José Horta Manzano
Entre o fim da última guerra e o fim da década de 80, a Itália chegou a ter o maior e mais importante partido comunista europeu ‒ com exceção da União Soviética, naturalmente. Nas eleições de 1976, no auge da popularidade do partidão, 34,4% dos eleitores italianos deram seu voto a comunistas, um recorde.
O outros países da Europa não ficavam muito atrás. Na França, na Espanha pós-franquista e no Portugal pós-Salazarista, a extrema esquerda chegou a assustar pelo grande número de eleitos. Mas nada é eterno.
A queda do Muro de Berlim, em 1989 escancarou o esfacelamento da União Soviética e assinalou o fim da utopia. O fracasso do sistema, após décadas de uso em uma dezena de países, era evidente. O resultado tinha sido a criação de pequena classe de privilegiados e a coletivização da pobreza. As consequências da débâcle foram inevitáveis.
Já no início dos anos 90, o partidão italiano foi dissolvido. O espanhol, que também chegou a ter muitos afiliados, não consegue ser representado na assembleia. O britânico e o alemão, com número restrito de membros, tampouco estão presentes no parlamento.
Na França, surpreendentemente, o partido resiste. Não só resiste, como mantém orgulhosamente o nome: Parti Communiste Français. Não só mantém o nome, como organiza anualmente a Fête de L’Humanité, uma espécie de quermesse com comidas, bebidas, discursos, presença de políticos importantes e aparição garantida nos telejornais do dia. Não só organiza festas, mas também festivais que chegam a atrair 600 mil pessoas.
Além de festas e festivais, publicam, até hoje, um jornal. Órgão oficial do Partido Comunista Francês, o jornal L’Humanité é quotidiano. A média é de 40 mil exemplares vendidos a cada dia, verdadeira façanha nestes tempos de internet. Quanto à ideologia, pouco mudou. Continuam a dividir o mundo entre «nós & eles», insistindo na estratégia da vitimização dos oprimidos. De cada notícia, continuam a destacar o lado que lhes interessa. Fazem cara de paisagem para o resto.
Em artigo de 29 junho, insistem em afirmar que o Brasil sofre atualmente um golpe de Estado. Alegam que dona Dilma, eleita democraticamente, está sendo destituída por um golpe parlamentar. Esquecem de mencionar que os parlamentares, exatamente como a presidente, também foram democraticamente eleitos. Silenciam sobre o fato de nossa Constituição estar sendo cumprida à risca. Afirmam que o alegado golpe está sendo dado para fragilizar e destruir conquistas sociais. E por aí vai, o artigo é longo e irritante.

Sede do Partido Comunista Francês, Paris
O projeto é de Oscar Niemeyer. Lembra um misto de Senado Federal e Edifício Copan
Fico um tanto surpreendido com a ingenuidade de quem acredita nessa história de que a eternização da pobreza interessa aos poderosos. Aos políticos que se sustentam do voto dos miseráveis, certamente interessa a manutenção da pobreza. Já a industriais, a banqueiros, a comerciantes e a outros empreendedores, parece-me evidente que, quanto maior for o poder aquisitivo da população, mais felizes estarão.
Visão pessoal é livre. Que cada um acredite no que quiser.
Sem dúvida o caso do PCF é uma peculiaridade muito francesa de culto à tradição enraizada na cultura do país, mas, falta de acuidade analítica nunca foi um defeito dos franceses. Afirmar, porém, que, houve golpe contra o governo da presidente Dilma põe em dúvida o famoso cartesianismo em benefício de uma postura retrógrada e maniqueísta.
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