Embaixadores bem tratados

Cláudio Humberto (*)

O presidente Michel Temer ordenou uma “repaginada” nas cerimônias de recebimento das credenciais de embaixadores estrangeiros enviados a Brasília.

Dilma Rousseff os tratava mal, demorando meses para receber credenciais. Deixava-os num limbo, sem poderem exercer suas atividades. As mudanças começam nesta quarta-feira 25 maio, quando Temer receberá as credenciais de seis diplomatas.

Rampa 1Os primeiros a conhecerem o jeito brasileiro de bem receber serão os embaixadores do Paquistão, da Grécia, do Congo, da Namíbia, do Iraque e da Croácia. Terão direito à rampa do Planalto, aos Dragões da Independência e até a conversa privada com o presidente.

De forma grosseira, Dilma se recusou, certa vez, a receber as credenciais do embaixador da Indonésia, país que havia fuzilado um traficante de droga brasileiro.

(*) Cláudio Humberto, é jornalista. Publica coluna diária no Diário do Poder.

Frase do dia — 269

«Políticos e diplomatas estranharam presença do aspone Marco Aurélio Top-Top Garcia – como se fosse o chanceler – na cerimônia em que Dilma recebeu credenciais de embaixadores. Em razão da má influência dessa figura extravagante, o Brasil virou um anão diplomático.»

Cláudio Humberto, jornalista em sua coluna no Diário do Poder, 7 nov° 2015.

Vexame renovado

José Horta Manzano

Embaixador da Pérsia apresenta credenciais ao rei Luís XV

Embaixador da Pérsia apresenta credenciais ao rei Luís XV

Diplomatas que servem no exterior costumam ser substituídos periodicamente. O rodízio é benéfico para a carreira – acrescenta preciosas linhas ao currículo. Cônsules, adidos e funcionários de segundo escalão são escolhidos livremente pelo país emissor e, em princípio, automaticamente aceitos pelo governo do país de destino.

Com embaixadores, o procedimento é mais formal, que diplomacia é cheia de tiques e de códigos. Antiga e cristalizada regra exige que o enviado de um governo seja oficialmente aceito pelo país onde exercerá sua função.

Meus cultos e distintos leitores se lembrarão de que, faz poucas semanas, dona Dilma deu vexame internacional ao recusar as credenciais do novo embaixador indonésio.

Mãe natureza foi avarenta ao atribuir sutileza a nossa bondosa mandatária. A falta de tacto de dona Dilma fez que ela ousasse a crueza de convocar o diplomata em palácio para, só então, informá-lo de que não seria recebido. Fossem outros os tempos, o ato constituiria casus belli: estariam reunidas as condições para declaração de guerra.

Sempre atento às proezas das altas esferas, o Diário do Poder traz deliciosa notícia, daquelas que corroboram o amadorismo e a ignorância que, cada dia mais, se esparramam pelos escaninhos da República.

Embaixada do Brasil em Madri

Embaixada do Brasil em Madri

Sem aderir aos métodos brutais de nossa presidente, o governo espanhol tem sutilmente protelado a aceitação das credenciais do novo embaixador que o Brasil designou para Madri. Nesse campo, delongas costumam ser sinal de que algo está errado. E realmente está.

Antônio Simões, o novo embaixador, é conhecido admirador do finado Hugo Chávez, de seus métodos autocráticos e daquilo que se costuma amenizar sob a expressão «bolivarianismo».

Não precisa ser especialista em relações internacionais para entender que Espanha e Venezuela não andam de beijos e abraços estes últimos anos. Basta lembrar do episódio protagonizado pelos que, à época, eram os respectivos chefes de Estado: o rei Juan Carlos e o coronel Chávez. Estou-me referindo ao inesquecível «¿Por qué no te callas?», lançado por El Rey ao venezuelano tagarela.

