Bise

José Horta Manzano

O Brasil é um país ventoso. Dizem, não sei se corresponde à realidade, que é onde mais venta no mundo, terra ideal para a implantação de parques eólicos. É verdade que, nas minhas memórias de antigamente, vejo uma atmosfera em movimento constante, se não venta de manhã, acaba ventando de tarde. É bem diferente de tantos outros lugares em que às vezes se passa uma semana inteira sem uma folha que se mexa.

A região onde vivo, às margens do Lago Leman (Lake of Geneva), não é especialmente ventosa. No entanto, por vezes, quando ocorre certa configuração de baixas e altas pressões, sopra um vento chamado bise, que pode ser impetuoso. Vem do quadrante Nordeste em direção ao Sudoeste.

Costuma-se dizer que, quando a bise se levanta, sopra sem parar durante 3 dias; se passar dos 3, serão 6 dias; e assim por diante, de 3 em 3. Nunca contei, pra dizer a verdade, mas o fato é que o vento é pra lá de dinâmico.

No verão, refresca, mas nos obriga a fechar portas e janelas pra evitar bateção e vidraça trincada. No inverno, o problema é menos agudo, dado que ninguém abre porta nem janela; mas sair à rua torna-se desagradável, visto que, dependendo da velocidade do vento, a sensação térmica pode baixar uns dez graus.

Semana última, a bise ventou fortificada, como se tivesse tomado umas boas colheradas de Biotônico Fontoura. Em alguns momentos do domingo passado, as rajadas foram muito fortes. As mais impressionantes, lá pelo meio-dia, passaram de 100 km/h – medida oficial do Instituto Meteorológico nacional.

É um vento seco, sem chuva que pode causar estrago. Esta semana, árvores foram desenraizadas, motos tombaram, placas de sinalização entortaram. O lago, habitualmente sem ondas e tranquilo como um espelho, fez a felicidade dos que apreciam surf à vela (em português: windsurf). Foi o episódio de bise mais violento registrado desde 1972.

Ainda bem que não há ventos anabolizados assim no Brasil. Se um dia houvesse, o estrago seria incalculável.

 

Carro escangalhado por uma árvore

 

 

Árvore desenraizada prestes a vir abaixo

 

 

O lago tranquilo se transforma em oceano furioso

 

 

Surfistas do lago

 

 

Vergonhas

José Horta Manzano

Na Europa, meia dúzia de companhias aéreas oferecem bilhetes a preço extraordinariamente baixo. Todas elas juram que, para reduzir drasticamente o custo, não descuidam da manutenção dos aparelhos nem da segurança. Se o fizessem, seria suicídio certo. No instante em que se acidentasse um avião por falha na manutenção, a companhia iria pro beleléu.

Elas se valem da optimização de numerosos parâmetros. Conservando a segurança, podam o que pode ser podado. Não servem lanchinho. A duração das escalas é reduzida. A logística é estudada milimetricamente para resultar em rendimento máximo. O próprio pessoal de bordo encarrega-se da limpeza da cabine entre voos. As rotas servidas são as mais frequentadas.

Avião 14Três dessas companhias são baseadas na Irlanda e nas Ilhas Britânicas. A irlandesa RyanAir é uma delas. Só na Europa, serve 31 países e começa a considerar seriamente dar continuidade a sua expansão planetária. Como as outras, oferece passagem a preços muito atraentes. Em certos casos, sai tão barato que a gente se pergunta onde está a mágica.

Infelizmente, nosso país não está no visor de nenhuma dessas empresas. A RyanAir, talvez a mais ousada delas, já pôs um pé no México, outro na Colômbia e vai começar a operar na Argentina em 2017. Mais que isso, está estudando entrar em todos os mercados da América do Sul. Corrigindo: em quase todos. O Brasil, infelizmente, não faz parte dos mercados visados. Por quê?

Em entrevista ao jornal argentino La Nación, Mr. Declan Ryan, cofundador e presidente da companhia, declarou com todas as letras o seguinte: «Iniciamos negociaciones en todos los países de la región menos en Brasil ya que hay mucha corrupción.» A frase dispensa tradução. Gostaríamos muito de ter ido dormir sem essa.

América do Sul sem Brasil

América do Sul sem Brasil

Não precisa ser muito perspicaz pra entender a mensagem. O estrago impingido ao país pelo lulopetismo não só saqueou empresas mas também empacou o país. Como efeito colateral, refreia investimentos externos que trariam benefícios a todos.

Depois que, no começo do século, a Argentina foi atingida por uma débâcle econômica gerada pela má gestão,  o país passou 15 anos comendo o pão que o diabo amassou. Pela mesma lógica, é razoável prever que o Brasil só volte a recuperar a atratividade perdida lá pelo ano 2030.

Pra você ver, amigo, aonde podem levar a ignorância, a incompetência e a irresponsabilidade no trato da coisa pública.