José Horta Manzano
Hoje terá lugar, na ultrassofisticada Costa do Sauípe ― um balneário padrão Fifa! ― o sorteio das chaves da próxima Copa do Mundo. Todos os países participantes estão pedindo, cada um a seu São Benedito nacional, que os ajude a cair num grupo fácil.
Agora, vamos fazer um esforço. Vamos supor que não haja trapaça no sorteio. Com a Fifa, nunca se sabe, mas não é impossível, pois não? Pois então. Há de haver surpresas, um ou outro ah! de alegria, muitos oh! de decepção.
No fundo, no fundo, pouco importa quais possam ser os times que o Brasil terá de enfrentar. Nossos adversários maiores já são conhecidos. São o atraso, a corrupção, a desigualdade entre os que mandam e os que são mandados, o paternalismo, a ignorância, a inação, a leniência, o descaso dos que poderiam fazer alguma coisa, a desonestidade.
Que o Brasil vença vários adversários e obtenha boa classificação na Copa é secundário. Quer chegue lá ou não, será um momento passageiro.
O mais desalentador é a certeza de que, após o último jogo, quando o último turista tiver embarcado e os garis tiverem varrido o lixo, nossos adversários de sempre continuarão aí, a nos envenenar a existência.