Visão do exterior

José Horta Manzano

by Patrick Chappatte (1966-), desenhista suíço

A representação que os europeus se fazem das recentes eleições presidenciais brasileiras está sintetizada no traço de Patrick Chappatte, desenhista suíço.

A charge apareceu no New York Times dois dias atrás. O artista é colaborador permanente da grande mídia planetária. Desenha para o NYT, o alemão Der Spiegel, o suíço Le Temps, o francês Herald Tribune.

Esse negócio de direita e esquerda

José Horta Manzano

«O povo, de maneira geral, não entende esse negócio de direita e esquerda.»

Numa síntese feliz, doutor Marcio França, governador em exercício de São Paulo, matou o coelho. A entrevista saiu hoje no Estadão. Tem razão, o doutor. Enquanto em outras terras é primordial colar na testa de cada político a etiqueta do campo a que pertence, no Brasil a coisa não é tão rigorosa. Nosso panorama pluripartidário é menos rígido, bem mais ameboide.

Entre nós, o conceito de fidelidade partidária passa ao largo do Parlamento. Político que, no percurso ‘profissional’, já tiver mudado três, quatro ou cinco vezes de partido não será menos considerado que outro que tiver permanecido fiel ao primeiro amor. A fidelidade não agrega valor ao currículo de nosso homem público.

Uma foto icônica tirada faz uns cinco anos mostra doutor Haddad, um dos atuais pretendentes à Presidência, ladeado por Lula da Silva e por doutor Paulo Maluf. Sabe-se que o Lula é o símbolo maior da ‘esquerda’ brasileira, tal como a torcida caviar a enxerga. Por seu lado, doutor Maluf é, desde os anos 1970, a encarnação da adesão à ditadura, aos generais, a tudo o que, em qualquer cartilha, constitui a ‘direita’. Assim mesmo, poucos se escandalizaram com a imagem, tanto que doutor Haddad foi eleito, logo em seguida, prefeito da maior capital do País.

Tenho constatado, nestes dias que se sucedem ao primeiro turno das eleições brasileiras, grande preocupação por parte da mídia europeia. Artigos de fundo, mesas-redondas, entrevistas, debates se organizam em torno do resultado do voto de domingo passado. É unânime a opinião de que uma «maré conservadora» está lambendo as praias do país e ameaça tragar o território inteiro. É voz corrente que o Brasil se inscreve na crescente lista de países que se deixam enfeitiçar pelo canto de sereia da extrema-direita. Doutor Bolsonaro vem sendo comparado à francesa Marine Le Pen, ao italiano Matteo Salvini e até ao perigoso Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.

Os europeus andam assustados com o crescimento de movimentos identitários, separatistas e xenófobos que pipocam por toda parte. Catalunha, Países Vascos, Itália do norte, Bélgica de fala holandesa, Escócia são regiões onde boa parte da população anseia pela independência. Movimentos independentistas somados a governos de extrema-direita compõem coquetel explosivo. Daí a preocupação que muitos sentem ao ver o Brasil descambar ‒ na análise deles ‒ para a perigosa ladeira do extremismo.

Enganam-se os que analisam dessa maneira. Se tendências extremistas há entre os dois finalistas de nossa corrida eleitoral, são mais marcadas no campo de doutor Haddad que no de doutor Bolsonaro. Para convencer-se, basta dar uma espiada no programa de governo preconizado pelo Partido dos Trabalhadores, uma proposta autoritária, estatizante, corporativista, excludente, racialista, liberticida, retrógrada. A rechaçar absolutamente.

Mas não tem jeito. Cada um enxerga o mundo através dos próprios óculos. É perda de tempo tentar ensinar a um europeu que o Brasil não é exatamente como ele imagina. E vamos em frente, que atrás vem gente.