José Horta Manzano
Tudo indica que o risco oferecido pelo Brasil a investidores ‒ nacionais ou estrangeiros ‒ se esteja agravando. Importante agência de classificação acaba de rever sua apreciação. Considerando que a situação das finanças nacionais se deterioraram de alguns meses para cá, o instituto rebaixou a nota brasileira a um patamar mais próximo do fundo do poço.
Isso é mau porque importantes capitais ‒ cruciais para um país de baixa poupança interna ‒ tendem a migrar para outras plagas. Toda a mídia nacional captou o perigo. De ontem para hoje, o rebaixo da nota foi a manchete mais saliente em todos os jornais brasileiros.
Na imprensa estrangeira, no entanto, outro fato nacional ocupa espaço maior: o assassinato de turista argentina em Copacabana. Em inglês, francês, alemão, italiano ou espanhol, a notícia deu volta ao mundo.
O fato em si já é alarmante e comovente. Era uma turista estrangeira, pessoa de recursos limitados, cuja grande aspiração era conhecer o Rio. Enfrentou viagem de onze horas de ônibus desde sua recuada província argentina até São Paulo. Mais uma hora de ponte aérea e o antigo desejo se tornou realidade.
O sonho, no entanto, virou pesadelo quando energúmenos, no que se supõe fosse tentativa de assalto, trucidaram a moça a facadas. Estava a poucos metros do hotel Copacabana Palace, emblema da acolhida de nível internacional que o Brasil costumava oferecer.
Situação financeira evolui. Basta os analistas enxergarem uma luzinha no fim do túnel para que a nota de avaliação retorne a níveis mais comportados. O mundo das finanças sobe e desce, é gangorra cíclica, nenhum país tem garantia contra sobressaltos.
Já as incivilidades, a violência e a criminalidade não são cíclicas ‒ muito pelo contrário. São permanentes, constantes, progressivas, crescentes. Criam raízes cada dia mais profundas e resistentes sem que ninguém dê grande importância.
Brasileiros se desassossegam com a coincidência de epidemia de zika com os Jogos Olímpicos deste ano. Não é a melhor combinação de fatores, concordo. No entanto, há que lançar visão mais ampla.
Num futuro próximo, vacina terá sido encontrada contra essa doença. E o problema estará resolvido. Bem mais difícil será, desgraçadamente, encontrar vacina contra a criminalidade. É problema mais profundo que não se resolve botando grade e cadeado na frente de casa.