Vaidoso e presumido, o tiranete de Caracas nunca perdoou ao rei a afronta. Desde então, fez o que pôde para tornar mais difícil a vida de empresas espanholas estabelecidas na república bolivariana. Os quase dez anos que se passaram desde que Chávez foi desancado em público não foram suficientes para estancar ressentimentos. As relações entre Caracas e Madri continuam execráveis.

Palácio do Itamaraty

Palácio do Itamaraty

Por ingenuidade ou por ignorância – talvez por um misto dos dois – Brasília houve por bem fazer-se representar em Madri por um chegado ao «bolivarianismo». Enviar correspondência oficial ao governo argentino tratando as Malvinas de Falkland Islands não teria causado constrangimento maior. O elefante dançou na loja de porcelana.

Resumo da história: o novo embaixador tem escassa chance de ser aceito pelo governo espanhol. A diplomacia brasileira bem que podia ter ido dormir sem essa. Mas não tem jeito: o pior bronco é aquele que não quer aprender.

Diplomacia do coice

José Horta Manzano

Dilma 1Como eu, meus distintos leitores certamente ficaram sabendo do coice que nossa egrégia presidente assestou gratuitamente no embaixador da Indonésia – e, por procuração, nos 250 milhões de habitantes daquele país.

Como eu, meus distintos leitores se consternaram com a baixeza com que foi tratado o embaixador que, tendo vindo a palácio a convite, viu-se humilhado e feito de bobo na frente de diplomatas e autoridades. Imagine a situação: convidado formalmente a uma festa, você vai. Na porta, sua entrada é proibida e você é chamado de penetra. Foi o que aconteceu.

Palácio do Itamaraty e seu espelho d'água

Palácio do Itamaraty e seu espelho d’água

Como eu, meus distintos leitores ficaram apreensivos com a repercussão que essa grosseria está tendo nos itamaratis do mundo. A estas alturas, todos os governos do planeta já estão a par da estupidez de tratamento à qual diplomatas forasteiros estão expostos no Brasil.

Como eu, meus distintos leitores entenderam que, se alguma chance ainda subsistia de salvar o traficante brasileiro prisioneiro na Indonésia, ela escoou pelo ralo. Aquele país não pode agora graciar o condenado nem atenuar sua pena. Se o fizer, mostrará que se dobrou à chantagem de Brasília, atitude inconcebível. O comportamento de nossa preclara presidente foi o passo definitivo para a execução do apenado.

Como eu, meus distintos leitores atribuíram o gesto arrogante à conjugação de dois fatores venenosos: o mau humor crônico da mandatária e o aconselhamento gangrenado que tem recebido de seus ‘assessores’, notadamente um certo senhor Garcia – aquele do ‘top-top’.

Dilma e Garcia 3Pois fiquem meus distintos leitores sabendo que… por baixo do angu tem carne. A informação vem do Diário do Poder, do superantenado jornalista Cláudio Humberto. A carne por debaixo do angu é mais podre do que se pode imaginar. Sabe aquele tipo de gente capaz de pisar o pescoço da mãe para alcançar seu objetivo? Pois é, nossa altas autoridades são membros desse clube.

Dilma 3

Pelo relato do jornalista, o coice aplicado no diplomata indonésio nada mais seria que uma ideia de marqueteiro destinada a levantar ‘cortina de fumaça’. A intenção era fornecer matéria para reportagens revoltadas e editoriais indignados que assim, distraídos, desviariam por um momento a atenção da incômoda operação Lava a Jato. Funcionou perfeitamente.

Não estou aqui pra substituir-me ao tribunal indonésio. Se o conterrâneo condenado na Indonésia é culpado ou não, se foi julgado com isenção ou não, se a pena de morte é adequada ou não – meu intuito não é discutir isso. O que nos fica é a certeza de que, nesse episódio, o traficante condenado fez papel de inocente útil, de boi de piranha. Foi sacrificado para aliviar a barra do Planalto.

Descansai tranquilos, brasileiros! Vosso País está em boas mãos!

Interligne 18b

Quem perdeu algum capítulo da história e gostaria de pôr-se a par do assunto pode clicar aqui.