José Horta Manzano
Estou acostumado a dar uma passada d’olhos na imprensa internacional. Posso garantir-lhes que, fora de nosso país, erros gramaticais são raros e excepcionais. Que se trate de regência, de sintaxe ou simplesmente de datilografia ‒ perdão! de digitação ‒, a raridade é a mesma.
Dizem que o desleixo com que costumamos nos comportar no Brasil é herança do colonizador. Se assim for, constato que a herança frutificou. Em vez de regredir, o desmazelo parece aumentar a cada dia. O filho saiu melhor que o pai.
Até o Estadão, que, afinal de contas, é o jornal brasileiro de referência, reverenciado no mundo todo, tem-se deixado levar pela negligência. E logo na primeira página! A impressão que fica é de que as chamadas ‒ que são justamente as palavras mais lidas do veículo ‒ ficam por conta de estagiários ou de gente que não tem suficiente domínio da norma culta.
Na edição de 1° de agosto, três escorregões coexistiam na página principal da edição online. Ao mesmo tempo, sim, senhores. Aqui estão:
Conselho prorroga mais 1 ano da Lava Jato
Eta, frase torturada! Prorroga-se algo por determinado tempo. Deveriam ter posto «Conselho prorroga Lava a Jato por um ano».
Béndine tentou dissuadir Ferreirinha a depor
Aqui também, a regência foi pro beleléu. Dissuade-se alguém de (fazer) algo. Teria sido melhor: «Béndine tentou dissuadir Ferreirinha de depor».
Neymar viaja à Barcelona
Essa é primitiva. Salvo as exceções, que não chegam a meia dúzia (Cairo, Porto, Rio de Janeiro, Recife, Crato), nome de cidade não aceita artigo. Ninguém mora na Barcelona, nem trabalha na Florianópolis, nem pretende estudar na Paris. Sem artigo, sobra somente a preposição. Naturalmente, não ocorre crase. Melhor seria: «Neymar viaja a Barcelona».
Água mole em pedra dura… Vamos em frente. Quem sabe, um dia ainda chegamos lá.