Autobiografia precoce

“Je m’appelle Kylian” – Tarde de autógrafos

José Horta Manzano

É raro ver autobiografia escrita por um jovem de 22 anos. Faz alguns dias, saiu uma. Vem assinada pelo astro do futebol francês Kylian Mbappé e tem uma particularidade: não foi escrita em prosa, mas como história em quadrinhos, um achado. A história foi contada pelo próprio futebolista, mas as imagens são da prancheta de um desenhista especializado.

O editor (e os autores) têm grande expectativa quanto ao volume de vendas. A primeira edição saiu com 300 mil exemplares. A proximidade das festas de fim de ano não é coincidência: a criançada vai fazer fila nas livrarias.

Uma sessão de autógrafos foi organizada ontem em Paris, especialmente dedicada aos admiradores-mirins do astro. Pra evitar tumulto, a entrada foi limitada a 150 crianças previamente inscritas. Saíram todos com os olhinhos brilhando de emoção de ter passado um instante cara a cara com o ídolo.

Mbappé e Neymar, como todos sabem, têm contrato com o mesmo clube, o PSG – Paris Saint Germain. Só que tem uma diferença que conta: Mbappé é francês, enquanto Neymar não passa de um estrangeiro. Pra piorar, as entrevistas do brasileiro precisam ser traduzidas porque, em 4 anos na França e apesar de ser ainda jovem, ele parece não ter feito esforço pra aprender a língua local. Nunca se ouviu o moço pronunciar uma palavra de francês em público. Nem mesmo um “merci”; ele só se exprime em espanhol. Os torcedores do clube provavelmente vêem essa atitude como desdém, e se encrespam. Quando podem, dão o troco.

Fico pensando no curioso destino futebolístico de Neymar. Dinheiro é o que não falta ao rapaz; ele ganha por dia o que a maioria de nós não ganha numa vida inteira de trabalho. Fora isso, parece que ele tem pé frio. Se machuca com frequência. Já jogou duas Copas do Mundo com a Seleção, mas não teve sucesso. Jogou no Barça, onde sua figura foi ofuscada pelo Messi.

Em 2017, quando assinou com o PSG, achou que sua vez tinha chegado. Mas a alegria durou pouco. Logo no ano seguinte, a França ganhou a Copa e projetou o nome do rapazote Mbappé. Resumindo, o azarado Neymar se livrou do Messi pra cair na sombra do francês.

Bom, sombra ou não, azarado ou não, o fato é que o rapaz tem muito, mas muito, dinheiro. É verdade que dinheiro não traz felicidade, mas… ajuda bastante.

Falam de nós – 28

José Horta Manzano

Neymar, jogador de futebol, é figurinha conhecida no mundo todo. Mais que os demais países, o Brasil e a França o consideram como alguém de casa. O Brasil, naturalmente, porque o moço nasceu e cresceu aqui. E a França, porque ele está contratado pelo time de Paris – que, de parisiense, tem cada vez menos, dado que é propriedade pessoal de um príncipe do Catar; mas isso não vem ao caso.

No Brasil e na França, as vicissitudes do turbulento rapaz têm ocupado lugar de destaque na mídia. O esbanjamento típico de novo-rico, como o deslumbrante solar em que ele vive nos arredores de Paris, encantam alguns, mas deixam muita gente irritada. A agressividade que o jovem demonstrou outro dia contra um torcedor não ajudou a melhorar sua imagem perante a opinião pública.

Essa história um tanto indecorosa do desentendimento entre ele e a moça mandada vir do Brasil para fins de namoro rápido anda dando pano pra mangas. Na minha visão pessoal, esse assunto é do foro íntimo dos dois amantes e deveria ser resolvido entre eles. Mas cada um dá às próprias mazelas o tratamento que lhe parece mais adequado.

by Moisés de Macedo Coutinho (1972-), desenhista paulista

Meio boquiaberta, a imprensa francesa tomou conhecimento de que, no caso do pretenso estupro, o presidente do Brasil apoia Neymar. Pátria dos direitos humanos, a França faz questão de repetir, a quem interessar possa, que respeita a presunção de inocência. Ninguém será considerado culpado antes de ser julgado e condenado. Daí o espanto geral ao ver que nosso mandatário-mor não só respalda o acusado, como também vai de visita ao hospital onde ele está internado e ainda tira selfie. O presidente escolheu seu campo antes mesmo de qualquer decisão da Justiça. No entender dele, seja o que tiver acontecido entre os pombinhos, a culpada é a moça. É uma aposta arriscada.

