José Horta Manzano
Numerosos leitores me têm feito perguntas sobre a repercussão que estão tendo no exterior as demonstrações de descontentamento do povo brasileiro. Gostariam de saber se a mídia estrangeira está dando sinais de interesse pelo problema tupiniquim. A resposta é sim.
Em todas as décadas que já passei na Europa, não me lembro de ter visto notícias provenientes do Brasil permanecerem por tanto tempo na primeira página de jornais e na abertura de noticiosos de rádio e televisão.
Catástrofes naturais como enchentes e desmoronamento de encostas sempre rendem manchetes. Tragédias humanas como o incêndio de Santa Maria também. Mas depois de um ou dois dias vira-se a página. O que está acontecendo agora é diferente.
O Lula e seus cortesãos sempre foram encarados com um certo ar de comiseração. Eu diria que, fora das fronteiras nacionais e longe do Brasil de todos os dias, ele foi observado como o que realmente era: uma espécie de dom-quixote folclórico, sem poder, errático, nem sempre bem orientado. Mais ou menos como Chávez era visto pelo mundo ― inclusive pelos brasileiros. Chávez, pelo menos, aparecia sorridente nas fotos. O Lula, nem sempre.
Desta vez, como eu dizia, é diferente. O mundo todo entendeu que os protestos brasileiros não têm muito a ver com passagem de ônibus. Esse foi apenas o estopim. O mal é mais profundo. Os brasileiros não se sentem representados pelos que foram eleitos justamente para essa função. Daí a frustração e o insuportável sentimento de estarem sendo traídos.
Pode parecer incongruente, mas os estrangeiros entenderam a mensagem bem mais rapidamente que o governo brasileiro. O Planalto e outras vozes oficiais continuam se referindo aos «protestos contra o aumento do preço das passagens». É constrangedora cegueira. Ou, bem pior, é má-fé mesmo.
O jornal sueco Aftonbladet deu título bastante sugestivo a sua matéria: «Bakom den läckra ytan finns ett annat Brasilien», ou seja, «por debaixo da superfície saborosa, aparece um outro Brasil». Achei muito sugestivo.
Dou-lhes abaixo uma resenha do que está sendo publicado em alguns jornais estrangeiros estes dias.
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200 mil brasileiros concentram-se para evacuar cólera em mais de meia dúzia de cidades
South China Morning Post, Hong Kong
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Candidatar-se à copa de 2014 foi burrice do governo, imaginando que circo e pão (futebol e bolsa família) iriam manter o país de chuteiras aos seus pés em mais e mais eleições ao Planalto. O tiro saiu pela culatra. Bendita candidatura à sede da copa de 2014. Obrigado Lula por nos fazer acordar. Imagino que as próximas copas também serão usadas pelos países sede, para manifestações contra governos. A Fifa pode aguardar os manifestantes russos em 2018. Os brasileiros inauguraram uma fase de pesadelos na existência da Fifa, copa após copa.
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