José Horta Manzano
Você sabia?
Para quem faltou à aula de Geografia no dia em que falaram sobre fusos horários, dou algumas pinceladas sobre o assunto. Quando é meio-dia em Brasília, é meia-noite em Tóquio, disso todo o mundo já ouviu falar. Mas por que é assim? Porque a Terra é redonda e gira em torno de si mesma, ora. Se ela fosse quadrada ou se não girasse ― como já chegou a sugerir um antigo presidente da República cujo nome neste momento me escapa ―, o problema da hora não existiria. De um lado do cubo seria sempre dia, enquanto o lado oposto viveria em escuridão eterna.
Dado que não é assim, todos os países aderiram à tradicional divisão do dia em 24 horas, que já vem dos tempos babilônicos, e o problema foi resolvido. Como os gomos de uma laranja, a Terra foi dividida em 24 fusos de referência, um para cada hora, tendo como marco inicial o meridiano de Londres ― a potência preponderante no século XIX.
O desenvolvimento das comunicações (estradas de ferro, telégrafo) fizeram que, pouco a pouco, todos os países aderissem ao sistema. O Decreto n° 2784, assinado pelo presidente Hermes da Fonseca em 18 junho 1913, estabelecia no Brasil a Hora Legal. Geógrafos constataram que, devido à sua grande extensão leste-oeste, nosso País abrangia quatro zonas horárias, cobrindo quatro fusos. O decreto oficializava essa realidade e determinava as partes do território nacional que passavam a se enquadrar em cada fuso.
Noventa e cinco anos escorreram sem maiores problemas, até que, um belo dia, um senador do Partido dos Trabalhadores propôs uma lei que, em flagrante colisão com a geografia e com o simples bom-senso, eliminava o quarto fuso horário no Brasil. O Acre e o extremo oeste do Amazonas passavam a se regular pela mesma hora de Mato Grosso do Sul, numa explícita aberração geográfica.
O Congresso Nacional, sempre distraído, aprovou a lei que foi rapidamente sancionada pelo mesmo presidente de que lhes falei acima, aquele da terra quadrada. Um grande perito em temas geográficos.

Brasil ― fusos horários
Dizem as más línguas que a razão principal da bizarra mudança foi a pressão exercida por uma grande emissora de tevê, muito ativa no ramo de novelas. Parece que o quarto fuso lhe causava certos transtornos ― donde o atentado à geografia. Mas há controvérsias. Pode ser que a razão não tenha sido essa. Em todo caso, a ninguém ocorreu, na época, consultar os maiores interessados: a população local. O Brasil é um país de todos, mas é evidente que nem todos os todos são iguais.
A nova lei entrou em vigor como rolo compressor. Mas a população atingida foi assim mesmo às urnas em 2010 e deixou claro que não estava de acordo com a mudança arbitrária. Após três anos de querela jurídica, a nova presidente da República, magnânima, decidiu fazer o que o povo lhe pedia. Acaba de sancionar a lei que anula a esdrúxula mudança de 2008. Fica o dito pelo não dito. A partir de domingo 10 de novembro, o Acre e o Oeste do Estado do Amazonas voltam a integrar o fuso dito GMT menos 5h, de onde nunca deviam ter sido desalojados.
O (para)fuso solto voltou a ser atarraxado.
Curtir isso:
Curtir Carregando...