José Horta Manzano
Primeiro, foi o bolsonarinho senador. Começaram a aparecer uns podres sobre o rapaz, uma história meio sórdida de exploração do homem pelo homem. Circulou a notícia de que ele confiscava, em benefício próprio, parte do salário de cada colaborador. Aproveitar-se da fragilidade alheia, tsk, tsk, que coisa mais feia! Daí veio o pai e disse algo como: «Se ele errou, tem de pagar e consertar o que fez». E todo o mundo se tranquilizou ao imaginar que, se o filho era malandro, pelo menos o pai era equilibrado.
Em seguida, veio o bolsonarinho vereador. Começou aboletando-se no coche presidencial na hora do desfile inicial – coisa esquisita. Em seguida, sempre atendendo pelo doce apelido de ‘pit bull’, desembestou a metralhar conhecidos e desconhecidos pelas redes sociais – redes essas que, sob seus dedos ágeis, estão mais pra associais. A primeira façanha foi derrubar um ministro. De lá pra cá, não parou mais. Daí veio o pai e explicou que ‘pit bull’ era só um apelido, que o moço era mais manso que gatinho miúdo. E todo o mundo se tranquilizou ao imaginar que, se o filho era perturbado, pelo menos o pai era equilibrado.

Bolsonaro & bolsonarinhos
Crédito: vespeiro.com
Na continuação, veio o bolsonarinho deputado. Começou forte: apareceu logo nos EUA, de boné «Trump 2020» enfiado no cocuruto. E continuou na mesma linha. Organizou jantar para homenagear Steve Bannon (um desafeto de Trump) e, dia seguinte, sentou-se no salão oval com Trump. Sua façanha mais recente foi preconizar um Brasil membro do clube atômico. Daí veio o pai e explicou que não havia por que se preocupar porque, no fim das contas, é sempre ele – o presidente – a dar a última palavra. E todo o mundo se tranquilizou ao imaginar que, se o filho era destrambelhado, pelo menos o pai era equilibrado.
Esgotados os bolsonarinhos, chegou a vez do pai. Já faz algumas semanas que o presidente vinha emitindo sinais confusos, mordendo e assoprando, espalhando o calor e o frio. Faz dois dias, desandou de vez. Doutor Bolsonaro deu mostras de que não é fiel nem mesmo ao guru que o ajudou a eleger-se (segundo seu próprio diagnóstico). Abandonando o astrólogo boca-suja, jogou-se para o lado de outro iluminado, um residente francês de pai congolês e mãe angolana. O esclarecido personagem, que se considera milagreiro, declarou que doutor Bolsonaro é ungido pelos deuses e foi por eles designado para conduzir o povo brasileiro. E nosso presidente, babando de satisfação, repicou a mensagem!
Conclusão
O primeiro filho é malandro. O segundo é perturbado e o terceiro, destrambelhado. Quem achava que a sensatez do pai fosse salvar o cenário, pode perder a esperança. Era de desconfiar. Fruto não costuma cair muito longe da árvore.
Rabicho
Acaba de sair a notícia de que, pela segunda vez desde que assumiu o trono, doutor Bolsonaro atribuiu uma medalha nacional de mérito aos filhos. Desta vez, foi a medalha do Mérito Naval, concedida a dois bolsonarinhos. Como? Eles não têm mérito? Ora, que bobagem! Quem está ligando pra esses detalhes? Distribuição de medalha em família sempre reforça o sentimento de clã. Um dos dois bolsonarinhos medalhados é justamente o senador, aquele que está enrolado até o pescoço com a Justiça.
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