Vou ficar bem quando f**** com o Moro

José Horta Manzano

Logo de entrada, vamos relevar o palavreado de botequim (em linguagem moderna: passar pano). No passado, o Lula costumava escorregar de vez em quando, mas Bolsonaro elevou o calão à categoria de linguajar oficial do Planalto.

A pérola que o Estadão destaca na chamada reproduzida acima foi solta pelo presidente em extensa entrevista concedida à TV Brasil 247, rodada em pleno Palácio do Planalto.

As tristezas e as mágoas que persistem no coração do presidente são legítimas. O ressentimento que ele guarda contra o juiz que o condenou é compreensível. O Lula tem direito de desabafar com família e amigos. Já falar disso ao grande público é outra coisa.

Quando o presidente revela a todos os brasileiros a sede de vingança que lhe rói a alma, comete uma imprudência e dá um tiro no pé. Sem obter vantagem nenhuma.

A imprudência é a ameaça velada externada contra um hoje senador da República. Não sei que tipo de ameaça se esconde por trás do termo f****, mas coisa boa não é. Se amanhã algo feio acontecer com Moro, muitos olhares hão de se voltar contra Lula.

O tiro no pé é mais grave. Logo no discurso de vitória proferido na noite do segundo turno, Lula prometeu governar para todos os brasileiros (os que votaram nele e os demais) e que era hora de restabelecer a “paz entre os divergentes”. Agora, ao revelar publicamente que carrega um desejo de vingança tão entranhado, o presidente contradiz o lindo pronunciamento inicial e mostra que tudo não passava de palavras vazias escritas por algum discurseiro a soldo.

Ao fim e ao cabo, Lula:

  • mostra uma incômoda proximidade com o antigo presidente, aquela verborragia pesada que muitos gostariam de esquecer;
  • traz de volta o nós x eles, ao alargar o fosso entre dois campos políticos;
  • revela uma faceta inquietante de sua personalidade: tem espírito vingativo.

Além de tudo, Lula perde mais do que ganha. Se a eleição fosse hoje, uma fala desastrada como essa poderia fazê-lo perder sua estreita margem de votos e entregar a vitória ao adversário.

A eleição não é hoje, mas a impressão de ser um presidente rancoroso fica.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.

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