Leilão de placas

José Horta Manzano

Você sabia?

Já contei, em artigo de alguns meses atrás, algumas particularidades do emplacamento de automóvel na Suíça. A diferença mais notável com relação ao resto do mundo ‒ com o Brasil em especial ‒ é o fato de a placa não pertencer ao veículo, mas ao dono dele. Quando vende o veículo, o proprietário entrega o carro mas segura a placa. O sistema é interessante por dar ao detentor da placa a garantia de que nenhum veículo desconhecido circulará por aí utilizando identificação do antigo dono.

Assim, em princípio, o detentor de uma placa guardará sempre o número de identificação original, ainda que troque de carro numerosas vezes. Essa peculiaridade faz que muito proprietário de veículo deseje ter uma placa cuja combinação de números lhe seja simpática. Há quem gostasse de um arranjo de números que lembrasse uma data especial, um aniversário, um casamento. Há também quem preferisse ter simplesmente uma combinação fácil de lembrar. Outros, mais vaidosos, ficariam felizes em ter um daqueles números que chamam a atenção.

Cada cantão é responsável pela atribuição das próprias placas. Elas são padronizadas. Mostram as duas letras e o escudo que identificam o cantão. Quanto à numeração, começa pelo número um e segue adiante. As autoridades enxergaram nesses desejos pessoais um bom meio de engordar o erário. Ultimamente, muitos cantões têm organizado leilões periódicos de placas disponíveis. Os interessados podem dar lances por internet até a data limite. Quem der o lance mais elevado leva a placa.

Certos automobilistas não hesitam em despender fortunas para conseguir o número de seus sonhos. Recentemente um desses leilões foi muito comentado no país. No Cantão do Valais ‒ região bilíngue cuja capital é a cidade de Sion ‒, a placa de número 1 foi posta em leilão. Muitos a cobiçavam. À medida que a data limite se aproximava, os lances foram subindo. O vencedor foi um empresário que não vacilou em desembolsar 160 mil francos suíços (quase meio milhão de reais). No país, nenhuma placa de automóvel jamais tinha sido vendida por valor tão elevado.

Observação
Para coibir um mercado paralelo, é vedada a venda de placa entre particulares. A única exceção admitida é a cessão entre parentes próximos (ascendente,  descendente ou cônjuge).

Novos ares na Fifa

José Horta Manzano

Emparelhada com o CIO (Comitê Internacional Olímpico), a Fifa é a mais poderosa organização esportiva do planeta. Sua importância era secundária até os anos 1970. A partir da gestão do brasileiro João Havelange ‒ o único não europeu a ter-lhe ascendido ao topo ‒, a Fifa tornou-se mais e mais potente. E rica.

Sepp Blatter, antigo presidente da Fifa

Sepp Blatter, antigo presidente da Fifa

A popularização da televisão foi determinante no sucesso da entidade. Com os direitos de transmissão, surgiram as firmas patrocinadoras. Coca-Cola foi a primeira, logo seguida por Adidas e outros colossos. Maior número de telespectadores significava maior potencial publicitário. O valor cobrado pelos direitos de transmissão subiram vertiginosamente.

Como se sabe, quanto mais dinheiro houver, tanto maior será o risco de corrupção e rapina. Os assaltantes de nossa Petrobrás deram prova disso. Inexperientes e vorazes, foram tão fundo no mingau que debilitaram a empresa a deixaram em estado pré-falimentar. Mais comedidos, os dirigentes da Fifa lograram agir durante quatro décadas sem abalar a saúde financeira da organização.

Um dia, escancarou-se o que todo o mundo já desconfiava fazia tempo. A corrupção e o compadrio corriam soltos na associação mundial de futebol. Deu no que deu: parte dos cartolas encarcerados, o presidente autodestituído, figurões banidos e os demais atemorizados.

Gianni Infantino, novo presidente da Fifa

Gianni Infantino, novo presidente da Fifa

Uma limpeza tornou-se urgente. Novo presidente foi eleito neste 26 de fevereiro. O escolhido é Gianni Infantino, carequinha simpático de 45 anos. A menos que se trate de louco varrido, é de se supor que não esteja envolvido em tenebrosas transações. O risco de terminar atrás das grades seria demasiado elevado.

Infantino, de quem poucos tinham ouvido falar até hoje, não vem de um passado exclusivamente futebolístico. Filho de imigrantes italianos, nasceu e cresceu na cidadezinha suíça de Brig, no Cantão do Valais. Mais tarde, ao adquirir a cidadania suíça, tornou-se binacional. Poliglota, ganhou duas línguas maternas: o alemão e o italiano. Formou-se em Direito pela Universidade de Friburgo (Suíça). Conhece a língua francesa perfeitamente. Fala ainda inglês, espanhol e árabe. É casado com uma libanesa, com quem tem quatro filhas. Uma figura internacional, como se vê.

Brig ‒ Ulrichen mapa Google

Brig ‒ Ulrichen
mapa Google

Dele, espera-se muito. Para começar, o mais difícil, ou seja, devolver à Fifa a imagem de organização séria e honesta. Vai ser complicado, mas não há outro jeito. Foi escolhido exatamente para essa tarefa. Infantino sabe que seu desempenho estará sendo monitorado por meio mundo. Terá de andar na linha.

Um detalhe curioso o liga a Sepp Blatter, o presidente caído. Ambos nasceram e cresceram no mesmo vale alpino, em lugarejos separados por menos de 40km. Mas não são da mesma família.