Falam de nós – 22

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Preservativos
O jornal paraguaio Última Hora informa que, no Brasil, o Ministério da Saúde está convidando estudantes de arquitetura, publicidade, desenho gráfico e industrial a espremer as meninges para renovar a embalagem dos preservativos masculinos.

A ideia é dar uma recauchutada no acondicionamento tradicional, um design que já circula há uma década. Os candidatos têm prazo até 11 de setembro para apresentar propostas. Antigamente, a palavra de ordem seria: «Todos à prancheta!». Hoje convém atualizar o bordão, que prancheta é tão antiquada quanto telefone de parede.

Bloqueio de contas
O francês L’Express comunica que a justiça brasileira bloqueou as contas e confiscou todos os bens do Lula. Todos? Será mesmo? Ressalta que, mãezona, a justiça deixou correr uma semana entre o anúncio da condenação e o bloqueio.

O público francês fica sabendo que apenas 165 mil euros foram encontrados nas contas de nosso guia. É lícito supor que a quantia não corresponda ao total arrebanhado indevidamente.

Reforma trabalhista
A edição internacional do diário El País revela que a reforma trabalhista votada estes dias no Brasil está inspirando a vizinha Argentina. O presidente Macri aproveitou a deixa e reforçou críticas à judiciarização das relações trabalhistas que, também entre os hermanos, atinge proporções desmedidas.

Os processos laborais, que somam centenas de milhares a cada ano na Argentina, acabam refreando a oferta de empregos. Em última instância, voltam-se contra os interesses dos próprios trabalhadores ‒ um tiro no pé.

Brrrr
A Televisão Suíça de expressão italiana assim como o jornal austríaco Nachrichten sublinham que o inverno se abateu em cheio sobre o Brasil. Contam que, numa cinquentena de municípios sulinos, temperaturas abaixo de zero foram registradas. Num deles, os termômetros marcaram inabituais 7,5 graus abaixo de zero. Informam também que nevou em diversas localidades.

No imaginário europeu, o Brasil é país de praia, sol, calor e pouca roupa. Notícia de neve e frio é sempre surpreendente. Tivesse acontecido na Finlândia, não sairia no jornal.

Chinelo de dedo
O periódico francês Le Point aproveita para destacar a venda da marca de sandálias Havaianas. Diz que aqueles empresários de nome simplório e sobrenome pio, sócios majoritários da empresa, cederam suas ações a recém-criado consórcio por módica soma beirando um bilhão de euros.

O jornal conta, em poucas linhas, a história do chinelo de dedo que, até vinte anos atrás, era considerado calçado de pobre e hoje é visto como adereço (quase) normal. Os leitores ficam sabendo que há modelos especiais, feitos para os mais abonados. Levam cristais sintéticos incrustados e são vendidos a 60 euros cada par. Tem gosto pra tudo.

A menção aos 200 milhões de pares vendidos, ano sim outro também, apaga o susto com as geadas dos últimos dias e repõe as coisas nos devidos lugares. O Brasil continua sendo país de praia, sol, calor, pouca roupa e… sandálias de plástico coloridas.

Sem escala

José Horta Manzano

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro eram para ser a cereja em cima do bolo, a consagração do Estado Novo reencarnado. Deviam cobrir de louros a cabeça de nosso guia genial simbolizando o ápice de sua estupenda carreira. Deviam gravar, no mármore do panteão nacional, a memória imorredoura do admirável líder-mor.

Mas a vida é cruel. O Mensalão, o Petrolão, a Lava a Jato, o vexame dos 7 x 1, as delações, as condenações, o espectro da Papuda, a catástrofe econômica, a inflação paralisante, a fuga de cérebros, a humilhação imposta por agências de notação, a aproximação de Cuba com os EUA, a desaceleração da China contribuíram para o desmoronamento do projeto.

Televisão Suíça ‒ captura de tela

Televisão Suíça ‒ captura de tela

As Olimpíadas passaram a segundo plano. A cereja que devia enfeitar o bolo está podre. O golpe de graça está sendo assestado pelo vírus Zika. Em todas as línguas, o mundo está sendo alertado para o perigo. A mídia internacional desaconselha fortemente toda visita à América do Sul, em especial ao Brasil. A advertência é imperativa para grávidas.

