José Horta Manzano
Faz uns dias, doutor Sérgio Cabral, que um dia foi governador do Estado do Rio e atualmente é inquilino da penitenciária de Bangu, foi transferido para cela solitária. Os jornais noticiaram e contaram até o porquê: durante vistoria levada a cabo por promotor de justiça, o encarcerado protestou na hora de perfilar-se cabisbaixo, conforme manda o regulamento. Me fez lembrar jogador de futebol que reclama com veemência junto ao árbitro e acaba levando cartão.
Chega de brincadeira. Não sei como é possível que notícias desse tipo escapem para fora da cadeia. São assuntos internos, que não deveriam transpor os muros da penitenciária. Essa justiça-espetáculo não faz bem a ninguém.
O distinto leitor deve lembrar-se de Bernard Madoff, aquele megaestelionatário americano enriquecido à custa de esbulhar centenas de poupadores que nele haviam confiado. Em 2009, o homem foi condenado a 150 anos de prisão. Como já estava com mais de 70 anos à época, não tem esperança de sair livre um dia.
Faz quase dez anos que está atrás das grades. Por acaso alguém ouviu falar dele? Estará se comportando bem? Pegou uma solitária? Foi apanhado com artigos proibidos dentro da cela? Escreveu cartinhas? Assistiu à tevê? Pois ninguém sabe de nada. Se novidades há ‒ e certamente as há ‒, não transpuseram os muros. Por que, diabos, no Brasil é diferente? Por que é que aqui tudo vaza? O que é que nos induz a essa curiosidade doentia? Pra terminar, pergunta que ninguém costuma fazer: quem é que leva e traz esses recados?
Um doce pra quem tiver resposta a essas perguntas.