Depois que a covid, firme e vigorosa, se agarrou ao mundo e não soltou mais, vêm sendo ressuscitadas palavras e expressões que cochilavam no fundo do armário junto aos saquinhos de naftalina.
Epidemia e pandemia, por exemplo, só saíam do armário pra lembrar surtos de tifo, varíola ou peste bubônica, coisa dos séculos de antigamente.
Ouvi ontem – pela primeira vez, que eu me lembre – a misteriosa palavra belonofobia. É composição erudita formada pelos elementos gregos βελόνα (belóna = agulha) + φοβία (fobia = pavor). Portanto, belonofobia (ou belenofobia) é pavor de agulha.
O único dicionário de língua portuguesa em que encontrei a palavra foi o Estraviz, dicionário benfeito mas pouco conhecido, que congrega o léxico português, o galego e o brasileiro. Ensina que belonofobia é o “receio mórbido em tocar agulhas, alfinetes e objetos que podem picar”.
Atrás dessa palavra, talvez se esconda o verdadeiro motivo de tanta gente rejeitar a vacina, a começar pelo capitão: pavor de agulha. No mundo, muitos entram nessa categoria.
Por alguma razão que desconheço, o povo brasileiro, com raras exceções, foge a essa recusa irracional. Estatísticas informam que apenas 2% de nossos conterrâneos entram na categoria dos antivax. Note-se que, em certos países da Europa, mais de 30% dos habitantes rejeitam a picada.
Eu desconfio que a imensa maioria dos ‘vacino-hesitantes’, embora não ousem confessar, têm mesmo é medo da agulha. À vista de uma seringa, já sentem as pernas bambeando.
Pra tentar convencer os hesitantes, a Suíça abriu um estágio de sensibilização. Gratuito e com duração de duas horas, o cursinho conta com a participação de enfermeiras e psicólogos que ‘apresentam’ seringas e agulhas aos participantes, suavemente, como quem leva as crianças ao serpentário pra mostrar cobra. O objetivo é esconjurar o medo irracional.
Se a técnica vai diminuir a quantidade de ‘vacino-hesitantes’, só o tempo dirá. Se funcionar, seria interessante pagar uma passagem para nosso capitão, pra permitir que ele participe também. Proponho fazer uma vaquinha pra comprar esse bilhete. De ida simples, de preferência, sem volta possível. Contribuo com gosto.
“belonofobia” combina com “Agulhas Negras”!
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Excelente! É precisamente na Academia de Agulhas Negras que o capitão se formou, ou melhor, “se formou”.
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