Impeachment, impedimento

José Horta Manzano

Pela nossa legislação, qualquer cidadão da República pode solicitar a destituição do presidente da República. O pedido fundamentado de impeachment(*) será acompanhado de provas documentais e mencionará 5 testemunhas. Deve ser apresentado à Câmara Federal, que proverá.

É interessante fazer as contas de quantos pedidos de impeachment foram apresentados contra os seis presidentes que antecederam Bolsonaro. Fiz as contas de quanto tempo cada presidente permaneceu no trono e comparei com os pedidos de destituição que sofreu. O resultado é interessante.

Itamar recebeu
um pedido de impeachment a cada 183 dias

FHC recebeu
um pedido de impeachment a cada 108 dias

Lula recebeu
um pedido de impeachment a cada 79 dias

Collor recebeu
um pedido de impeachment a cada 42 dias

Dilma recebeu
um pedido de impeachment a cada 30 dias

Temer recebeu
um pedido de impeachment a cada 26 dias

e agora, senhoras e senhores, o campeão estourado:

Bolsonaro recebeu
um pedido de impeachment a cada 11 dias!

Como diz Dona Cultura
Todo mal tem sua cura
Água mole em pedra dura

Tanto bate até que fura

Desde tempos antiquíssimos já se sabe que, no final, a insistência sempre acaba vencendo. Apesar da (frágil) barreira representada por cupinchas de circunstância instalados na Câmara, não custa insistir. Pedir o impeachment de Bolsonaro sai de graça e pode render dividendos inestimáveis. Livrar-se do homem não tem preço: vale mais que acertar no milhar. Já preparou seu pedido?

Na origem, o impedimento era feito por meio de um trabelho para entravar os pés e impedir a marcha.

(*) Impeachment é palavra que importamos diretamente do inglês. É substantivo derivado do verbo to impeach. Adotamos com casca e tudo, sem mexer em uma letra sequer.

O inglês importou essa palavra do francês empêcher, lá pelos anos 1300. Na travessia do Canal da Mancha, o verbo sofreu alteração de sentido. Em francês, equivalia a nosso impedir; em inglês, adquiriu o senso de impugnar, incriminar, acusar alguém de crime contra o Estado.

Por seu lado, o francês recebeu o termo do latim medieval impedicare, evolução do latim clássico impedire, que equivale a nosso impedir.

No original latino, o verbo é composto pela partícula in + pes/pedis (=pé). Impedire, na origem, traz a ideia de prender os pés, atravancar, não deixar andar, segurar.

Não é bem o sentido que atribuímos a nosso impeachment nacional. A intenção não é segurar o presidente. O que se quer é o contrário: vê-lo pelas costas. Que corra sem olhar pra trás, vá-se embora pra bem longe e não volte nunca mais.

Xô, urubu!

José Horta Manzano

Os franceses estão deslumbrados diante da possibilidade, cada dia mais real, de se tornarem campeões do mundo de futebol pela segunda vez. Mas não estão nada tranquilos.

Semana passada, tinham quase certeza de que, se chegassem à final, iam encontrar a Inglaterra, uma seleção que lhes parecia fácil de encarar. No entanto, deu Croácia, um time aguerrido. Estão engolindo em seco.

Pra complicar, a figura aziaga de Mister Mick Jagger, componente dos Rolling Stones, está ameaçando surgir no horizonte. Pé frio mundialmente reconhecido, o homem é um perigo!

A carreira de azarento de Mister Jagger é pontilhada de insucessos. Dos jovens anos do cantor, pouco se sabe. Certo é que, a partir da Copa do Mundo de 2010, ele nunca desmentiu a fama de beijo frio.

Nas oitavas de final daquele ano, torceu pra Inglaterra ‒ seu país ‒, que deu vexame ao perder de 4 a 1 para a Alemanha e ter de voltar pra casa. Dias depois, a convite da federação americana, assistiu ao encontro EUA x Gana, que terminou com a vitória do país africano por 2 a 1. Nas quartas de final, é enrolado numa bandeira brasileira que testemunhou a eliminação do Brasil diante da Holanda (1 x 2).

