José Horta Manzano
Vale-refeição, auxílio-moradia, auxílio-doença, vale-gás, auxílio-maternidade, vale-transporte, auxílio-paternidade, auxílio-paletó, plano de saúde e assemelhados são empurrõezinhos pra ajudar quem vive em condições financeiras precárias. Fazem sentido quando oferecidos a beneficiário que sobrevive com salário baixo. Fazem menos sentido quando dados a quem deles não precisa.
O pequeno funcionário que sacoleja quatro horas por dia pra chegar ao emprego e que gasta em transporte um terço do que ganha faz jus a vale-transporte. O operário que sobrevive com salário de miséria e não conta senão com o precário sistema público de saúde faz jus a plano complementar de saúde. Em casos assim, vales e auxílios vêm preencher uma lacuna que o atraso do país ainda não foi capaz de remediar.
A Câmara Federal informa que, em 2018, torrou 8 milhões de reais para cobrir despesas médicas de deputados e dependentes. Sabe-se também que o departamento médico da Casa conta com 70 (setenta!) médicos de 17 diferentes especialidades. Suas Excelências, não bastasse isso, ainda têm direito a tratar-se em clínicas particulares ‒ sem teto de gastos. Custe o que custar, é festa no terreiro: nossos impostos cobrem o rombo.
É escandaloso e revoltante. Por menos que isso, nos tempos de antigamente, se faria revolução. Enquanto o honesto cidadão se contorce pra convencer seu plano de saúde a reembolsar um tratamento, nossos eleitos nadam de braçada em privilégios votados por eles mesmos em benefício próprio. Funcionários de alto escalão contam com auxílio-paletó. Parlamentares tomam refeições à la carte, servidos por garçons paramentados. Juízes de altas instâncias recebem auxílio-moradia. Indecoroso.
Nosso país só se poderá considerar civilizado no dia em que salários decentes tiverem despachado vales e auxílios para a lata de lixo da história. Será no dia em que todo trabalho for recompensado com remuneração que permita ao assalariado viver com dignidade e pagar suas contas sem depender de esmola ‒ ainda que travestida de bondade oficial.