José Horta Manzano
Habitante de país quente, assim que vê sol, tem o reflexo imediato de se proteger. Habitante de país frio, quando vê sol, tem o reflexo imediato de se expor.
Se você recomendar a habitante de país quente que almoce com sol na cabeça, ele vai achar que você não está bom da cabeça. Se você recomendar a habitante de país frio que proteja a cabeça do sol na hora de almoçar, ele vai achar que é você que não está bom da cabeça.
Assim são as coisas. Quem tem em abundância não aprecia; quem vive racionamento dá valor ao que falta.
Todos já hão de ter reparado que europeu adora sol. Não é difícil entender o porquê. O inverno é longo, sem sol, sem calor. Quanto mais ao norte estiver a região, mais castigada será. Por esta época, quando chegam os primeiros dias de bom tempo, com passarinhos cantando e canteiros floridos, todos parecem estar de bom humor. O mundo sorri.
Ainda que nem faça tanto calor, gramados públicos ficam coalhados de gente quentando ao sol feito lagartixa. Cafés e restaurantes com mesas na calçada lotam. Quem mora em casa com jardim ou em apartamento com terraço faz questão de jantar do lado de fora. Todos fazem isso.
Ao final do dia, depois do expediente, o ar se enche de enjoativos eflúvios de gordura queimada. A cada dois comerciais na televisão, um está relacionado com o costume de comer fora: anunciam grelhas, carnes, plantas, móveis de jardim, bebidas que combinam com tempo quente.
No Brasil, ninguém faz muita questão, mas na Suíça e nos países do norte da Europa, apartamento sem terraço é praticamente invendável. Terraço, grande ou mesmo pequeno, é item indispensável. O ritual da refeição tomada ao ar livre tem de ser garantido. Tenho visto apartamentos sem terraço oferecidos à venda que, embora a bom preço, passam meses (e até anos) sem encontrar gente interessada.
Se o distinto leitor, um dia, ganhar na loteria e decidir comprar um apartamento no norte da Europa, cuide bem que ele disponha de terraço. Assim, evitará ter problemas no dia em que resolver revender o imóvel. Se não, periga ficar com um trambolho debaixo do braço.
Balcon
Nós damos preferência aos termos terraço, sacada ou ainda varanda. Nas línguas europeias, a palavra mais comum vem do francês balcon. Balkon, balcone, balcong, balcony são algumas das formas. Alguns etimologistas atribuem à língua árabe a paternidade dessa raiz. Outros veem nela um filhote do alemão antigo balcho, palcho, o que tenderia a demonstrar parentesco entre balcão e palco.