Onda de frio

José Horta Manzano

Você sabia?

Frio 3Faz muitos anos, passei uns dias de férias na Floresta Negra, sul da Alemanha. Era inverno, logo após o Natal, e fazia muito frio. Ficamos em casa de família, numa hospedagem do tipo bed & breakfast. Casa de campo, família muito simpática, sorrisos pra cá e pra lá.

Deixávamos o carro estacionado no espaço apropriado, um quadrado cimentado situado bem em frente à casa. Os vidros do carro amanheciam invariavelmente cobertos por fina camada de gelo.

Em regiões onde o fenômeno é frequente, todo automobilista carrega, no porta-luvas, pequena plaquinha de plástico cuja função é raspar o vidro pra eliminar a umidade congelada. É fácil de usar mas bom acabamento demanda tempo e trabalho. Automobilista sem pressa pode também ligar o motor e a calefação. É menos ecológico mas, em poucos minutos, o gelo acaba derretendo.

Racloir 1Sem pressa, mas também sem vontade de esfregar, um dia apanhei um balde d’água e derramei sobre o para-brisa. Rapidinho, o gelo foi-se. Orgulhoso, fiquei a matutar como é que os alemães ainda não haviam pensado numa solução tão evidente. Eis senão quando… aparece a dona da casa. Assustada, pôs as mãos na cabeça: «Nein, nein!» ‒ Não, não faça isso!

Vendo que eu não tinha entendido a razão do pito, a hospedeira explicou que a água entornada, ao se acumular sob o carro, ia formar uma placa de gelo no chão transformando o quadrado de cimento numa pista de patinação onde é impossível frear sem derrapar. Manobra sobre gelo é acidente esperando pra acontecer.

Racloir 2Estes dias, chegaram notícias de que o frio intenso tinha congelado água dentro do cano em certas regiões do sul do Brasil. Meus distintos leitores talvez se lembrem de que líquidos, ao congelar, se expandem. É o que acontece com cerveja esquecida dentro do congelador. Portanto, fica fácil entender que, com frio abaixo de zero, água parada dentro do cano periga arrebentar o metal.

Nas regiões em que frio forte ocorre com frequência, é recomendado purgar os canos externos ‒ as torneiras de jardim, por exemplo. Fecha-se o registro, abre-se a torneira e esvazia-se até a última gota. Isso vale para canalização externa, mais exposta a baixas temperaturas. Não vale, naturalmente, para torneiras instaladas dentro de casas aquecidas. Os habitantes das serras catarinenses certamente conhecem a manha.

Quanto a nós, vamos vivendo e aprendendo.

Fiz um gato

José Horta Manzano

Gato escondido 2As coisas, às vezes, acontecem na hora errada. Aliás, para coisas indesejadas, nenhum momento é propício. Pelas 11 da noite de ontem, quando costumo dar uma espiadinha na internet pra saber das novidades, não consegui entrar no primeiro site. Tentei um segundo, e nada. Depois do terceiro site fora do ar, tive de reconhecer que o sinal estava interrompido.

Aqui em casa ‒ como é comum por estas bandas ‒, eletricidade, televisão, telefone e internet são fornecidos pela mesma empresa. Como é a fiação? Não sei. Talvez venha tudo pelo mesmo buraco. Técnica, física, matemática e mecânica celeste nunca foram meu ponto forte. Fato é que ontem, de golpe, perdemos internet e telefone fixo. Por sorte, a eletricidade e a tevê continuaram firmes e fortes.

Na Suíça, depois do horário comercial, assistência técnica é tão difícil de achar como agulha em palheiro. A melhor notícia que o «serviço de emergência» da fornecedora conseguiu me dar é que um técnico entraria em contacto comigo na manhã seguinte. Tá.

Gato 1Que fazer? Nada. Panes aqui são muito raras, o que faz que a gente não esteja preparado para elas. Só pra dar uma pequena ideia, nenhuma casa tem caixa d’água. Nunca se ouviu falar nesse apetrecho. Armazenar água em casa, para um suíço, soa tão fora de esquadro como instalar sistema de calefação em Manaus.

Eis senão quando me vem à memória que, anos atrás, por razão que ora me escapa, chegamos a utilizar, por curto período, o sistema wi-fi do vizinho de parede. Com anuência dele, evidentemente. Na época, ele gentilmente nos forneceu a senha de acesso.

Gato escondido 16Aquela situação excepcional durou pouco porque logo tomamos assinatura internet e nunca mais utilizamos o sem-fio do vizinho. Só ontem, no momento da pane, a coisa me voltou à lembrança. O velho laptop que usávamos na época, embora já aposentado, não foi jogado fora. Aqui em casa, ninguém se lembrava mais da senha do vizinho mas… o velho computador de colo, que bobo não é, não se esqueceu. Como o vizinho é assinante de outra empresa, seu sinal estava perfeito.

Retirada temporariamente da aposentadoria que gozava no porão, a maquineta ressuscitou. Aparentemente orgulhosa de voltar à ativa, mostrou seriedade ao captar sem problema o sinal do vizinho, armazenado em sua inesgotável memória. É verdade que a velha maquininha é de uma lentidão à qual não estamos mais acostumados. Mas é sempre melhor que nada.

Graças a ela, pudemos assistir, ao vivo, à destituição do Lula. Não foi um lapso. Para mim, dona Dilma não passou de comparsa desastrada. Os escorraçados foram Lula & caterva.

Fiz um gato que valeu a pena.

Interligne 18c

Observação
O vizinho de parede, a quem deixo aqui meu agradecimento, mantém o apartamento montado embora raramente esteja por aqui. Estes dias, por exemplo, está de viagem.

Só para terminar: depois de 12 horas, internet e telefone voltaram.