José Horta Manzano
Valéry Giscard d’Estaing, que presidiu a França de 1974 a 1981, era uma dessas figuras sorridentes que a gente achava que não fossem morrer nunca. Mas ninguém é eterno. Ele faleceu ontem, aos 94 anos de idade, de complicações da covid.
VGE, como era popularmente chamado, ficou conhecido pelas reformas instauradas durante seu governo, que ajudaram a desempoeirar uma França que cheirava a mofo. A sociedade avançou em diversos pontos.
- A maioridade civil, congelada na idade de 21 anos desde 1792, foi reduzida a 18 anos de idade.
- A mulher casada ganhou direitos, entre os quais o de abrir uma conta bancária em seu nome, sem ter de pedir autorização ao marido. Embora hoje pareça algo evidente, foi um grande avanço numa época em que a mulher casada era vista como uma espécie de ‘propriedade’ do esposo.
- O aborto voluntário foi legalizado e regulamentado.
- VGE foi o primeiro governante a criar uma Secretaria de Estado dedicada à mulher.
- O divórcio amigável passou a ser admitido nos tribunais. Até então, para divorciar, o cônjuge requerente tinha de provar a culpabilidade do outro.
Visto que foi presidente jovem, sobreviveu muito tempo depois de deixar o poder. Foram praticamente 40 anos de aposentadoria da vida política.
Seu falecimento me fez lembrar Rodrigues Alves, presidente do Brasil de 1902 a 1906, vítima da Gripe Espanhola em 1919. São ex-presidentes que sucumbiram à pandemia de seu tempo.