José Horta Manzano
Para o Lula, tentativa de Delcídio de barrar a Lava a Jato foi “uma grande burrada”.
Esse foi o título de matéria publicada pelo Estadão de 26 novembro. A declaração de nosso guia, proferida em fino e típico linguajar, foi dada num almoço havido na sede da CUT, em São Paulo.
O encontro era particular, do tipo ação entre amigos. No entanto, sacumé, ninguém consegue costurar língua alheia. Sempre há os que saem por aí dando nos dentes. Segredo confessado a uma pessoa – umazinha só – deixa de ser confidência.
Provocado por companheiros que botaram o termômetro pra medir a reação do chefe, o Lula tentou escapulir. Com respostas lacônicas do tipo “que absurdo!” ou “que loucura!”, imaginou esgueirar-se. Não deu certo. Os comensais da boca-livre exigiam mais. Sem estender-se em longo discurso, o demiurgo declarou que o que o senador fez “foi uma grande burrada”.
Todos entenderam que o Lula se estivesse referindo ao mérito. Interpretaram o pronunciamento como censura e repúdio às intenções criminosas do senador. Quanto a mim, habituado que estou a observar mui atentamente o ex-metalúrgico, entendi diferente. E acho que não estou enganado.
Mais adiante, o artigo do Estadão diz que, para o Lula, o senador preso é político experiente, sofisticado, que não poderia ter-se deixado gravar de forma simples como foi feito por Bernardo Cerveró.
Pronto, para mim, esse complemento de informação deixou as coisas claras. Ao acusar Delcídio de haver cometido “uma grande burrada”, o antigo presidente da República não alude ao mérito, mas à forma. A grande burrada foi ter caído na armadilha. Nosso guia não censura os planos do senador, mas a ingenuidade na execução. Pouco importa que projetos urdisse, desde que agisse discretamente e resguardasse os malfeitos de comprometedora exposição pública.
Por enquanto, fica no ar a pergunta: por que será que o senador teme e treme ante revelações que possam ser feitas? Que segredos escabrosos ainda estão por vir? No próximo capítulo da Lava a Jato, saberemos.
PS: Tenho grande simpatia pelo burro – falo do animal, não de demiurgos nem de senadores. Acho deveras injusto atribuir o epíteto de burro a humano de pouca inteligência.
Suficientemente rica, a língua cobre a supressão do humilde animal. Tapado, idiota, bronco, ignorante, parvo, estulto, tolo, estúpido, imbecil, lerdaço, néscio, inepto, palerma dão o mesmo recado.