Dorrit Harazim (*)
Raras vezes o sentimento de ameaça esteve tão difundido globalmente. Trata-se de uma ameaça existencial difusa, imaterial, desvinculada de perigo físico, embora também afetada pelo espetáculo dantesco da guerra em curso na Ucrânia.
Emergiu daquela terra invadida, com cidades reduzidas a esqueletos e ruínas, um espécime de líder capaz de se comunicar com os seus por meio de uma linguagem universal que pode ser letal, quando não autêntica: a empatia. Talvez por não ter tido tempo de ensaiar uma estratégia de marketing político para tempos de guerra, o presidente da Ucrânia sob assalto, Volodimir Zelenski, teve de optar por ser quem é, sem retoques.
Acabou matando de inveja e assombro a elite política mundial. Suas falas de compaixão e urgência soam autênticas, parecem confiáveis – a ponto de importar pouco, neste mundo contaminado por extremos, sua real inclinação ideológica.
(*) Dorrit Harazim é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 10 abr 2022.