pra terremoto político, estamos escolados. Já tremor de terra não é nossa praia. Cada qual com sua especialidade, ué.

Terremoto

José Horta Manzano

Um terremoto sacudiu o centro e o sul do México ontem, pouco depois das 17h30, em plena hora de pico. Ainda que estejam acostumados a sofrer frequentes tremores de terra, os mexicanos se assustaram. O sismo de setembro passado, que deixou muitas vítimas, ainda está vivo na lembrança de todos.

Este terremoto foi de magnitude 7,2 na escala Richter e durou cerca de um minuto. Foi seguido por um mínimo de 150 réplicas. A frequência desses fenômenos fez que o México já tenha implantado um sistema de alerta. Setenta e dois segundos antes de o sismo ser sentido, a população ameaçada foi avisada por SMS, rádio, tevê e alto-falantes. Um minuto parece pouco, mas é tempo que permite correr para o ar livre ou procurar abrigo seguro.

O tremor foi ressentido até a capital, mas o epicentro situou-se em Santiago Pinoteca, cidade de 30 mil habitantes, a 400 km em linha reta. No Brasil, locutores de rádio e tevê disseram que «o epicentro foi em Pinoteca a 24km de profundidade». Escorregaram.

Terremoto: epicentro e hipocentro (foco)

Epicentro, palavra erudita formada com o prefixo grego epi (= em cima, acima, sobre), indica o ponto da superfície situado exatamente na vertical do foco do acidente sísmico. O ponto exato em que o atrito das rochas provocou o terremoto leva o nome técnico de hipocentro ‒ no presente caso, situado a 24km de profundidade. As ondas de choque se propagam em todas as direções, mas o epicentro ‒ o ponto da superfície situado mais próximo do sismo ‒ é o mais afetado.

Ouvi também que não tinha havido «alerta de tchissunâmi». O problema aí não é de inadequação vocabular, mas de pronúncia. O mundo adotou o termo tsunami para designar a enorme onda marítima que certos terremotos provocam. A palavra vem direto do Japão, país cuja língua não conhece acentuação tônica. Embora seja inabitual para nós, assim é: todas as sílabas são pronunciadas com a mesma intensidade, sem destaque para nenhuma delas. Pra facilitar, basta pronunciar tsunami como oxítona, com acento no mi. Fica mais próximo do original.

Ah, só pra terminar. O tsu de tsunami forma uma sílaba só. Não é tchissu. Lembre-se de pizza, que todos pronunciamos «pítsa» e não «pítchissa».

Este artigo, como tantas coisas em nosso país, também termina em pizza. Que fazer?