José Horta Manzano
Nem toda notícia sai nos jornais. A não ser que haja vazamento, comunicações “top secret” entre personagens dos altos círculos do poder (nacional ou internacional) passam longe das manchetes.
O caso dos falsos atestados de vacinação está aí para provar. A grande dúvida sempre foi se Bolsonaro tinha ou não tinha tomado vacina. Foi preciso a Polícia Federal quebrar certos segredos para descobrir o que ninguém jamais havia imaginado: no andar de cima, as autoridades que deviam cuidar do país estavam forjando atestados falsos de vacinação, como num filme noir francês em que falsários trabalham num subsolo, à meia-luz, fabricando dinheiro ilegal.
As inacreditáveis declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia horrorizaram os países democráticos. Em seguida, elas sumiram das manchetes. Mas não se engane! Nossos parceiros norte-americanos e europeus não se esqueceram nem pretendem deixar barato. Pressões irresistíveis devem estar atazanando Luiz Inácio, exortando-o a reconsiderar sua posição.
E é o que ele está tentando fazer. A contragosto, diga-se. Anda de banda feito caranguejo. Nessa matéria, age como quem fala mais por obrigação que por convicção. Percebe-se que está acuado, encostado à parede. Suas bravatas de moleque estão lhe custando caro.
Com meia dúzia de frases de botequim, Lula conseguiu destruir a imagem simpática e amena que o planeta havia guardado dele após dois mandatos e uma passagem pela casa prisão. Foi uma pena. Aquelas frases desgraçadas ecoaram forte e fizeram soar o alerta vermelho na chancelaria de todos os países democráticos.
Como é que é? Lula, o simpático pai dos pobres, que se posiciona do lado da Rússia de Putin e da China de Xi Jinping? Lula, o humanista, que desdenha a gravidade da invasão da Ucrânia e o sofrimento da população bombardeada? De repente, o posicionamento esdrúxulo de Luiz Inácio virou pesadelo para muitos dirigentes estrangeiros. E agora? Como encarar um Brasil que desliza para o lado obscuro da História?
Num primeiro momento, imaginei que, ao pronunciar as frases desconcertantes, nosso presidente estivesse num momento de mau humor ou talvez inebriado por estar de novo viajando de aerolula em terras estrangeiras. É incrível como dirigentes, quando estão longe de casa, se sentem à vontade para dizer besteira, na crença de que não haverá consequências.
Estes dias, dei de cara com o recorte que reproduzi acima, na entrada deste artigo. O jornal cita uma fala de Celso Amorim, nosso inoxidável “assessor especial de política externa”. Com a arrogante superioridade de quem está pra perder a paciência, o assessor informa que o Brasil pode até se dignar de socorrer os beligerantes, mas só o fará quando ambos “se cansarem da guerra”.
Além de exalar soberba, a frase é de uma maldade inominável. Amorim renega seu passado de diplomata de alto nível e desce ao nível do chefe. Luiz Inácio disse que “quando um não quer, dois não brigam”. Agora vem seu “assessor especial” prometer ajuda quando país agressor e país agredido “se cansarem de guerra” – frase terrível de desdém pela infelicidade de um povo agredido. Uma falta de empatia tão grande choca.
Meditei. O que estará ocorrendo? Será que as tristes falas de Lula já refletiam, desde o começo, o ponto de vista do “assessor especial”? Se assim for, Lula agiu como papagaio de Amorim. Ou será que, para agradar ao chefe, o “assessor especial” é que teria jogado ao lixo os ensinamentos angariados nos tempos em que era diplomata, para adotar o antiamericanismo primitivo de Luiz Inácio?
Seja como for, o retrato é dramático. Um presidente escorrega feio, leva um pito internacional e tenta recuar andando de costas com visível desconforto. Na contramão, um “assessor especial” volta de uma visita a Kiev requentando as besteiras do chefe e colocando-as de volta no balcão das “commodities” brasileiras. Para que todos vejam.
São dois pra lá, dois pra cá. Até que não seria dramático se o papel de nosso país na cena internacional fosse dançar bolero. Mas, na medida que o Brasil abandona aliados e se aproxima de Estados criminosos, nosso desempenho está mais pra valsa do adeus.