José Horta Manzano
O brasileiro é um povo criativo. A toda hora, dá pra sentir a força da inventividade de uma gente que nem sempre conta com instrução formal, nem com meios adequados. Quando a gente não sabe, sacumé, tem de ser esperto. Esperteza é o que não falta em nossa terra.
No entanto, na hora de dar nome às coisas e fatos novos, parece que há um engasgo. Não costumava ser assim. Até meio século atrás, talvez pelo isolamento de um mundo sem tevê e sem viagens, o engenho de nossa gente era mais ativo.
As brincadeiras que conheci nos anos 1960, por exemplo, embora viessem dos EUA, tinham o nome imediatamente adaptado a nossa fonética. O hula hoop, aquele anel que a criançada balançava em torno da cintura, guardou seu nome original na maioria das línguas. Na nossa, não: chamou-se bambolê. Foi febre naquela época e, dizem, responsável por traumatismo renal nos aficionados mais ferrenhos.
Há baciadas de exemplos de nomes adaptados para uso nacional. Hoje, parece que o empenho desapareceu. Toma-se a expressão inglesa no original, nua e crua. Por exemplo, ninguém diz escola em casa, mas “homeschooling”. O mesmo vale para o importado “homeoffice”, usado em vez de um simples e eficaz teletrabalho. Parece que a criatividade entrou em letargia. Quem sabe, um dia acorda.
Nestes dias de Jogos Olímpicos, temos muita notícia do Japão. Li outro dia esta frase: “Em diversas instalações, como no centro principal de mídia, há esguichos de água, que parecem jogar uma garoa.”
Pela volta que o repórter deu pra descrever os “esguichos de água”, fico imaginando que ele nunca tenha visto nada parecido. Logo logo essas engenhocas chegam ao Brasil, se é que já não estão no porto, à espera de desembaraço alfandegário.
Taí uma excelente oportunidade de dar nome a esse dispositivo novo. Esguichos assim existem na Europa há alguns anos. Quando o calor era raro, não havia necessidade. Estes últimos tempos, porém, com as temperaturas saarianas que temos tido, tornaram-se imprescindíveis. São ligados no verão, naturalmente. E servem para amenizar o sufoco dos dias tórridos.
Os franceses, que gostam de dar nome a tudo, já decidiram: entre eles, esse esguicho é conhecidos como brumisateur. É simples, a palavra deriva de bruma (névoa, nevoeiro) e designa o aparelho que produz bruma. Fica a dica.
Quem sabe a criatividade brasileira acorda, esquece “esguicho” ou “chuveirinho” e opta por brumizador. Ou talvez nebulizador. Ou até um sofisticado garoizador. Seja qual for, sempre vai ficar melhor que “esguicho de água que parece jogar uma garoa”.