Que um muro alto proibia…

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José Horta Manzano

Especialista em arquitetura penitenciária é que não sou. Aliás, acho que não há muitos em nosso país. Se houver, parece que o governo esqueceu de consultá-los quando implantou a penitenciária de segurança máxima de Mossoró.

Ao pensar em uma prisão, a imagem que vem à mente de qualquer cidadão é um edifício de aspecto severo cercado por um muro alto encimado de rolos de arame farpado. A fotografia das instalações penitenciárias de Mossoró que sai na mídia todos os dias mostra um conjunto de edifícios baixos, emoldurados de um verde aprazível, rodeados apenas por um alambrado, sem sombra de muro. Um espanto!

Quer dizer que prisioneiros comuns são encarcerados em estabelecimentos que parecem fortificação medieval, enquanto condenados de altíssima periculosidade cumprem pena como se estivessem em vilegiatura, em meio ao verde repousante, sem muros que lhes tolham a visão. Um assombro!

É possível que teorias modernas de construção de prisão proponham que estabelecimentos de alta segurança sejam cercados apenas de alambrado. Leigo no assunto, tenho dificuldade em conceber essa escolha. Não é por nada não, mas será que a verba para construção do muro alto não teria sido – por engano, naturalmente – desviada para compra de tratores ou de bois?

Que tenha sido erro ou traquinagem, o resultado está aí. São atualmente 500 profissionais destacados para a “caçada” aos fugitivos. Quem diz meio milheiro de policiais, subentende tudo o que acompanha: locomoção, alimentação, alojamento, logística (quem lava e passa as fardas?), helicópteros à disposição, visita de ministro direto de Brasília. Tudo isso por dois homens. E por falta de muro.

Se duvidar, é capaz de esse verdadeiro movimento de tropas estar saindo mais caro do que a contrução de um muro alto com arame farpado em cima.

A sinceridade do doutor

José Horta Manzano

A contaminação de Bolsonaro demonstra que sua atitude diante da pandemia era – e continua sendo – sincera. No trato da pandemia, nunca houve marketing nem caso pensado. Ele realmente acreditava que a doença não passasse de “gripezinha”.

Todos ressaltam o desmazelo com que, nos últimos meses, continuou a acercar-se de assessores, visitantes e jornalistas, em atitude considerada por muitos como criminosa por expor toda essa gente a eventual contágio.

Mas há que ter em mente o outro lado da medalha, que mostra que doutor Bolsonaro não acreditava na periculosidade do vírus: ele deixou que assessores, visitantes e jornalistas se aproximasse dele como se vivêssemos tempos normais. Nunca demonstrou ter medo de ser contaminado.

Ao deixar-se achegar, o presidente tanto arriscou transmitir a doença a terceiros (que era o risco que todos apontavam) quanto se abriu ao contágio. Acreditava, de verdade, que a doença não passasse de “gripezinha” inventada por comunistas malvados que queriam destroná-lo. Estava convencido de que, com seu “passado de atleta”, tinha corpo fechado.

O ser humano é dotado de instintos; um deles, talvez o mais básico, é o de sobrevivência. Se o doutor – estressado e idoso – tivesse pressentido o perigo que corria, teria se resguardado desde a chegada da epidemia, que ninguém é besta. Não o fez.

Está aí, salvo melhor juízo, a prova da absoluta sinceridade do presidente. É que sua mente funciona em circuito fechado, impermeável a todo ensinamento. Sua maneira de ver o mundo está cristalizada; toda esperança de mudança é vã. Quem estiver esperando que ele se regenere assim que escapar dessa, que tire o cavalo da chuva. Desse mato, não sai coelho.