Policial suíço

José Horta Manzano

Você sabia?

As práticas de outros países são à vezes tão diferentes das nossas que é difícil acreditar. Vou contar um pouco sobre a profissão de agente de polícia na Suíça.

Ressalvadas pequenas diferenças entre regiões, os requisitos básicos para se candidatar são:

• ter idade entre 20 e 35 anos

• ter nacionalidade suíça ou, para um estrangeiro, ter tempo de residência suficiente que permita requerer naturalização até o fim do curso preparatório

• além de falar perfeitamente a língua local, ter conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira

• ter completado uma formação profissional de pelo menos 3 anos depois da escola média. Pouco importa a profissão.

• não ter antecedentes criminais

• ter feito o serviço militar

• não ter tatuagem nem piercing

• estar em perfeita saúde e em excelentes condições físicas

• ser titular de carteira de motorista

Se for aceito, o candidato poderá prestar o exame de admissão. Parece que não é moleza. Há até cursinhos preparatórios para as provas. Conseguindo vencer essa etapa, o postulante seguirá um curso de um ano em período integral. Durante esse ano, dado que não poderá trabalhar, receberá pequeno salário que lhe permitirá viver em condições modestas. Essa remuneração correspondente ao grau de aspirante.

As matérias do curso preparatório são:

    • Direito penal e Código de processo penal
    • Código de processo civil
    • Defesa pessoal
    • Policiamento de proximidade
    • Psicologia
    • Ética profissional e Direitos Humanos
    • Lutas marciais, corrida a pé, natação, esportes
    • Conhecimentos gerais

Terminado o curso, o aspirante ainda tem de ser aprovado no exame final. Se passar, aí sim, se tornará policial e terá direito às regalias do cargo. O salário inicial será em torno de 6 mil francos (= 25 mil reais). De 5 em 5 anos receberá aumento por tempo de serviço. A partir do vigésimo ano, chegará ao topo da carreira e atingirá salário de 9 mil francos (= 37 mil reais). O 13° salário não é obrigatório na Suíça. Algumas empresas o adotaram; outras, não. A Polícia, generosa, paga esse benefício a seus membros.

Na Suíça, nem sonhe em oferecer «um cafezinho» a um policial para se livrar de uma multa. Não vai funcionar e você certamente vai se estrepar.

No Brasil, para combater a praga da corrupção policial, não há outro meio: o salário tem de ser pra lá de atraente. O maior receio de todo policial tem de ser o de perder o emprego. E ele tem de estar ciente de que um cafezinho ou uma cervejinha podem render expulsão sumária da corporação. E instauração de processo, se for o caso.

Com políticos, é um pouco mais complicado.

Do you speak English?

José Horta Manzano

Depois de quinze anos de afligente monoglotismo nas altas esferas brasileiras, surpreende agradavelmente constatar que o vice-presidente eleito, general Mourão, se exprime em inglês decente.

Entrevistado pela BBC três dias atrás, doutor Mourão entendeu as perguntas e não hesitou em alinhavar as respostas, mostrando familiaridade com o idioma. Em se tratando de autoridade política brasileira, a coisa é tão extraordinária que a conversa de dois minutos foi parar até no youtube.

by Mix & Remix, desenhista suíço

De fato, os que nos governaram desde que o lulopetismo se aboletou no Planalto ignoravam línguas estrangeiras. Para piorar, tinham grande dificuldade em se exprimir na própria língua nacional. Nesse particular, doutora Rousseff atingiu o paroxismo: suas falas foram, com frequência, incompreensíveis.

Num país onde boas notícias têm de ser garimpadas com persistência, é um alívio saber que o vice-presidente ‒ que foi adido militar nos EUA por dois anos ‒ consegue ler e se exprimir em inglês com destreza. Comparando com o que tivemos em passado recente, já é enorme avanço!

A Copa e as Olimpíadas

José Horta Manzano

Não se deve ter os olhos maiores que o estômago. Não convém botar no prato quantidade maior do que se vai comer. Quem assim fizer, periga dar vexame e decepcionar comensais.

JO 2020 3O Campeonato Mundial de Futebol (hoje chamado Copa do Mundo) e os Jogos Olímpicos de Verão (também ditos Olimpíadas) são os encontros esportivos mais importantes do mundo. Concorridos, frequentados, badalados e comentados, são preparados com esmero por atletas e pelo país-sede.

Ambos os eventos se realizam a cada quatro anos. Não por acaso se alternam, com dois anos de intervalo, como se um não quisesse pisar o pé do outro. O Brasil conseguiu que lhe fosse atribuída a organização dos dois megaeventos, assim seguidinho, um em 2014 e o outro em 2016.

Há quem acredite que foi por coincidência. Não é meu caso. Embora não seja de conhecimento público, tudo fica registrado nalgum lugar. Tenho certeza de que, um dia, as «gestões» responsáveis pela atribuição dos dois certames ao Brasil serão reveladas à luz do sol.

O governo brasileiro apostava todas as fichas na Copa 2014. Acostumados a navegar em mar de fantasia, tinham certeza de que – com a colaboração ativa do Todo-poderoso – o Brasil levaria a taça. Deu no que deu: panes de som nos estádios, obras inacabadas, metrôs e trens-bala inexistentes, vaias à presidente, retumbante fiasco esportivo. A olhos estrangeiros, a imagem de nosso País perdeu um bocado de seu brilho.

Crédito: Shizuo Kambayashi

Crédito: Shizuo Kambayashi

Tudo isso entornou água fria na expectativa que os Jogos Olímpicos despertavam. A pouco mais de um ano do evento que reunirá a nata do esporte mundial, pouco se fala neles. Nossa presidente já deve estar considerando se vale a pena participar da abertura oficial e correr o risco de levar mais uma vaia planetária.

Mas que fazer? Combinado está. O Brasil e, em especial, o Rio de Janeiro têm de se aplicar. Falta muito pouco tempo e ainda há muito que fazer. Falando em falta de tempo, o Japão, que hospedará em 2020 a edição seguinte das Olimpíadas, já arregaçou as mangas.

JO 2020 4Como também acontece no Brasil, fluência em línguas estrangeiras não é o ponto forte dos japoneses. Que não seja por isso, que há remédio pra tudo. O governo japonês já tomou as medidas que julga necessárias para preencher essa lacuna. Especial atenção está sendo dedicada à formação de policiais, bombeiros, garçons e guias fluentes em inglês.

Seminários de formação de guias bilíngues estão sendo organizados. O objetivo das autoridades de Tóquio para 2020 é dispor de 35 mil colaboradores bilíngues para dar apoio aos turistas e mostrar-lhes o espírito acolhedor dos japoneses.

Alguém sabe quantos guias bilíngues foram formados para os JOs do Rio? Procurei, mas não encontrei a resposta. Talvez algum distinto leitor possa me iluminar.