O preço da gasolina

José Horta Manzano

O Washington Post desta sexta-feira traz um infográfico que compara o preço da gasolina nas 15 maiores economias do globo. Os países estão divididos em três categorias de renda: alta, média superior e média inferior. O Brasil está classificado no grupo do meio.

O cálculo foi feito com base num modelo Toyota Camry de 2010. Os desenhinhos mostram a distância que o veículo percorreria com US$ 40 de gasolina.

O automobilista leva vida apertada na Europa. Na Inglaterra, França, Itália e Espanha, não vai muito longe com os quarenta dólares no tanque. Nos EUA e no Japão, roda bem mais folgado.

As distorções são mais significativas nos países de renda média. Chineses e brasileiros pagam um preço bem próximo do americano, enquanto mexicanos e especialmente russos rodam mais quilômetros com menor gasto.

Já guiar automóvel na Índia não é pra qualquer um. A gasolina lá é vendida ao preço brasileiro, mas o cidadão comum não tem condições financeiras de encarar. Carro é privilégio de gente abastada.

O automobilista brasileiro reclama com razão do preço da gasolina. O infográfico compara preço com preço, sem levar em conta a renda média dos cidadãos de cada país. O fato é que os salários brasileiros são bastante inferiores aos americanos. Portanto, embora a gasolina no Brasil custe aproximadamente o mesmo que nos Estados Unidos, pesa muito mais no bolso do automobilista brasileiro.

Pra finalizar, constata-se que o país mais atraente para o automobilista é a Rússia. Com os mesmos quarenta dólares, os russos podem dar a volta no rodoanel de Moscou zilhentas vezes e ainda vai sobrar combustível. Só que… lá eles têm Putin, o que quebra o encanto na hora.

No fundo, é melhor ir aguentando o capitão. Falta pouco.

O lado bom

José Horta Manzano

«À quelque chose, malheur est bon», dizem os franceses – mesmo o pior dos desastres tem seu lado bom.

1001 noites 1Tem presidente da República sendo acusado de crime de responsabilidade(1). A expressão, de aparência inofensiva, dá nome a um dos piores crimes que alta autoridade possa cometer. Comprovada a denúncia, o acusado será punido com perda do mandato.

Tem gente graúda sendo presa, aos montes. Para escapar a condenação pesada, tem acusado implorando lhe seja concedido o benefício da delação premiada.

1001 noites 2Tem preso propondo devolver dezenas ou centenas de milhões de dinheiro roubado, numa comprovação evidente de que pilhagem gigantesca houve. Tem gente sem dormir, como disse um senador da República.

Tem dezenas de políticos fazendo novena pro santo das causas perdidas – São Judas Tadeu ou Santo Expedito, ao gosto do devoto. É capaz de ser tarde demais.

A Petrobrás, que tinha levado sessenta longos anos para firmar imagem mundial de solidez e seriedade, voltou rapidamente a ser vista como empresinha de segunda classe.

1001 noites 3Aquela que já foi a maior companhia nacional(2), aquela que tem Brasil até no nome, arrasta, em sua derrocada, a imagem do País. A notícia de que o próprio governo brasileiro se servia nos cofres da estatal reforça a reprovação que pesa sobre nós desde sempre: é prova definitiva de que o Brasil, apesar da grandiloquente conversa fiada oficial, continua empacado no estágio de republiqueta de bananas.

Arca 1Mas nem tudo está perdido. Alguém se lembra do pré-sal? Aquela fa-bu-lo-sa descoberta que prometia garantir o aprovisionamento energético do país por um século? Aquele achado que prometia transformar o Lula em xeique das 1001 noites e todos os brasileiros em milionários?

Pois é. Se realmente existe petróleo debaixo daquela montanha de sal e se sua explotação for um dia possível, não é na semana que vem que o óleo começará a jorrar. E isso é excelente notícia por dois motivos.

Primeiramente, porque o petróleo é material precioso demais para ser desperdiçado como combustível para automóveis. É riqueza finita, não renovável, e vai acabar logo, logo. Sua queima polui nossa atmosfera. Daqui a duzentos anos, quando todas as reservas se tiverem esgotado, os bisnetos de nossos bisnetos vão-nos agradecer por termos conservado o precioso estoque. Há de servir pra finalidade mais útil que virar gasolina.

Prisioneiro 3Segundamente – e é o ponto mais importante – imagine o distinto leitor que, por um descuido da Providência, o processo de contratação de empreiteiros para explorar o pré-sal já estivesse em curso. A gatunagem estaria provocando desfalque duas, três ou quatro vezes mais importante. Os salafrários estariam afanando não bilhões, mas, talvez, trilhões!

Nem sempre é fácil, mas, com boa vontade, sempre se encontra um lado bom.

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(1) Editorial do Estadão de 16 nov° 2014 vê crime de responsabilidade na atitude dos dois últimos presidentes da República.

(2) Artigo da Folha de São Paulo de 15 nov° 2014 informa que, em valor na Bolsa, a Petrobrás caiu para o 3° lugar atrás de Ambev e Itaú.