José Horta Manzano
O governo britânico acaba de anunciar que a vacinação contra a covid-19 começa semana que vem em todo o reino. O primeiro lote de 10 milhões de doses já está pronto. Ingleses, escoceses, galeses e norte-irlandeses já estão de braço estendido à espera da picada.
Governo e população dos demais países europeus estão espantados e incomodados. Uns, por acharem que é temerário utilizar vacina nova demais, recém-saída do forno. Outros, por se sentirem despeitados de ver a ‘pérfida Albion’ queimando a largada e deixando os vizinhos (e o resto do mundo) a comer poeira.
Meus distintos leitores hão de estar intrigados com o título deste artigo. Que história é essa de ‘Pérfida Albion’? É expressão pejorativa usada na França para designar a Inglaterra.
Albion, tradicional alternativa para nomear a ilha, faz referência à cor das falésias que se erguem abruptas no litoral de Dover, porta de entrada da ilha para quem chega da Europa continental. O adjetivo latino albus/alba significa branco/a. A propósito, entre nós, essa raiz deu alvo, alvura, alvorada, alviverde, albino, albumina.
White cliffs of Dover: as brancas falésias de Dover
Quanto à perfídia, não é característica geográfica; neste caso, a palavra é pronunciada com entonação de ofensa. Como toda expressão antiga, sua origem se perde na memória. Há conjecturas. Já encontrei longas listas com momentos históricos em que a Inglaterra teria traído a França. Nesse histórico de deslealdade e traição, finco um pé atrás.
Quando há grande permeabilidade entre países vizinhos, é natural que, em momentos da história, haja surgido uma rusguinha aqui, outra ali. Os argentinos, por exemplo, não hão de ter apreciado nem um pouco quando doutor Bolsonaro declarou, mês passado, que a Argentina ‘vai pessimamente mal por causa do comunismo’. Esse foi um ato de deslealdade para com nossos hermanos, uma ofensa gratuita ao povo que, em voto majoritário, elegeu o presidente Fernández.
Desde tempos antigos, a proximidade entre França e Inglaterra tem favorecido as trocas. Trocas de mercadoria, de ideias e… de flechadas. Para o bem ou para o mal, os atritos continuam e hão de continuar por muitos e muitos anos. Excetuando-se uma catástrofe tectônica, os dois países vão continuar sendo vizinhos de parede.
Quanto à vacina, estão todos acompanhando com atenção a evolução da situação em terras britânicas. Se der certo, eles estarão mostrando o caminho a seguir; se der errado, estarão mostrando o caminho a não seguir. Olho neles!
Brasil de Longe 
Boa noite! Vim pesquisar o termo “pérfida Albion” por estar assistindo uma aula de historia em q é mencionado. Lá foi dito que esse termo é pela posição política da Inglaterra no plano internacional, especialmente no séculos XIX, que é de não ter aliados ou inimigos fixos, mas sendo sua maior preocupação a manutenção da balança de poderes entre os Estados, o que leva à fluidez de sua relação e a origem dessa alcunha.
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Olá Júlia,
O que lhe ensinaram na aula é só a metade da história. Contaram o fato sem dizer o porquê.
Pra começar, é bom conhecer o significado de pérfido. É sinônimo de desleal, enganador, traiçoeiro. Vai daí, o império que faz um jogo político de equidistância de outras potências não merece, só por isso, ser qualificado de pérfido, desleal, enganador, traiçoeiro. Portanto, o porquê do apelido ficou faltando na explicação que lhe deram.
A expressão é usada principalmente na França, rival histórico e hereditário da Inglaterra. Os dois povos são como irmãos gêmeos que se amam e se detestam. Brigam o tempo todo. Ambos tiveram um império global. São rivais desde a aurora dos tempos.
Dou-lhe um exemplo. Para dizer que alguém “sai de fininho”, os franceses dizem “filer à l’anglaise” (= escapar à moda inglesa) e os ingleses dizem “take a French leave” (= escapar à moda francesa). Exemplos assim, há centenas.
“La perfide Albion”, (= a pérfida Albion) entra nessa categoria. É uma ofensa, um xingamento, uma provocação boba, nada mais que isso. De onde vem? Quem foi o primeiro a dizer ou a escrever isso?
Há muitas teorias mas, no fundo, pouco importa. O certo é que não passa de uma cotovelada ou um chute na canela de um adversário. Que se dá quando o árbitro não está olhando, e o VAR desligado. Naturalmente.
Continue conosco!
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