Refém da eleição

Bandeira brasileira, refém da eleição

José Horta Manzano

A foto tirada em BH atravessou o Atlântico e chegou à imprensa francesa. Era pra ser alegre, com todas aquelas bandeirinhas em formato flâmula a compor uma cena comum a todas as Copas. Tinha sido assim em 2018, em 2014, em 2010 e nas anteriores. Só que…

Só que, desta vez, o cenário está sombrio. A falta de imaginação da franja doente de nossa sociedade não lhe permitiu criar símbolo próprio. Na ausência de símbolo, as cores nacionais, que são de todos, foram monopolizadas por aqueles cuja argumentação se faz pela granada e pelo fuzil.

Como se vê na ilustração, a revista L’Express gastou três linhas para explicar a seus incrédulos leitores o caso peculiar de um país em que a bandeira nacional foi sequestrada por uma parte da população – na indiferença dos demais, que agora têm de dar explicações para poder agitar o símbolo maior.

O Brasil decente não se preocupou em defender a bandeira. Entregou-a, sem luta, aos discípulos do cafajeste.

Falam de nós – 22

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Preservativos
O jornal paraguaio Última Hora informa que, no Brasil, o Ministério da Saúde está convidando estudantes de arquitetura, publicidade, desenho gráfico e industrial a espremer as meninges para renovar a embalagem dos preservativos masculinos.

A ideia é dar uma recauchutada no acondicionamento tradicional, um design que já circula há uma década. Os candidatos têm prazo até 11 de setembro para apresentar propostas. Antigamente, a palavra de ordem seria: «Todos à prancheta!». Hoje convém atualizar o bordão, que prancheta é tão antiquada quanto telefone de parede.

Bloqueio de contas
O francês L’Express comunica que a justiça brasileira bloqueou as contas e confiscou todos os bens do Lula. Todos? Será mesmo? Ressalta que, mãezona, a justiça deixou correr uma semana entre o anúncio da condenação e o bloqueio.

O público francês fica sabendo que apenas 165 mil euros foram encontrados nas contas de nosso guia. É lícito supor que a quantia não corresponda ao total arrebanhado indevidamente.

Reforma trabalhista
A edição internacional do diário El País revela que a reforma trabalhista votada estes dias no Brasil está inspirando a vizinha Argentina. O presidente Macri aproveitou a deixa e reforçou críticas à judiciarização das relações trabalhistas que, também entre os hermanos, atinge proporções desmedidas.

Os processos laborais, que somam centenas de milhares a cada ano na Argentina, acabam refreando a oferta de empregos. Em última instância, voltam-se contra os interesses dos próprios trabalhadores ‒ um tiro no pé.

Brrrr
A Televisão Suíça de expressão italiana assim como o jornal austríaco Nachrichten sublinham que o inverno se abateu em cheio sobre o Brasil. Contam que, numa cinquentena de municípios sulinos, temperaturas abaixo de zero foram registradas. Num deles, os termômetros marcaram inabituais 7,5 graus abaixo de zero. Informam também que nevou em diversas localidades.

No imaginário europeu, o Brasil é país de praia, sol, calor e pouca roupa. Notícia de neve e frio é sempre surpreendente. Tivesse acontecido na Finlândia, não sairia no jornal.

Chinelo de dedo
O periódico francês Le Point aproveita para destacar a venda da marca de sandálias Havaianas. Diz que aqueles empresários de nome simplório e sobrenome pio, sócios majoritários da empresa, cederam suas ações a recém-criado consórcio por módica soma beirando um bilhão de euros.

O jornal conta, em poucas linhas, a história do chinelo de dedo que, até vinte anos atrás, era considerado calçado de pobre e hoje é visto como adereço (quase) normal. Os leitores ficam sabendo que há modelos especiais, feitos para os mais abonados. Levam cristais sintéticos incrustados e são vendidos a 60 euros cada par. Tem gosto pra tudo.

