Tempo de tevê ‒ 2

José Horta Manzano

Saiu o detalhe da repartição do tempo de tevê destinado aos candidatos à Presidência da República. Falo do tempo que lhes será destinado para inserir reclames dirigidos ao eventual eleitor.

Dizem que o espaço é gratuito, mas não se deve levar a sério. Assim como não existe almoço grátis, alguém tem de pagar por esse uso do rádio e da tevê. Ao fim e ao cabo, quem acaba pagando é o consumidor, como de costume.

O candidato mais bem aquinhoado dispõe de blocos de mais de cinco minutos, enquanto o menos dotado não terá mais do que 5 segundos pra fazer passar sua mensagem. Não me parece equânime. É violenta a distorção provocada pela disparidade entre os que têm mais e os que têm menos.

Acredito que todos os candidatos à Presidência devessem ser postos em pé de igualdade. Pretendem todos chegar ao mesmo cargo, assim, é justo que disponham das mesmas armas. Dar mais tempo aos que têm bancada maior no Congresso é a melhor maneira de perpetuar a velha política, fechando a porta à renovação.

A meu ver, espaço de tempo idêntico devia ser concedido a cada um deles. Ou alguém imagina, em sã consciência, que um candidado seja capaz de expor seu programa em 5 segundos? É uma palhaçada. Ter um personagem que vem diariamente repetir «Meu nome é Enéas» pode ser muito engraçado, mas não resolve nenhum problema nacional.

Cada eleição presidencial é um recomeço. Não me parece justo conceder vantagem aos que têm base congressual mais sólida. Justo será dar chance idêntica a todos. Os mata-burros para conter aventureiros estão colocados antes da propaganda eleitoral. As exigências são: nacionalidade brasileira, idade mínima, filiação partidária, ficha limpa.

Uma vez que os postulantes tiverem preenchido os requisitos, devem ser agraciados com chances iguais. Todos têm o direito de expor as próprias ideias e de dizer a que vêm. Não faz sentido deixar que os antigos falem 5 minutos enquanto os recém-chegados só têm tempo de balbuciar um «Oi!».

Do jeito que está, a mudança fica prejudicada. Desconfio que o objetivo seja exatamente esse.

Discurso politicamente correto

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 24 fevereiro 2018.

As próximas eleições se anunciam nebulosas. A menos de oito meses, os eleitores andam confusos. Atordoados com o desempenho dos figurões tradicionais, estão todos de mãos amarradas, sem saber direito o que fazer. Devo votar neste? Não, que este é ladrão. Voto naquele? Melhor não, parece que se corrompeu. E naquele outro lá? Ih, dizem que é bonito por fora mas podre por dentro. E assim por diante, a ciranda de medalhões é monocrômica e monotônica. Vazios de ideias, todos parecem sair do mesmo saco. Que fazer?

Mais dramático ainda é que teremos de escolher representantes para uma batelada de cargos, de deputado estadual a presidente, o posto maior. Parece que não será ainda desta vez que o messias esperado há décadas vai dar o ar da graça. Também, com essa exigência de candidato ter filiação partidária, fica complicado. Com todos os partidos fazendo continha de chegar e adicionando minutos de propaganda eleitoral na tevê, não sobra espaço para desconhecidos. Os ditos «puxadores de votos» são disputados a tapa. As qualidades pessoais e o posicionamento no tabuleiro político de cada um deles importam pouco. Qualquer um serve, desde que seja bom de voto.

O discurso pesado e rasteiro de grande parte dos candidatos agride o eleitor. Passando por cima dos anseios do grosso da população, postulantes dão maior importância a atacar e rebaixar adversários do que a expor os próprios objetivos. Estropiam a língua, desdizem hoje o que afirmaram ontem, ficam em cima do muro em questões cruciais, reduzem sua visão a um simulacro de defesa desta ou daquela minoria. As palavras são pobres, as atitudes são canhestras, a informação é falha. Faz falta um falar engenhoso, que chegue ao íntimo de cada eleitor. Faz falta a delicadeza de palavras includentes. Faz falta o aprumo dos políticos à antiga, aqueles que davam a impressão de dirigir-se pessoalmente a cada um dos ouvintes.

Não sou candidato a nada. Por isso, sinto-me à vontade para sugerir um modelo de discurso politicamente corretíssimo que, tenho certeza, tocaria fundo o coração de todos os eleitores. Aqui está.

Brasileiros e brasileiras!

A todos vocês e a todas vocês que se sentem desesperançados e desesperançadas com o futuro de nosso país, que estão decepcionados e decepcionadas com o comportamento indigno de nossos homens políticos e de nossas mulheres políticas, quero trazer uma palavra de esperança. O porvir não mora num hipotético gabinete de senador ou senadora nem de deputado ou deputada. O futuro reside mesmo dentro de você, eleitor, e de você, eleitora!

De fato, a chave da porta que escancara o caminho da alegria e do bem-estar está no bolso do senhor e da senhora. O nome dessa chave é voto. Este ano, como bem sabem o distinto conterrâneo e a distinta conterrânea, temos eleições gerais. Da escolha de cada cidadão e de cada cidadã, sairá o corpo de eleitos e eleitas sobre cujos ombros repousará nossa esperança e cujo desempenho imprimirá à nação o ritmo dos próximos anos.

Caso se sinta atraído ou atraída pelo palavreado e pelas promessas de determinado candidato ou determinada candidata, ponha cuidadosa atenção antes de atribuir-lhe seu voto. Meça-lhe o palavreado e pese-lhe as propostas. Se as promessas lhe parecerem desmedidas, irracionais ou desarrazoadas, desconfie. Não permita que o país continue a dançar o samba do afrodescendente ensandecido ou da afrodescendente ensandecida. Nem com truques circenses alguém jamais conseguiu extrair leite de pedra. Sem esquecer que palhaços e palhaças ficam melhor num picadeiro que nas altas esferas da República.

Se promessas mirabolantes vierem de um candidato ou de uma candidata que já tiver exercido mandato, não deixe de se perguntar: «Se era assim tão fácil, por que o distinto ou a distinta já não fez antes o que se prontifica a fazer agora?» Já se o falatório provier de candidato ou candidata de matiz populista, daqueles e daquelas que propõem soluções simples (simplórias?) para problemas complexos, guarde o pé atrás. Pense que, fosse tão simples, o nó já teria sido desatado.

Comigo, podem estar certos, será diferente. Resolverei os problemas de todos os brasileiros e de todas as brasileiras. Vocês serão felizes e vocês serão felizes. Vote em mim!