José Horta Manzano
Apesar de se enquadrar perfeitamente no Zeitgeist — nos ventos que sopram atualmente sobre a humanidade — a consciência ecológica não traz no seu bojo todo o lastro necessário para assumir o comando de um país.
É importante estar consciente dos riscos que corremos. Perturbações climáticas, secas, enchentes, poluição das águas, desertificação, uso abusivo de pesticidas, alimentação animal inapropriada, o rosário de perigos é extenso. É função dos ecologistas alertar governos, autoridades e povo.
De fato, a cada ano que passa, pipocam novos partidos preocupados com a preservação da saúde do planeta e de seus habitantes. É preciso tomar consciência de que os recursos naturais são finitos, a contaminação da atmosfera está ocorrendo em ritmo acelerado, a desertificação ganha terreno em muitos cantos do globo.
Essas ideias, conquanto sejam essenciais para a conservação da vida, não constituem uma ideologia em si, uma linha de governo. Eis a razão pela qual as agrupações ecologistas — ou verdes, como são chamadas em certos lugares — são obrigadas a aliar-se a partidos politicamente fortes e bem implantados.
Na França e também no resto da Europa, os verdes tendem a aliar-se aos socialistas. Em princípio, poderiam optar por aproximar-se da direita. Nada impede que ainda venham a fazê-lo no futuro.
O peso do eleitorado verde ainda não conferiu aos movimentos ecologistas massa crítica suficiente para vencerem eleições majoritárias — a presidência da República, por exemplo. No entanto, os eleitores sensíveis a temas de proteção da natureza não deixam de formar uma minoria cada vez mais importante. Todos os governos fazem o possível para agradar esse grupo de cidadãos. Ou, pelo menos, para não os desgostar.
A medida foi decidida já faz alguns anos, mas só entra em vigor agora. A partir deste primeiro de outubro, as empresas de transporte francesas estão obrigadas a informar ao viajante a «empreinte carbone» correspondente ao percurso.
Francês inventa palavra para tudo. Às vezes fica difícil traduzir. Eu sugeriria «rastro de carbono», ou seja, a quantidade teórica de carbono que o viajante «despejará» na atmosfera em razão daquele percurso. Conto-lhes o exemplo dado hoje pela Rádio France-info, aquela que dá notícias 24h por dia, uma espécie de CBN francesa. Antes mesmo de comprar sua passagem, o viajante poderá tomar conhecimento da quantidade de CO2 que será lançada na atmosfera. Para uma viagem de trem de Paris a Berlim, uma pessoa despeja 12kg de carbono na atmosfera. Se percorrer o mesmo trecho de avião, rejeitará 121kg. Se preferir ir de automóvel, serão 145kg.
Essa informação constará obrigatoriamente no site da empresa transportadora e também no bilhete de passagem. Parece-me uma excelente iniciativa. Não faz mal a ninguém e vai incitando as novas gerações a entender que a natureza é frágil.
Quem cuida, tem. Se não cuidarmos, vamos legar a nossos descendentes um mundo em estado calamitoso.