A menção aos 200 milhões de pares vendidos, ano sim outro também, apaga o susto com as geadas dos últimos dias e repõe as coisas nos devidos lugares. O Brasil continua sendo país de praia, sol, calor, pouca roupa e… sandálias de plástico coloridas.

Pra estragar o carnaval

José Horta Manzano

Estes dias de carnaval anestesiam o Brasil. Políticos entram em recesso, a classe média tira férias, o povão tem folga. O país vive entre parênteses e (quase) chega a esquecer as mazelas. Fica a impressão de que, por um momento, o país sossegou.

Infelizmente, não passa de ilusão. Olhos estrangeiros, estranhos aos excessos momescos, permanecem alertas. Além-fronteiras, nossos problemas continuam (bem) visíveis. Eis um apanhado de manchetes de ontem.

Carnaval 1L’Express (França)
«Brésil: le fils de Pelé condamné en appel à près de 13 ans de prison»
«Brasil : o filho de Pelé condenado em segunda instância a quase 13 anos de cadeia»

Der Spiegel (Alemanha)
«Gefängnisse in Brasilien: das Grauen hinter Gittern»
«Cadeias brasileiras: o horror atrás das grades»

Il Post (Italia)
«Il caso sulla corruzione in Brasile è tracimato»
«O caso de corrupção no Brasil transborda»
O artigo faz alusão à Lava a Jato que se alastra por uma dúzia de países

Reuters (Reino Unido)
«Brazil faces almost lost decade due to crisis: economists»
«Segundo economistas, o Brasil enfrenta quase uma década perdida devido à crise»

L’Équipe (França)
«Brésil: l’électricité de retour au Maracana»
«Brasil: volta a eletricidade ao Maracanã»
O artigo esclarece que a luz do estádio maior havia sido cortada por falta de pagamento.

O estádio do Maracanã já conheceu dias melhores

O estádio do Maracanã já conheceu dias melhores

El Comercio (Peru)
«Brasil: ‘Campos de concentración’, una historia para el olvido»
«Brasil: ‘Campos de concentração’, uma história para esquecer»
O artigo relata história pouco conhecida de campos de concentração montados em 1915 e em 1932 para receber nordestinos flagelados pela seca excepcional.

AfärsLiv24 (Suécia)
«Brasilien: 12,9 miljoner arbetslösa»
«Brasil: 12,9 milhões de desempregados»

Meteoweb (Italia)
«Febbre Gialla: in Brasile emergenza in 64 città, 83 morti»
«Febre amarela: situação de urgência em 64 cidades brasileiras, 83 mortos»

The Times of India (India)
«Brazil’s worst-ever recession likely extended into 4th qtr»
«A pior recessão jamais ocorrida no Brasil entra no quarto trimestre»

Radio France Internationale (França)
«Brésil: sur fond de crise, un carnaval de Rio au goût amer»
«Brasil: em cenário de crise, um carnaval carioca de sabor amargo»

carnaval-13Public Radio International (EUA)
«Dozens of cities across Brazil are canceling Carnival»
«Dezenas de cidades brasileiras cancelam o carnaval»

L’Expansion – L’Express (França)
«Corruption au Brésil: un ministre clé mis en cause»
«Corrupção no Brasil: importante ministro implicado»

Sputnik News (Rússia)
«Brasil: en nueve meses renunciaron ocho ministros por sospechas de corrupción»
«Brasil: em nove meses, oito ministros renunciaram por suspeita de corrupção»

Berliner Kurier (Alemanha)
«Horror-Karneval in Brasilien: täglich werden bis zu 50 Kinder missbraucht»
«Carnaval de horror no Brasil: abuso de até 50 crianças a cada dia»

dilma-e-lofven-2Arbetaren (Suécia)
«Sveriges vapenexport till diktaturer ökar»
«Crescem as exportações de armamento sueco para ditaduras»
O artigo ressalta o maior contrato firmado no ano anterior: a venda dos aviões Saab-Gripen ao Brasil. O texto é ilustrado por uma foto de Dilma Rousseff instalada na cabine de um caça. Reparem que o jornal inclui o Brasil no rol das ditaduras.

Bom carnaval a todos !