José Horta Manzano
Já vai pra duas semanas que as eleições acabaram. Virou-se a página, chegou a hora do rescaldo e de identificar os salvados do incêndio.
Entre os candidatos derrotados no segundo turno, alguns se puseram a exigir auditoria do processo, recontagem dos votos, reconsideração da decisão. Um disparate. Tem hora pra tudo. A hora de exigir passou. Era antes que tinham de ter-se preocupado. Sero est – é tarde demais.
Assim mesmo, um particular pra lá de estranho continua a me martelar. No total nacional, Dilma abocanhou 51.6% dos votos enquanto Aécio ficou com 48.4%. Regionalmente, diferenças tremendas foram constatadas.
![2° turno 2014 – Total Brasil](https://brasildelonge.com/wp-content/uploads/2014/11/2014-brasil-turno-2.jpg?w=660&h=498)
2° turno 2014 – Total Brasil
Em certos bolsões, um (ou outro) dos candidatos açambarcou a quase totalidade dos votos válidos. Não é difícil de entender. Trata-se de comunidades homogêneas, nas quais os interesses pessoais de cada indivíduo convergem para um ponto comum a toda a sociedade.
E no exterior, como é que ficou? No cômputo geral, 77% dos expatriados deram seu voto a Aécio, deixando dona Dilma com 23%. Com exóticas exceções como o resultado de Havana, que presenteou a presidente com 87% dos votos, esmagadora maioria das secções eleitorais do exterior puseram Aécio bem lá na frente. Como é possível contraste tão grande entre o voto dos de dentro e o dos de fora?
Explicação 1
Os brasileiros do exterior são privilegiados. Nasceram todos em berço de ouro. Cresceram em família abastada, daquelas que não gostam de pobre.
Errado. A maioria dos que estão aqui pastam e ganham a vida com o esforço de seu trabalho. Esforço, muitas vezes, pesado.
Explicação 2
Os brasileiros que vivem no exterior vêm todos do Sul e do Sudeste, regiões que tendem a votar contra o lulodilmismo.
Errado. Mesmo na ausência de estatísticas, a experiência ensina que boa parte, se não a maioria, dos expatriados não são originários do Sul nem do Sudeste.
Explicação 3
Os brasileiros do exterior estão endinheirados. Preferem um Brasil pobre.
Errado. Se estivessem cheios da grana, os expatriados já teriam voltado à pátria. E, se preferissem um Brasil pobre, teriam votado em dona Dilma. Não existe garantia maior de manter o atraso.
Explicação 4
Os brasileiros do exterior são gente mais escolarizada, mais culta, menos sujeita a se deixar embananar por populismo barato.
Errado. Imensa maioria dos que vivem fora é constituída de gente comum. Muitos fazem o esforço de desembolsar 40 dólares de assinatura mensal para assistir à tevê brasileira. Como sabemos, o brasileiro médio não dispõe de especial erudição. Na maior parte das vezes, nem formação profissional tem.
Cáspite! Então, por que raios o voto dos de fora diverge tanto da escolha dos de dentro? Não acredito em milagre, portanto, uma explicação deve haver. O que vou dizer é pura especulação. Evidentemente, não tenho como provar, mas (ainda) não é proibido matutar.
![2° turno 2014 – Voto do exterior](https://brasildelonge.com/wp-content/uploads/2014/11/2014-exterior-turno-2.jpg?w=660&h=497)
2° turno 2014 – Voto do exterior
Na hipótese – difícil de imaginar, mas não impossível – de as urnas terem sido manipuladas por sabe-se lá que meio, as maquinetas instaladas em território nacional terão sido as únicas a receber, digamos assim, «tratamento especial». As de fora, por serem poucas e por não terem peso pra alterar o resultado, terão escapado.
Se alguém tiver explicação melhor, que fale agora.
Um dia, quem sabe, a verdade virá à tona. Ou não.