Pra quem não sabe direito o que caracteriza um político populista, aí está mais um elemento de informação. Repetindo o que Lula da Silva fez durante sua longa gestão, doutor Bolsonaro fatura em cima do futebolista brasileiro mais em voga. Até aí nada demais. O que ele não devia fazer é dar apoio ao acusado de um crime que ainda está em fase de investigação. Suponhamos que Neymar seja considerado culpado e acabe sendo condenado – como é que fica? Doutor Bolsonaro vai continuar apadrinhando um criminoso? A imprudência periga custar-lhe caro.

Eco na mídia francesa:
BFM – Canal de televisão
La Croix – Jornal impresso e online
Orange – Portal esportivo

A camiseta e o marketing

José Horta Manzano

Na França, um detalhe da Páscoa de doutor Bolsonaro chamou a atenção do distinto público. Foi quando o presidente, que parecia tomado pelo espírito de Dilma Rousseff, saiu por aí dando voltinhas de motocicleta.

by Jean Galvão (1972-), desenhista paulista

Fosse só isso, não teria sido notícia na França, país cujos jornais ainda estão preocupados com o incêndio de Notre-Dame, com os atentados do Ceilão (Sri Lanka), com as depredações dos «Coletes Amarelos». O que chamou a atenção foi o fato de doutor Bolsonaro estar vestido com uma camiseta do PSG (Paris Saint-Germain), o mais importante time de futebol do país.

Nas encenações de marketing moderno, todo detalhe tem importância. Atônitos, os analistas ainda estão tentando decifrar a mensagem que se esconde atrás da camiseta. Seria o número 10 alusão a Neymar? Por que o número está gravado na frente, no estilo do futebol americano? Por que ele não vestiu uma camiseta da Seleção? Se parou para a foto, é porque queria ser visto. Por que razão?

Podem discutir dias e dias, mas acho que não vão encontrar nenhuma explicação lógica. O marketing caseiro dos Bolsonaros costuma ser atabalhoado, sem pé nem cabeça. O que parece nem sempre é. Melhor deixar pra lá. Talvez não haja marketing nenhum e a resposta seja prosaica: o quarto estava escuro e o doutor só apanhou aquela camiseta porque ela estava no topo da pilha.

Observação futebolística
Na França, a força do PSG – Paris St-Germain é tamanha que os bolões esportivos nem perguntam mais quem será o campeão. A resposta é conhecida antes do começo do campeonato. As apostas começam do segundo colocado pra baixo.

O futuro das filhas do futebolista

José Horta Manzano

Bola futebolMaxwell Scherrer Cabelino Andrade, capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, é jogador de futebol. Por ter atuado desde jovem no exterior, é pouco conhecido no Brasil.

Aos 20 anos foi contratado pelo Ajax de Amsterdam e, desde então, seguiu carreira na Europa. Na sequência, foi contratado pelo Internazionale de Milão (Itália) e pelo Barcelona (Espanha). Faz três anos que o moço joga no Paris Saint-Germain.

Atualmente com 33 anos, o jogador vê aproximar-se a hora de pendurar as chuteiras. Em entrevista ao portal francês Goal, abriu-se e gerou a manchete: «Maxwell ne veut plus rentrer au Brésil» – «Maxwell não quer mais voltar para o Brasil».

É sabido que todo futebolista brasileiro em fim de carreira arruma um contratozinho em terra tupiniquim. Um ou outro vai para os EUA, mas a maioria prefere mesmo a terra tropical. Por que será que esse defensor do PSG pensa diferente? Na entrevista, ele mesmo conta.

Maxwell confessa ter sucumbido aos encantos de Paris. O que mais o deixa maravilhado é a oferta histórico-cultural da cidade. Museus estão por toda parte. O jogador considera que, para suas filhas, é uma grande sorte poder continuar vivendo na França. Crescendo naquele ambiente, elas terão oportunidades muito maiores do que se estivessem no Brasil.

Futebol Maxwell«Estou feliz de poder dar a elas algo que eu não recebi quando criança» – acrescenta o esportista. E completa: «A coisa mais preciosa que posso deixar a minhas filhas é a educação. Acredito que voltar ao Brasil hoje não seria a melhor solução para elas».

Como as coisas mudam, distinto leitor! Até dez ou vinte anos atrás, o sonho maior de todo brasileiro que tivesse vivido no exterior era voltar um dia para a terra natal. Praia, coqueiro, rede, sombra e água de coco falavam mais alto. Hoje, já não é mais sistematicamente assim.

Se bem que, com a Pátria Educadora… quem sabe as coisas mudam? Parece que agora vai.