Eleições concentradas

José Horta Manzano

Em primeiríssimo lugar, quero expressar meu mais veemente repúdio ao chocante atentado de que foi vítima doutor Bolsonaro. O homicídio é a pior maneira de enfrentar um problema. Além de não resolvê-lo, cria outros mais graves. Assassinato é a marca do homem primitivo, daquele que não tem argumentos mais inteligentes.

Aproveito o portador pra declarar que doutor Bolsonaro não é meu candidato favorito. Considero que, depois de 13 anos de governantes toscos, o país merece outra coisa. De direita, de esquerda, de centro, de frente ou de fundos, pouco importa. Gostaria que o novo presidente fosse instruído e bem-intencionado. Doutor Bolsonaro me parece cru, cheio de rebarbas que ainda precisam ser desbastadas. Talvez possa recandidatar-se daqui a alguns anos. No intervalo, seria bom ele se jogar de cabeça num curso de Conhecimentos Gerais. Pelo menos.

Depois do atentado, a eleição deste ano, que já estava atípica e esquisita, ficou desnorteante. Tirando doutora Rousseff, que entrou pesado como elefante em loja de porcelana, os demais figurões estão cheios de dedos, sem saber direito o que declarar. Perderam todos a coragem de atacar o adversário ora acamado. Mas isso passa.

Mesmo antes do atentado, o clima de insegurança já estava instalado. Conforme vai-se aproximando o dia do voto, é normal, a adrenalina vai subindo e baralhando as cartas. Candidatos discursam com um olho na plateia e outro nas pesquisas. O teor dos pronunciamentos varia conforme o dia, o lugar e a última sondagem de opinião. Com razão, o eleitor se sente confuso.

Eleição é evento raro no país. E, quando vem, vem com uma fiada de cargos e uma baciada de candidatos. A propaganda eleitoral do rádio e da tevê mais faz amolar que esclarecer. Não me parece sensato exigir que o eleitor declare, de um só golpe, sua preferência para deputado estadual, deputado federal, governador, primeiro senador, segundo senador e ainda para presidente da República. Uma eleição acaba ocultando outra. A escolha do presidente ‒ importante por natureza ‒ encobre o voto para governador, que deita sombra sobre a escolha dos parlamentares.

O calendário tem de ser apurado. Seria muito mais ajuizado separar as eleições gerais em três blocos. No primeiro, os cidadãos escolheriam somente o presidente. A campanha não seria poluída por ruídos estranhos. Escolhido o presidente, viriam duas semanas de campanha e todos voltariam às urnas para eleger o governador. Após novo período de duas semanas de campanha, seria a vez de votar para deputado estadual, deputado federal e senador.

Se parece longo é porque não estamos habituados. Em outros países é assim. Faz mais sentido escolher os parlamentares federais quando já se sabe quem é o presidente. Faz mais sentido escolher os parlamentares estaduais quando já se sabe quem é o governador. A longa temporada de votação é o preço a pagar para aperfeiçoar a democracia. Do jeito que está, fica a impressão de que puseram tudo junto no mesmo dia só pra cumprir tabela e satisfazer exigências legais.