A palestra do ministro

Observador, Portugal

José Horta Manzano

Segunda-feira passada, doutor Queiroga, ministro da Saúde do triste governo Bolsonaro, deu um pulo a Lisboa para dar uma palestra. Discorreu sobre “As ações do Brasil no enfrentamento da covid-19” – tema escolhido por ele mesmo. Detalhe sintomático: ao final de 45 minutos de falatório, ninguém se animou a fazer perguntas. Fico deveras admirado com a cara de pau de Sua Excelência de se prestar a essa encenação oca.

O Brasil começou o combate à epidemia de maneira desastrada, com atraso em relação a países comparáveis. Todos se lembram de quando o capitão, que tinha rejeitado insistentes propostas da Pfizer, implorou à Índia que lhe mandasse meia dúzia de vacinas, só pra aparecer no telejornal antes do arqui-inimigo Doria. Chegou a mandar um avião buscar as preciosas ampolas. Voltaram desenxabidos e sem vacina.

Desde que a pandemia pegou feio, a área crucial da Saúde foi confiada a nada menos que 4 (quatro) ministros: Mandetta, Teich, Pazuello (de triste memória) e Queiroga. Os dois últimos, que realmente pegaram o período mais crítico da covid, tiveram comportamento negacionista e trabalharam contra tudo o que a ciência determina. Pazuello foi o desastre que todos viram. Queiroga já afirmou, por exemplo, ser contrário à máscara de proteção e ao distanciamento social.

Expresso, Portugal

Portugal também foi mal no início. Logo no começo, ano e meio atrás, figurou entre os países que mais sofriam, com hospitais e cemitérios lotados. Só que os portugueses tiveram a sorte de contar com um governo que trabalhou contra a disseminação da doença e a favor da saúde da população. Foi bem diferente de nós, que tivemos a infelicidade de ter um governo trabalhando a favor do alastramento da epidemia e contra a saúde do povo.

As boas medidas tomadas pelo governo luso, acompanhadas do espírito cívico de um povo que confia em suas autoridades, fizeram a diferença. Portugal recuperou o terreno perdido e tornou-se campeão mundial de vacinação. Neste momento, quase 87% da população já cumpriu integralmente o esquema vacinal. As autoridades sanitárias já estão preparando a dose de reforço (3ª dose). Mortes em decorrência da covid tornaram-se raras. Para efeito de comparação: o Brasil já vacinou 51% de sua população.

Carregando nas costas um passivo que ultrapassa 600 mil mortos, faço de novo a pergunta: o que é que Sua Excelência foi dizer aos portugueses? Será que foi pedir desculpas? Ou, humilde, tentar aprender como é que se enfrenta uma pandemia?

Jornal de Notícias, Portugal

Fica a incômoda impressão de que a palestra era apenas o pretexto para uma agradável etapa lisboeta, com direito a uma visita ao Castelo de São Jorge, seguida por um Bacalhau à Brás regado a vinho do Dão. De arrebitar-se-lhe as orelhas, ó pá!

Doutora Dilma fez isso uma vez, lembram-se? Voltando não me lembro de onde, mandou o avião fazer uma parada clandestina em Lisboa, onde toda a comitiva apeou para devorar uma bacalhoada. Na saída do restaurante estrelado, todos tiveram direito a sair carregando uma ou duas garrafas de vinho “p’ra viagem”. Tudo no cartão corporativo.

Direita? Esquerda? Quá! Tudo igual. Na hora da malandragem, todos comem à mesma mesa. E quem paga a conta somos nós, evidentemente.

3 pensamentos sobre “A palestra do ministro

    • A falta de perguntas é sintoma ruim. Mostra a absoluta falta de interesse da plateia.

      Aposto que a maioria dos ouvintes usou a palestra como pretexto para escapar do trabalho. Exatamente como o ministro usou a “aula magna” como desculpa para a bacalhoada.

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  1. Exato! A corrupção é atributo exclusivamente humano (até onde se sabe não existe em outras espécies animais), que independe totalmente da orientação ideológica – embora fosse desejável que os adeptos da justiça social evitassem incorrer na má prática.

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