O ocaso da narrativa de Lula

José Fucs (*)

Foram-se os tempos em que Lula, o PT e seus aliados à esquerda conduziam a opinião pública do País a seu bel-prazer. Lula pode até aparecer na frente nas pesquisas, mas, nesta altura, sem candidaturas definidas, nem a dele próprio, isso não quer dizer muita coisa. Hoje a população está muito bem informada sobre o tudo o que ele aprontou e o estrago que causou ao país.

Voto dos residentes no exterior
Eleições presidenciais 2014, segundo turno.
Infográfico de O Globo

Condenado em 2ª instância, Lula perdeu a aura faz tempo, embora relute em admitir isso em público. Os protestos que enfrenta por onde passa e os atos minguados promovidos pelo PT e seus satélites atestam o que qualquer observador minimamente atento pode constatar a olho nu.

A narrativa de Lula e do PT perdeu a hegemonia. Hoje, apesar de alguns lampejos, ela só entusiasma a tropa de choque do partido e a turma do “me engana que eu gosto”, além de um punhado de brasileiros que vivem no exterior e de simpatizantes infiltrados em órgãos internacionais.

(*) José Fucs, jornalista, exibe currículo opulento com passagem por órgãos tais como: Estadão, Folha de São Paulo, Exame, Gazeta Mercantil.

Nota deste blogueiro

Não contesto que haja «um punhado» de lulistas no exterior. Mas esse punhado já era minguado em 2014 e deve ter encolhido ainda mais nos dias atuais.

Registre-se que, no segundo turno das últimas eleições presidenciais, Dilma não chegou a 23%. Aécio, cujo lado sombrio ainda era desconhecido, ganhou de lavada, com 77%.

Os de fora ‒ 3

José Horta Manzano

Imigração 6Quando Getúlio, Juscelino, Jânio presidiam a República, brasileiro estabelecido no exterior era coisa rara. Havia um caso aqui, outro ali. Podia ser uma moça que se houvesse casado com estrangeiro e decidira se estabelecer na terra do marido. Podia haver um outro que, em visita à terra dos pais, tivesse resolvido ficar por uns tempos. Podia ainda ser um terceiro, dono de importante fortuna, que se permitia gozar as delícias de Paris por anos a fio.

Dos anos 80 para cá, a mudança do panorama foi rápida e impressionante. Crise, inflação, criminalidade estão na raiz da transformação. Meio Brasil descobriu que tinha direito a requerer cidadania estrangeira. A outra metade, mesmo sem cidadania, vestiu-se de cara e coragem.

Lavar chãoNas últimas décadas, foram centenas de milhares a trilhar caminho inverso ao de nossos antepassados. Numerosos fizeram como Iracema, a cearense do Chico Buarque de Hollanda ‒ aquela que foi pra ‘América’ lavar chão numa casa de chá.

São poucos os que se foram para exercer ofício compatível com a própria formação. Assim mesmo consideram que o sacrifício compensa. Pelo menos, escapam à violência e à crise.

Pela estimação do Itamaraty, somos hoje 3,1 milhões de expatriados. Esse contingente é maior do que a população de qualquer uma das 8 unidades menos populosas da Federação. Há tantos brasileiros no exterior quantos há no Mato Grosso ou no Distrito Federal.

É aí que a porca torce o rabo. Brasileiros expatriados têm direito ‒ obrigação! ‒ de votar para escolher presidente da República. Se não o fizerem, levam multa. No entanto, não têm nenhum representante na Câmara nem no Senado. A incongruência é gritante.

Deputados por Estado clique para ampliar

Deputados por Estado

Enquanto meio milhão de habitantes de Roraima contam com 8 deputados federais e 3 senadores para levar sua voz ao parlamento, os três milhões de brasileiros do exterior ‒ seis vezes mais numerosos que os simpáticos roraimenses ‒ vivem na orfandade, sem quem defenda seus interesses.

Está mais que na hora de modificar a Constituição com vista a reconhecer que não somos cidadãos de segunda categoria.

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Dinheiro bem-vindo
Em 2015, as remessas enviadas pelos brasileiros do exterior chegaram a dois bilhões e meio de dólares. Falamos de dólares! Ninguém reclamou. E olhe que é montante pra nenhum mensaleiro ou petroleiro botar defeito. O incremento foi de 15,6% em comparação com 2014. A vantagem maior é que todo esse dinheiro injetado na economia nacional vem de graça, sem investimento. Cai do céu e, mais importante, não tem fins de lucro. Vem para ficar.