No Brasil, há quem pressinta que estamos em meio a uma década perdida. Guardando as devidas proporções, a situação atual chega a evocar um panorama que não se observava havia mais de um século.

Televisão Suíça ‒ captura de tela

Televisão Suíça ‒ captura de tela

Na virada do século XIX para o século XX, o Rio de Janeiro era uma cidade suja, infestada de focos de doenças tropicais ‒ malária e febre amarela principalmente. Antes do saneamento orquestrado por Oswaldo Cruz e apoiado pelo presidente Rodrigues Alves, europeus evitavam visitar a cidade.

Revolta da Vacina, 1904

Revolta da Vacina, 1904

Companhias italianas de navegação tranquilizavam os passageiros ‒ imigrantes que se dirigiam à Argentina ‒ garantindo que a viagem seria direta, «senza scalo a Rio de Janeiro», sem escala no Rio.

Mais cedo ou mais tarde, a epidemia de febre zika há de ser refreada. A endemia de violência e criminalidade, infelizmente, ainda vai afugentar visitantes por algum tempo.

Alguns alertas:
Televisão Pública, Suíça
Sydney Morning Herald, Austrália
La Repubblica, Itália
Portal Yle, Suécia

Os boias-frias suíços

José Horta Manzano

Você sabia?

Para ter consistência, toda agremiação precisa contar com membros que tenham um mínimo de pontos em comum. Quanto maior for a disparidade entre os componentes, maior será a dificuldade em manter a coesão e a coerência do grupo.

Um dos grandes erros cometidos pela União Europeia foi ter acolhido países cujo nível socioeconômico destoa da média dos demais sócios. A UE tem quase sessenta anos. Conta com 28 membros, dos quais 13 foram admitidos nos últimos dez anos. Foi uma precipitação prejudicial a todos.

PIB europeu per capita Fonte: Eurostat 2014

PIB europeu per capita
Fonte: Eurostat 2014

Melhor teria sido primeiro ajudar países mais pobres a se desenvolver para, em seguida, permitir-lhes matricular-se no clube. O caso mais emblemático foi a admissão da Romênia, em 2007.

O PIB daquele país equivale à metade da média europeia. A disparidade social e econômica é abissal. Como integrantes do clube, podem circular livremente. O resultado é que grande quantidade de romenos se espalham pelo resto da União em busca de trabalho. Esse excesso de oferta de mão de obra alegra patrões mas põe salários em risco e desagrada funcionários tradicionais.

A Suíça, que assinou tratado de livre circulação com a União Europeia, também sente o baque. Romenos podem entrar no país sem visto. O último escândalo de exploração de trabalhadores estourou estes dias por aqui.

Computador 5A empresa Stefanini – multinacional brasileira do ramo de tecnologia – presta serviço à Firmenich, gigante mundial em desenvolvimento de perfumes, aromas e sabores artificiais. A probabilidade é grande de o sabor ‘morango’ do seu iogurte ou o perfume ‘lavanda’ do seu desodorante terem sido desenvolvidos pela firma suíça.

Para cumprir contrato firmado com a Firmenich, a multinacional brasileira dá emprego, em Genebra (Suíça), a técnicos em computação. Foi buscar seus funcionários na… Romênia. Paga a eles 800 francos por mês, salário que não permite a ninguém sobreviver neste país. Para evitar que morram de frio ou fome, a bondosa Stefanini providencia a seus semiescravos alimentação e transporte. Oferece-lhes alojamento coletivo. São tratados como os boias-frias brasileiros.

Não há salário mínimo nacional na Suíça. Os acordos são setoriais. Os bares, restaurantes e hotéis têm seu acordo. Os comerciários têm o seu, e assim por diante. Como nenhum acordo existe no ramo da informática, a generosa multinacional brasileira está dentro da legalidade.

Como estamos todos cansados de saber, nem tudo o que é legal é ético.

Interligne 18c

O jornal da Televisão Suíça dedicou matéria de dois minutos ao assunto. Que clique aqui quem quiser assistir.