Círculo vicioso

José Horta Manzano

O governo francês, sabe-se lá por que, Termometrovem mostrando, há várias décadas, uma marcada tendência para o paternalismo. É um ponto que aproxima a França do Brasil. Tal como em Pindorama, onde se ouvem histórias de gente que recusa trabalho regular para não perder as vantagens de uma bolsa qualquer, na França também se costuma dizer que, em certos casos, mais vale não trabalhar e viver às custas da ajuda do estado. É mais vantajoso que se esfalfar no batente, menos cansativo e pode até render mais. Alguns dão a esse perverso mecanismo o nome de assistanato.

É inegável que há, no país, gente passando por momentos de dificuldade. Não se pode fechar os olhos à realidade. O que faz falta é identificar as causas do mal e tratá-lo pela raiz. Não adianta dar aspirina para baixar a febre. Há que se dar conta de que a febre não é mais que o sintoma de um mal maior. Passado o efeito da aspirina, a febre voltará. Só nos restará, então, quebrar o termômetro. Assim, o problema estará resolvido.

A grande prioridade dos que vêm governando a França nestas últimas décadas é combater o recrudescimento desalentador do desemprego. Fábricas fecham suas instalações francesas para se instalar no Marrocos, na Romênia ou no Vietnã. O governo faz cara de bravo, finge que “negocia” com os grandes patrões, e, ao fim e ao cabo, a coisa fica por isso mesmo. Com promessas, nenhum governo consegue segurar o empreendedor que decidiu partir. O dono do dinheiro é quem dá a última palavra sobre o destino de sua empresa.

É inacreditável que os males não sejam atacados no nascedouro. Todos concordam que o custo de um assalariado francês é exagerada e injustificadamente elevado. Contratar um funcionário é fácil. O difícil é despedi-lo. Os empecilhos são tão grandes, que acabam por desencorajar futuros investidores. Grandes ou pequenos. Por que, diabos, investir num país onde os conflitos ligados à mão de obra, mais dia, menos dia, vão acabar perturbando os negócios? Se eu tivesse alguns milhões disponíveis para implantar um negócio qualquer, dificilmente faria isso na França.

Um círculo vicioso acabou-se criando. Firmas fecham. Funcionários são despedidos e vão engrossar a fila dos beneficiários de ajuda governamental. O governo, para atender a toda essa demanda, têm de arrecadar dinheiro. Para angariar fundos, taxa as empresas. Essas acabam não aguentando o tranco, fecham e vão cantar noutra freguesia. Realimentam, assim, a fila dos desempregados. E o círculo se fecha.

Torço para que o Brasil consiga escapar a esse poço sem fundo. Com o governo visionário que temos atualmente, não vai ser fácil.