Novas palavras a ser proibidas por serem politicamente incorretas

Aldo L. Bizzocchi (*)

 

 

 


DISCLAIMER AOS DESAVISADOS
ESTE TEXTO TEM FORTES DOSES DE IRONIA


Como vocês sabem, a língua portuguesa, como de resto todas as línguas, é machista, racista, classista, homofóbica, transfóbica, aporofóbica, etc. etc. Portanto, precisamos urgentemente banir do nosso vernáculo todas as palavras e expressões que firam a suscetibilidade e os direitos das minorias. Aqui vai minha humilde contribuição a essa justa causa, apontando algumas palavras que até agora passaram despercebidas, mas que contêm uma grande carga de preconceito e desrespeito.

Comecemos pela palavra virtude. Sim, amigos, amigas e amigues, essa palavrinha aparentemente tão inocente e mesmo nobre veio do latim virtus, derivada de vir, “homem, ser humano do sexo masculino”, logo significa “qualidade de quem é homem, aquela que só o homem tem”. Como podem ver, é uma palavra pra lá de machista, visto que considera que só os machos da espécie têm a qualidade da virtude. Pelos mesmos motivos, devemos banir também viril, virilidade, varonil e másculo, pois todos esses termos remetem ao sexo masculino de forma positiva e elogiosa, desmerecendo as mulheres. Aliás, também é urgente proscrevermos hombridade (do espanhol hombre, “homem”) e homenagem (alguém até já propôs mulheragem em seu lugar, mas eu fico me perguntando se aí também não teríamos sexismo, só que em sentido oposto).

E por falar em mulheres, a própria palavra mulher é discriminatória, pois provém do latim mulier, “mulher casada, esposa”, como se só as casadas fossem mulheres de verdade. E o que dizer de senhor então? Essa palavra nos chegou do latim senior, que quer dizer “mais velho”, logo é um termo altamente ageísta. E jamais devemos dizer que um erro é crasso, pois crassus em latim é “gordo”, e nós evidentemente não somos gordofóbicos, né?

Por fim, jamais use a palavra atroz, que vem de ater, “negro” em latim, pois você estará associando a ideia nefasta de atrocidade às pessoas afrodescendentes. E tampouco use a palavra alvo no sentido de meta a ser atingida, já que esse vocábulo significa “branco”, e assim você estará elevando a raça branca ao status de superioridade, perfeição, de objetivo a que todos devem aspirar.

Bem, acho que por hoje já dei minha contribuição para tornar nosso idioma mais inclusivo e menos discriminatório. Em todo caso, se encontrar mais termos preconceituosos, darei prosseguimento ao meu index verborum prohibitorum, ok?

(*) Aldo L. Bizzocchi é doutor em Linguística, palestrante e blogueiro.

Naturalizadas

José Horta Manzano

O que têm em comum as palavras envelope, etiqueta, guichê e raquete? Aparentemente, nada. O que as põe na mesma lista é o fato de virem todas do francês.

O apogeu da França como potência colonial e centro difusor do saber coincidiu com a Revolução Industrial, a expansão da ferrovia, a navegação a vapor. Foi período em que palavras tiveram de ser inventadas pra designar fatos e objetos novos. Como as novidades apareciam na França, as palavras foram criadas no idioma daquele país.

Durante séculos, o francês esteve na posição que ocupa hoje a língua inglesa. Foi o maior fornecedor de termos não só para o português mas para as demais línguas.

Rastros se encontram até hoje, cristalizados, nas mais variadas línguas:

  • Sueco chama a calçada de trottoar (=trottoir) e evento de evenemang (=évènement).
  • Italiano chama mamadeira de biberon (=biberon) e sobremesa de dessert (=dessert).
  • Inglês chama terça-feira de Carnaval de mardi gras (=terça-feira gorda) e beco sem saída de cul-de-sac.
  • Turco chama cadeira de praia de şezlong (=chaise longue) e enxaqueca de migren (=migraine).
  • Alemão chama escritório de Büro (=bureau) e beringela de Aubergine.
  • Espanhol chama a estreia de um artista de debut (=début) e o papel que ele representa de rol (=rôle).
  • Dinamarquês chama motorista de chauffør (chauffeur) e guarda-chuva de paraply (=parapluie).
  • Russo chama concreto armado de Бетон (=béton) e estribilho de Куплет (=couplet).

Em nossa língua, palavras de origem francesa existem de baciada. A maior parte delas está aportuguesada. A quantidade é tamanha, que, em muitos casos, a gente nem se dá mais conta de serem artigos importados.

Madame, abajur, guidom e croqui ainda conservam um pouco de sotaque. Mas quem se lembra de que paletó, filé, chapéu, choque e chantagem entraram um dia de passaporte na mão?

A lista é muito longa. Aqui vai um apanhado bem resumido:

        • carnê
        • patoá (dialeto não escrito)
        • placar
        • cachecol
        • greve
        • jargão
        • purê
        • bijuteria
        • tricô
        • crochê
        • gafe
        • cupom
        • cabaré
        • bidê
        • bufê
        • maionese
        • omelete
        • garagem
        • brevê
        • habitué
        • déjà-vu
        • marrom
        • dossiê,
        • boate
        • cassetete
        • sutiã
        • vitrine
        • suflê
        • couvert
        • croissant
        • avalanche
        • réveillon
        • charrete
        • cachê
        • buquê
        • maiô
        • maquiagem.

      E por aí vai.