Em 2014, a aventura continuou. O homem tranquilizou os italianos ao prever que a Itália passaria tranquilamente às oitavas de final ‒ o país foi eliminado na fase de grupos. Avisou aos portugueses que levantariam a taça ‒ foram eliminados pela Espanha igualmente na fase de grupos. Mais enervante ainda foi a “força” que deu ao torcer pela Seleção no Mineirão naquele terrível 7 x 1.

Nesta Copa da Rússia, o cantor foi visto torcendo por sua Inglaterra quando ela foi derrotada pela Bélgica e perdeu toda esperança de ser campeã do mundo. Visto que ele continua deambulando pela Rússia, jornalistas franceses quiseram saber o que ele acha da final de domingo próximo. Quem vai ganhar? A resposta: «Acho que vai ser a França, mas ainda não tenho certeza».

De dedos cruzados, os franceses andam espalhando sal pela casa. Só não rezam novena porque não dá tempo. Te esconjuro!

Terra do cruz-credo

José Horta Manzano

Você sabia?

Assalto 2Como faz a cada ano, o respeitado instituto mexicano Seguridad, Justicia y Paz publicou estudo que mede a criminalidade urbana no planeta. Divulgou a lista das 50 cidades mais violentas do mundo – pelo critério de número de homicídios em relação à população.

O país campeão estourado em matéria de violência urbana – o distinto leitor já deve desconfiar – é nossa amada Terra de Santa Cruz. Que digo? Santa Cruz? Está mais para cruz-credo!

A lista de 2013 trazia 16 cidades brasileiras entre as 50 mais violentas do mundo. A edição 2014 não só confirma a presença das mesmas dezesseis como também acrescenta três: são agora 19. Em números redondos, quatro entre as dez cidades mais violentas – considerados todos os continentes e todos os países – se encontram no Brasil. Nosso País segue firme na vanguarda do crime. Nossa dianteira é de tal importância que dificilmente poderemos ser alcançados. Somos imbatíveis.

Crime 1Contrastando com as autoridades das outras 18 cidades brasileiras mencionadas no estudo, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás não gostou de ver a capital do Estado mais uma vez na lista da vergonha.

Aderindo a estratégia muito em voga no Brasil atual, tentou menosprezar a mensagem e «desconstruir» o mensageiro. Criticou o instituto mexicano, sua metodologia e seus dados. Tentou desqualificar e desmerecer o estudo. Disse que estavam errados, que não era bem assim, que, no fundo, não se matava tanto em Goiânia.

Charge publicada no site Seguridad, Justicia y Paz

Charge publicada no site
Seguridad, Justicia y Paz

Mexeram em vespeiro. Tiveram direito a uma longa resposta, com números, fontes e tabelas, assinada pelo presidente do instituto. O artigo está em destaque no site da ong, exposto a quem quiser ler. As autoridades goianas atiraram no estafeta e acertaram o próprio pé. Para coroar, ganharam a charge que vai reproduzida aqui acima.

As 19 cidades brasileiras constantes da lista das 50 mais violentas do mundo em 2014 são as seguintes:

Posição   Cidade             Taxa(1)
———————————————————————————————————
04        João Pessoa        79,41
06        Maceió             72,91
08        Fortaleza          66,55
10        São Luís           64,71
11        Natal              63,68
15        Vitória            57,00
16        Cuiabá             56,46
17        Salvador           54,31
18        Belém              53,06
20        Teresina           49,49
23        Goiânia            44,82
29        Recife             39,05
30        Campina Grande     37,97
33        Manaus             37,07
37        Porto Alegre       34,65
39        Aracaju            34,19
42        Belo Horizonte     33,39
44        Curitiba           31,48
46        Macapá             25,45

(1) Homicídios intencionais por 100 mil habitantes

Para efeito de comparação, note-se que a taxa global brasileira beira 25 homicídios intencionais por 100 mil habitantes, número altíssimo.

Assalto 1É verdade que estamos numa situação menos sinistra que a infeliz Venezuela (45 por 100 mil). No entanto, estamos bem longe de uma Alemanha (0,8), de um Japão (0,4) ou de uma pacífica Hong Kong (0,2). Ainda temos longo caminho a percorrer. Será trabalho para as próximas gerações. Com sorte, os netos de nossos netos conhecerão um país mais civilizado.

Obs:
Quem quiser consultar o estudo completo do instituto, pode descarregá-lo, em língua portuguesa e em formato pdf, aqui.