Imunidade de rebanho

Imunidade coletiva

José Horta Manzano

Depois que os integrantes de hordas não-bolsonaristas resolveram chamar os integrantes de hordas bolsonaristas de gado, os termos que se referem à pecuária devem ser utilizados com muito cuidado, especialmente quando aplicados a humanos.

Dizer que, com a aceleração da vacinação, a imunidade de rebanho será logo alcançada, pode melindrar espíritos mais sensíveis. Talvez os integrantes das hordas bolsonaristas apreciem o elogio, talvez reclamem da implicância. Quanto aos integrantes das hordas não-bolsonaristas, certamente detestarão a expressão, justamente por não admitirem ser confundidos com gado. Gado, como sabemos, são sempre os outros.

Para não ofender nem uns nem outros, a língua – generosa – oferece diversas opções. Eis algumas:

    • Imunidade de grupo
    • Imunidade gregária
    • Imunidade de comunidade
    • Imunidade coletiva
    • Imunidade de população
    • Imunidade de massa

Está vendo? Pra evitar mal-entendidos, fuja da duvidosa imunidade de rebanho. Quando se fala em eliminar febre aftosa, a expressão que convém é exatamente imunidade de rebanho. Para gente, mais vale evitar polêmica.

Imunidade
A palavra deriva do adjetivo latino immunis (=imune), formado pela partícula in (negação) + munem (de munus = obrigação, dever). Na origem, tinha o sentido que hoje damos a isento. Quando determinados cidadãos estavam desobrigados de pagar uma taxa, por exemplo, dizia-se que estavam imunes.

Até hoje, as bagagens do diplomata passam a alfândega sem inspeção, em virtude da imunidade diplomática. Por seu lado, eleitos do povo são protegidos pela imunidade parlamentar.

O sentido que a palavra imunidade adquiriu em medicina é bem mais recente. Só apareceu no século 19, com a popularização da vacina antivariólica. O primeiro registro é da edição de 1865 do Dicionário Médico Littré-Robin (=immunité). De lá, passou às demais línguas.