José Horta Manzano
Não sou analista financeiro nem tenho lastro suficiente para me aprofundar na matéria. Assim mesmo, os anos e as experiências vividas não deixaram de me apurar o bom senso. Entre tantos incômodos, os anos maduros trazem, pelo menos, o consolo de enxergar com menos paixão.
Fiz esse preâmbulo antes de falar da criação do Banco do Brics, assunto que me chamou a atenção estes últimos dias. Longe de ser banco de pobre, como alguns apressados poderiam deduzir, tem sócios de peso. Basta dizer que conta com a segunda potência comercial do planeta entre seus membros. É interessante notar que cada um dos sócios tem sua própria motivação para aderir ao empreendimento.
A Rússia, por exemplo, anda meio de birra com o resto do mundo por causa do conflito com a Ucrânia. Desde que anexou a Crimeia, vem sofrendo sanções econômicas da União Europeia e dos EUA. As punições são inócuas, é só questão de marcar um desacordo. Assim mesmo, a Rússia procura mostrar que está dando de ombros para o castigo. Nessa óptica, uma associação com outras economias poderosas é sempre bem-vinda.
Diferentemente de nossa hermana Cristina, o Brasil não precisa do socorro financeiro de bancos internacionais. Já temos apoio suficiente. Se dona Dilma achou tão importante a criação desse estabelecimento é por razões de imagem interna. Transmite ao povo a sensação de que nosso país tem dinheiro pra dar, emprestar e vender. E, mais que isso, dá a prova cabal de que, finalmente, não dependemos mais dos abominados capitalistas ocidentais. A artimanha funciona, tem muita gente que acredita.
Quanto à África do Sul, cujo PIB equivale à quarta parte do nosso, não se entende bem o que está fazendo nesse clube. Faria mais sentido incluir a Turquia e a Indonésia.
O PIB (PPP) brasileiro, pelas contas do FMI, equivale ao da Rússia. Já a China, com produção anual bruta quase seis vezes superior à nossa, precisa menos ainda de ajuda de bancos internacionais. Seu interesse é diferente do nosso e do da Rússia.
Com dinheiro a escapar pelo ladrão, o Estado chinês tem vista de longo alcance. Por seu peso econômico, terá de facto a última palavra nas decisões da nova empresa. Para ser concedido, todo empréstimo terá de contar com o beneplácito de Pequim.
A China, sedenta de matérias-primas necessárias para sua afirmação, tenderá, naturalmente, a apoiar projetos de seu próprio interesse. Projetos visando a favorecer produção de soja no Brasil ou de gás na Sibéria serão aplaudidos em Pequim. Seu financiamento está garantido.
Se os estrategistas do Planalto imaginavam, com a criação do banco de fomento do Brics, alforriar-se da dependência dos investidores tradicionais, perigam decepcionar-se. Livram-se da suserania ocidental para enfeudar-se aos tecnocratas de Pequim.
Quem viver, verá. Posso me enganar, mas tenho a impressão de que estão comprando gato por lebre.
Bom-dia!
Fica mais fácil entender o que de fato acontece por trás de cortinas de veludo vermelho, quando alguém de visão faz uma leitura mais “minuciosa” do assunto.
É preocupante termos nas mãos dos “outros” o poder de decisão. Podemos sim, comprar um gato vira latas achando que é lebre de raça.
Um abraço!
Vilton Jorge de Souza
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