José Horta Manzano
De onde vem a palavra?
Nosso vocábulo embaixador tem origem um tanto controversa. Os estudiosos se dividem em duas correntes.
Alguns acreditam que a palavra embaixada provenha de uma voz latina ambaxus, que significa servo, servidor.
No entanto, a maior parte dos etimologistas considera que embaixada seja de origem germânica. É parente do termo Amt, que, no alemão moderno, equivale ao bureau francês e ao office inglês. Em português, Amt se traduz por repartição, secretaria, departamento – dependendo do contexto.
Seja qual for a origem, embaixada e embaixador traduzem uma noção de serviço prestado. De serviço prestado ao público, mais precisamente.
Como atiçar (mais) uma crise
Neste domingo, vazou a notícia de que doutor Bolsonaro proibiu seus ministros de entrarem em contacto com o embaixador da China no Brasil.
Está, portanto, vedado a todos os ministros, assessores e auxiliares do presidente receber o embaixador, visitá-lo ou comunicar-se com ele por qualquer meio que seja. Como já explicou uma vez nosso ministro da Saúde, “um manda e outro obedece”. É de crer que, também desta vez, a ordem presidencial será cumprida. Sem um pio.
É de conhecimento de todos que nosso presidente é ignorante em matéria de relações internacionais. Só que tem uma coisa: ainda que sejam ignoradas, regras são regras e continuam a existir.
A função diplomática é carregada de simbologia. Recusar-se a receber o representante oficial de um país estrangeiro é ofensa grave feita àquele país. Enquanto o desplante é obra de um dos bolsonarinhos arteiros, sempre se pode pôr na conta de desvario de adolescente desocupado. Quando, porém, a afronta vem do presidente em pessoa, a coisa sobe de patamar e se torna oficial.
Se o embaixador está em Brasília a representar seu país, é porque foi acreditado pelo governo brasileiro, ou seja, recebeu o que em francês diplomático se diz “agrément”.
Ao rejeitar esse senhor e privá-lo do exercício de suas funções, o governo brasileiro o está descredenciando, o que equivale a declará-lo persona non grata (= pessoa indesejável), um convite a deixar rapidinho o território nacional.
Talvez o governo chinês, que é pragmático, consinta em engolir (mais) essa cobra. Mas pode até ser que estejam de paciência esgotada. Se reagirem expulsando o embaixador do Brasil em Pequim, que ninguém se surpreenda.
Caro Manzano, não vou nem comentar mais essa fanfarronice do nosso JB porque esse presidente é “hors concours” em matéria de grosseria e inabilidade política. Mas eu gostaria de tecer um comentário sobre a origem da palavra “embaixador”, que é mais a minha praia, De fato, o alemão “Amt” tem a ver com o nosso “embaixador”, só que “Amt” em antigo alto alemão era “ambaht”, que veio do celta *”ambaktos”, que também deu em latim “ambactus”. Ou seja, a origem mais provável da palavra tanto nas línguas germânicas quanto nas românicas é o celta, formado pelo prefixo *”ambi-“, que também existe em latim, e *”aktos”, cognato do latim “actus”, isto é, particípio passado do verbo “agere”. E *”ambaktos” em celta queria dizer “servo, serviçal”. Um abraço!
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Tem razão, caro Bizzocchi. Na preparação do artigo, consultei até dicionário etimológico alemão, que era pra ter um panorama mais largo. Me inteirei de todo o percurso, desde o Andbahts gótico até a atual embaixada. Só que, na hora de finalizar, tomei um atalho, encurtei o assunto e apenas sobrevoei rápido a parte etimológica. Não via a hora mesmo é de chegar às conclusões, o verdadeiro objetivo do desabafo.
Forte abraço.
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