Fecharam todos os shoppings do Brasil

Fernão Lara Mesquita (*)

Em entrevista a uma das meninas da Globonews na semana passada, Flávio Rocha, dono da Riachuelo, deu um número de arrepiar.

«Em 2015 fecharam 100 mil lojas pelo Brasil afora. É como se tivessem fechado todos os shopping centers do país. Somados, eles abrigam isso: 100 mil lojas».

Loja 1Sobra em pé só o grande comércio, mais estruturado. Quer dizer: é uma obra monumental de concentração da renda, essa do PT. Os funcionários de 100 mil lojas ficaram simplesmente a zero, sem saber se vão ter o que pôr na mesa dos filhos amanhã. Cem mil pequenos e médios empreendedores que, sabe-se lá à custa de que epopéias tinham conseguido emergir do brejo e montar seu negociozinho, foram expulsos do mercado. As lojas gigantes engoliram o que sobrou do massacre.

Loja 2O resultado é o que se observa nas caóticas megalópoles brasileiras: nos bairros ricos os milionários que sobram, cada vez mais ricos, compram as casas vizinhas e levantam os muros. Lá fora, a pátria do Aedes aegypti: perifavelas de bloco sem urbanização nem saneamento crescendo em metástase. Menos gente rica, cada vez mais rica, cercada de miséria por todos os lados. No meio, nada.

Se dermos mais tempo pra isso, acabamos como na Idade Média. Vão sobrar quatro ou cinco castelos cheios de salões dourados por trás de muralhas intransponíveis. Em toda a volta, um favelão gigante onde, saiu na rua, se ficar vivo volta pra casa nu, rapado e rapelado.

(*) Fernão Lara Mesquita é jornalista, articulista do Estadão e editor do blogue Vespeiro.

A galinha do vizinho

José Horta Manzano

Assim como possuir não é sinônimo perfeito de ter, o verbo colocar tampouco é sinônimo perfeito de pôr. Cada macaco no seu galho.

Ovo 2Colocar tem muitas acepções. Quando significa pôr em algum lugar, carrega uma nuance de arranjar, ajeitar, acomodar, dispor de uma certa maneira. Colocar flores num vaso, colocar bibelôs numa prateleira, colocar vírgulas numa frase, colocar os convidados em volta da mesa ‒ são usos que soam bem.

Muito se tem falado da rápida propagação do mosquito Aedes aegypti. O mosquito ‒ especialmente a mosquita, segundo nossa presidente ‒ garante a reprodução da espécie por meio de ovos. Como outros insetos, aliás.

É surpreendente ver e ouvir com frequência que a fêmea pode colocar ovos. Este blogueiro é do tempo em que mosquitos ‒ especialmente mosquitasbotavam ovos. Quem tiver antipatia por esse verbo, pode usar pôr, que funciona do mesmo jeito. Colocar, francamente, não é a melhor opção. Pode desagradar à mosquita.

Vivemos numa democracia. Nada impede que a mosquita, depois de botar seus ovinhos, os coloque noutro lugar, dispostos em ordem de tamanho, por exemplo. Não há, porém, notícia de que proceda assim.

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de Minas 247, 26 fev° 2016

da Folha de São Paulo, 26 fev° 2016

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d'O Globo, 26 fev° 2016

d’O Globo, 26 fev° 2016

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da Folha de São Paulo, 26 fev° 2016

de Minas 247, 26 fev° 2016

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Além da fronteira ‒ 2

José Horta Manzano

Tsunami 2Quando foi deflagrada a Operação Lava a Jato, muitos imaginaram que não passaria de solavanco passageiro, uma marolinha. Presumiu-se que seria respeitada a arraigada tradição nacional de inocentar criminosos de colarinho branco.

Para espanto do cidadão comum ‒ e para «estarrecimento» de figurões, não foi o que aconteceu. Gente graúda começou a ser molestada. Pencas de acusados, alguns de fina estirpe, foram parar no xadrez. Para angústia de muitos, a marolinha converteu-se em tsunami.

O território nacional é vasto. O problema é que, assim como fronteiras não detêm revoada de Aedes aegypti, tampouco barram tsunamis. Vagas ameaçadoras já estão transbordando.

O diário Perú21, um dos mais importantes do país vizinho, traz informação alarmante. O nome do presidente da república andina, Ollanta Humala, é citado nada menos que dez vezes en documentos exumados pela Lava a Jato.

Chamada do jornal Perú21, 24 fev° 2016

Chamada do jornal Perú21, 24 fev° 2016

Seu nome aparece em investigação de irregularidades perpetradas em obras de infraestrutura de bilhões de dólares levadas a cabo no Peru pela brasileira Odebrecht. A suspeita é de que desvios tenham gerado propinas milionárias, distribuídas naquele país.

Embaraçado e inquieto, o presidente convocou, às 11h da noite, o embaixador do Brasil em Lima. A transcrição da conversa não foi publicada, mas tudo indica que señor Humala está à cata de esclarecimentos.

Tsunami 1O braço da PF brasileira, por mais longo que seja, não alcança além-fronteira. Portanto, o «japonês da Federal» não periga algemar o medalhão. Assim mesmo, pode-se apostar que, se as suspeitas forem investigadas como se deve, estará aberta uma caixinha de surpresas.

O Peru pode ser só o começo. Mais está por vir.