Fernão Lara Mesquita (*)
Depois da britânica British Academy of Film and Television Arts, a americana Academy of Motion Pictures Arts and Sciences anunciou terça-feira que qualquer filme que queira candidatar-se ao Oscar terá de atender a uma lista de exigências que incluem:
• o uso de atores de grupos raciais ou étnicos sub-representados;
• roteiros centrados nesses temas;
• lideranças criativas ou posições-chave ocupadas por mulheres ou membros de grupos raciais e étnicos, da comunidade LGBTQ+ ou pessoas com problemas físicos ou cognitivos;
• estagiários pagos pertencentes a esses grupos e marketing de distribuição com componentes de diversidade.
Num escalonamento de três anos a começar pelo Oscar do ano que vem, quando pelo menos dois desses quatro quesitos já terão de ser atendidos, as exigências serão crescentes nas áreas de Atuação, Temas e Narrativas, Liderança Criativa e Equipe Técnica, Acesso à Industria e Oportunidades de Desenvolvimento de Audiências.
Na Alemanha nazista, assim como na União Soviética e países da Cortina de Ferro antes da queda do Muro, ou ainda na Coréia do Norte de hoje, normas de adequação política sempre condicionaram absolutamente a produção intelectual e artística, sob pena de morte.
Mesmo nos próprios Estados Unidos, não é a primeira vez que a Academia impõe regras alheias à qualidade do filme como condição para concorrer ao Oscar. Entre 1950 e 1957 eram desqualificados filmes que incluíssem qualquer ator, diretor ou pessoa com função proeminente na produção que tivesse sido membro do Partido Comunista ou que tivesse recusado testemunhar para o Comitê de Atividades Anti-americanas do Congresso, período durante o qual o apedrejamento tornou-se obrigatório para qualquer pessoa sonhando com fazer carreira no cinema americano ou de qualquer outra nacionalidade hoje.
Mesmo com um paralelo tão evidente não caiu a ficha dos novos macarthistas de Hollywood, o que confirma minha tese de que o melhor investimento do momento é comprar lotes de passagens para Marte pois é já que elas estarão sendo disputadas a peso de diamantes nesse mundo insuportavelmente chato que está aí.
(*) Fernão Lara Mesquita é jornalista, articulista do Estadão e editor do blogue Vespeiro