Frase do dia — 205

«Provoca furor nas redes sociais o documento do Foro de São Paulo, na Guatemala, saudando a vitória Dilma e do PT “com mais de 3 milhões de votos”. É datado de 22 de out°, quatro dias antes da eleição.»

Cláudio Humberto, jornalista, em sua coluna no Diário do Poder, 7 nov° 2014.

Observação deste blogueiro:
Meu artigo Os de fora, de 7 nov° 2014, pode não estar tão longe da realidade.

Os de fora ‒ 2

José Horta Manzano

Já vai pra duas semanas que as eleições acabaram. Virou-se a página, chegou a hora do rescaldo e de identificar os salvados do incêndio.

Entre os candidatos derrotados no segundo turno, alguns se puseram a exigir auditoria do processo, recontagem dos votos, reconsideração da decisão. Um disparate. Tem hora pra tudo. A hora de exigir passou. Era antes que tinham de ter-se preocupado. Sero est – é tarde demais.

Assim mesmo, um particular pra lá de estranho continua a me martelar. No total nacional, Dilma abocanhou 51.6% dos votos enquanto Aécio ficou com 48.4%. Regionalmente, diferenças tremendas foram constatadas.

2° turno 2014 – Total Brasil

2° turno 2014 – Total Brasil

Em certos bolsões, um (ou outro) dos candidatos açambarcou a quase totalidade dos votos válidos. Não é difícil de entender. Trata-se de comunidades homogêneas, nas quais os interesses pessoais de cada indivíduo convergem para um ponto comum a toda a sociedade.

E no exterior, como é que ficou? No cômputo geral, 77% dos expatriados deram seu voto a Aécio, deixando dona Dilma com 23%. Com exóticas exceções como o resultado de Havana, que presenteou a presidente com 87% dos votos, esmagadora maioria das secções eleitorais do exterior puseram Aécio bem lá na frente. Como é possível contraste tão grande entre o voto dos de dentro e o dos de fora?

Interligne vertical 11bExplicação 1
Os brasileiros do exterior são privilegiados. Nasceram todos em berço de ouro. Cresceram em família abastada, daquelas que não gostam de pobre.

Errado. A maioria dos que estão aqui pastam e ganham a vida com o esforço de seu trabalho. Esforço, muitas vezes, pesado.

Explicação 2
Os brasileiros que vivem no exterior vêm todos do Sul e do Sudeste, regiões que tendem a votar contra o lulodilmismo.

Errado. Mesmo na ausência de estatísticas, a experiência ensina que boa parte, se não a maioria, dos expatriados não são originários do Sul nem do Sudeste.

Explicação 3
Os brasileiros do exterior estão endinheirados. Preferem um Brasil pobre.

Errado. Se estivessem cheios da grana, os expatriados já teriam voltado à pátria. E, se preferissem um Brasil pobre, teriam votado em dona Dilma. Não existe garantia maior de manter o atraso.

Explicação 4
Os brasileiros do exterior são gente mais escolarizada, mais culta, menos sujeita a se deixar embananar por populismo barato.

Errado. Imensa maioria dos que vivem fora é constituída de gente comum. Muitos fazem o esforço de desembolsar 40 dólares de assinatura mensal para assistir à tevê brasileira. Como sabemos, o brasileiro médio não dispõe de especial erudição. Na maior parte das vezes, nem formação profissional tem.

Cáspite! Então, por que raios o voto dos de fora diverge tanto da escolha dos de dentro? Não acredito em milagre, portanto, uma explicação deve haver. O que vou dizer é pura especulação. Evidentemente, não tenho como provar, mas (ainda) não é proibido matutar.

2° turno 2014 – Voto do exterior

2° turno 2014 – Voto do exterior

Na hipótese – difícil de imaginar, mas não impossível – de as urnas terem sido manipuladas por sabe-se lá que meio, as maquinetas instaladas em território nacional terão sido as únicas a receber, digamos assim, «tratamento especial». As de fora, por serem poucas e por não terem peso pra alterar o resultado, terão escapado.

Se alguém tiver explicação melhor, que fale agora.

Um dia, quem sabe, a verdade virá à tona. Ou não.